3.7.16

Do lado de lá do anonimato

Como é que se pode considerar interessante uma história sem enredo, sem definição das circunstâncias?
Não basta partir do pressuposto de que o leitor se interessa pela referência para que a história ganhe consistência.
Por aquilo que vou observando, a história acontece quando se espera agitadamente por um olhar, uma atenção, um autógrafo do ídolo de momento, para que os possamos partilhar numa rede social.
Afinal, a história acontece quando, momentaneamente, passamos a ser vistos do lado de lá do nosso anonimato.
Na verdade, o que custa é não existir aos olhos dos outros. Pelo menos, assim parece! 

2.7.16

O interessante nesta história...

Os peixinhos da Quinta das Conchas estão demasiado inchados. Não creio que estejamos na presença de nenhuma variedade de peixe-balão, o que, de si, também seria preocupante. Portanto, os pobrezinhos devem estar a engolir demasiadas bactérias, não tendo forma de se defender...

Felizmente, o nosso presidente Marcelo ainda dispõe de livre-arbítrio, tendo sabido desfazer-se do Mercedes de 129.000 € que o ex-presidente Cavaco lhe ofertou. Para quem prezava a austeridade, é obra!
O interessante nesta história é que o peixinho foi parar às mãos do primeiro Costa que não encontrou forma de se livrar da bactéria... talvez, porque, a seu tempo, não tenha cuidado devidamente dos lagos da Quinta das Conchas...
(A realidade deve ser muito diferente, mas aqui fica a minha interpretação, esperando que ela esteja errada...)

1.7.16

Reações

Pedir para explicar uma reação pode tornar-se um bico-de-obra. Há situações em que a reação não tem explicação possível.
Ainda se alguém  pedisse para indicar os sinais dessa reação.... Por exemplo, a ex-ministra das Finanças insiste em reagir à política económica e financeira do atual governo... O melhor seria estar calada, mas não, ela prefere falar sem dizer nada, e fá-lo num tom birrento e infantil de criancinha mimada...
A menina bem poderia aprender com o Cristiano Ronaldo que não reage ao falhanço no Portugal-Polónia, pois, no íntimo, nem ele próprio compreende por que motivo o automatismo falhou...
Um outro mau exemplo é o do João Soares que insiste em reagir, no caso, à condenação do Macário Correia -  pretensa vítima das patranhas da Justiça...

30.6.16

A inocência do diretor do Museu da Presidência

«O Diretor do Museu da Presidência da República, Diogo Gaspar, é suspeito de levar para a sua residência de férias, no Alentejo, quadros e estátuas da instituição.»

Estou convencido de que o Diretor da Museu da Presidência, Diogo Gaspar,  levava as obras de arte para casa para as poder estudar sossegadamente. Os ex-presidentes eram muito espalhafatosos (Sampaio e Cavaco) e estavam sempre a interpelá-lo sobre os temas, a perspetiva, as cores, os materiais, o claro-escuro, a adequação ao lugar...
Se forem chamados a depor, Sampaio e Cavaco darão certamente testemunho dos fins de tarde, em que Diogo Gaspar, depois do apurado estudo provinciano, lhes satisfez minuciosamente a curiosidade.
Só esse zelo e abnegação podem explicar a necessidade sentida pelos ex-presidentes da República de o condecorar...

A luz verde do senhor Wolfgang Schäuble

O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, declarou esta quarta-feira que Portugal precisa e deve pedir um novo programa de ajustamento. Mais, acrescenta o governante alemão, se o fizer terá 'luz verde'.

Este alemão, apesar do recuo, disse o que a Alemanha quer de Portugal. Por mais que os nossos governantes se contorçam nas cadeiras ou inventem soluções para "esconder" a dívida dos bancos, das empresas, do estado e dos particulares, o caminho está à vista de todos... 

Penso que deveríamos levar a sério o conselho de Wolfgang Schäuble, e dizer-lhe que, em Portugal, "luz" e "verde" são termos incompatíveis... 
O senhor Wolfgang Schäuble, para além, de deixar de fingir que se precipitou, o melhor que tem a fazer é dar um pouco mais de atenção à cultura portuguesa, até porque nela encontrará muita da prepotência que o caracteriza.

29.6.16

Um exemplo de ironia: a excecionalidade da retenção

O Ministério da Educação defendeu que cabe às escolas decidir se um aluno com muitas negativas passa ou não de ano, no âmbito do caráter de excecionalidade das retenções previsto na lei, interpretado de forma livre pelos estabelecimentos.

Leio a nota do ME, tendo no horizonte a recomendação do FMI de que Portugal necessita de reduzir o número de professores, e eu concordo não com o ME mas com o FMI...
Há alunos que transitam com 7 classificações negativas e outros não. Transitam para onde? 
Pois, deve ser para o ano seguinte. E o que é que fazem no ano seguinte? Dão cabo da turma em que são inseridos e fazem perder a paciência ao Diretor de Turma, sem esquecer os pobres dos professores, às voltas com as chamadas estratégias de recuperação e / ou de enriquecimento. 
Muito da depressão dos docentes tem origem nesta trapalhada, em que muitos chutam para a frente de qualquer modo, porque é considerado incorreto reter o aluno ou, em alternativa, criar turmas de nível.
O insucesso não é apenas resultado da retenção. Em muitos casos, ele é fruto da transição. Há, por aí, muito sucesso individual que tem contribuído para o atraso estrutural deste país.
Não consigo entender por que motivo não são criadas turmas de nível nas disciplinas estruturantes, como Português, Matemática, Língua Estrangeira, História, Filosofia... com os recursos docentes e pedagógicos mais adequados.
Sim, mas para isso, o ME tem de se instalar nas escolas, averiguar o que lá se passa e disponibilizar os recursos financeiros necessários.

Nota final: a figura da autonomia pedagógica é, neste caso, uma boa desculpa para a (ir)responsabilidade do ME.


28.6.16

A ironia não é coisa séria!

Eu raramente leio a revista Visão. Não por falta de visão, mas por falta do vil metal. No entanto, quando o faço, consulto sempre a ficha técnica para verificar se o meu antigo aluno, Filipe Luís, por lá continua. Lembro-me dele, porque integrava uma turma do 9º ano (Escola Secundária de Santa Maria - Sintra) de boa cepa - vários alunos mostravam-se competentes no exercício da escrita, tendo já iniciativa jornalística e radiofónica...
Esta memória, creio que está correta, mas pode ser o resultado de "um desmiolado" capaz de "vender a própria mãe para dispor de acesso livre ao Estado" ou, em alternativa, uma daquelas "pessoas de bem que se servem dos gays para se promoverem". Esta classificação, um pouco contraditória, tem autoria: o sociólogo Alberto Gonçalves.
Quem, de vez em quando, lê os meus desabafos, sabe que eu tenho especial apreço por este sociólogo, que eu costumo encontrar ao domingo no Diário de Notícias. A verdade é que não esperava encontrá-lo na Visão, mas, afinal, ando mal aconselhado - ele deve estar um pouco por toda a parte, a destilar o ódio que nutre pelo PS...
Desta vez, o principal alvo é a sua direita que anda cega, o que me leva a pensar, provavelmente, de forma incongruente, que a ironia é um tropo incompreendido pela direita. A ironia não é coisa séria!
E curiosamente lembro-me que sempre me afligi quando os meus alunos não conseguiam perceber se aquilo que eu lhes dizia "era a sério ou a brincar"... 

(Visão, 8 junho 2016, última página.)