9.11.16

A consequência

«Quem semeia ventos, colhe tempestades.» provérbio

Acordei cedo e esbarrei na incerteza.
No entanto, o resultado já não oferecia dúvida.
E pensei: - O que é que irei dizer aos meus jovens alunos sobre o futuro determinado por estas eleições americanas?

De súbito, o provérbio esclareceu-me a resposta. Donald Trump abateu-se sobre todos nós como uma tempestade. Esta, porém, mais não é do que a consequência. De nada serve querer, agora, exorcizá-la.  
Porquê?
Porque não há consequência sem causa, ou seja, o problema foi criado por todos aqueles que, nas últimas décadas, soltaram os ventos da desigualdade e da iliteracia... ( as dinastias, as oligarquias, as plutocracias...)
Por enquanto, vou esperar que depois da tempestade surja a bonança... e que não seja necessário elevar uma forca em cada praça...

8.11.16

As eleições nos Estados Unidos

A imprudência é um comportamento que, creio, deve ser imputado à ignorância. Ora, nos países mais ricos, dominados pelas elites mais esclarecidas, servidos por tecnologias de ponta e por armamento cada vez mais sofisticado e destruidor, há cada vez mais pobres cujo acesso à escola não vai além dos rudimentos necessários à sua identificação.
Identificação que não identidade! Estes ostracizados têm em comum o desprezo absoluto pelo cosmopolitismo e pelo liberalismo, pois este encontrou meios de os marginalizar, amputando a liberdade a todos prometida...  Liberdade, em termos de sucesso individual no seio da comunidade, apenas reservada aos acumuladores de riqueza.
Aquilo a que estamos a assistir nos Estados Unidos é à destruição da democracia através da subversão total do conceito de liberdade.
Depois do acentuar das desigualdades, do colapso das doutrinas da fraternidade, laicas ou religiosas, entrámos num tempo em que, através do voto, a imprudência pode tornar-se um instrumento de terror e de caos.
A questão já não está em saber quem ganha as eleições, mas em perceber se a partir de amanhã restará de pé algum pilar do sistema democrático. Ou seja, se não iremos assistir ao enterro dos pais fundadores...   

7.11.16

Da imprudência

«Na sociedade estado-unidense reina a liberdade de culto e não há religião de Estado. Porém, com os que não professam nenhuma religião essa tolerância diminui. Porque a sociedade é fundamentalmente e esmagadoramente religiosa (desta ou daquela Igreja, desta ou daquela seita). Daí que, se um negro pode ser presidente dos Estados Unidos, um ateu ou um agnóstico... pomos dúvidas.»  José Fernandes Fafe (2010), A Colonização Portuguesa e a Emergência do Brasil, pág. 63, Temas e Debates / Círculo de Leitores.

Se, amanhã, Donald Trump ganhar as eleições, as fronteiras elevar-se-ão no interior da União. O grande império americano chegará ao fim, à semelhança do que aconteceu com a URSS.
E nós, ficaremos à mercê dos ventos da discórdia...
Por hoje, resta-me a esperança de que José Fernandes Fafe tenha razão, pois não conheço o Deus de Trump, embora pressinta que os fundamentalismos o sirvam fielmente.

6.11.16

O pai foi em viagem de negócios

Emir Kusturica nasceu a 24 de novembro de 1954, já no final do período informbiro (1948-1955), tempo em que Tito rompeu com Staline... A palavra informbiro designa o modo pelo qual os Jugoslavos se referiam ao Cominform, uma abreviação para "Secretariado  de Informações".
É dessa época que Kusturica extrai o argumento do filme "Otac na Sluzbenom Putu"  (O pai foi em viagem de negócios), realizado em 1985.
Quem nos conta a história é o pequeno Malik que, de início, acredita que a ausência do pai se deve a negócios, mas que, com o tempo, perceberá que a razão é outra. O pai, apesar de deportado pela polícia política ... foi vítima de cupidez.
Malik conta-nos, assim, a odisseia da família num cenário político de traição e convenção, em que o dinheiro acabará por ser o único valor.

5.11.16

Afinal, eu não sou geek!

Chamada de “Davos para Geeks”, a Web Summit realiza-se entre 7 e 10 de novembro no Meo Arena e Feira Internacional de Lisboa (FIL), e traz consigo vários eventos paralelos que juntarão os mais institucionais e os mais informais, em momentos de discussão, mas também de descontração, como a Night Summit e os Pub Crawls ou a Surf Summit, que arranca hoje na Ericeira.
Os bilhetes para a Web Summit custavam 900 euros cada um. Para jovens entre 16 e 23 anos, a organização vendeu ainda milhares de bilhetes promocionais a nove euros.

Afinal, eu não sou 'geek'! Estou fora do padrão de peculiaridade ou de excentricidade  que carateriza estas 'pessoas'. Tenho bem mais de 23 anos e o que ganho não me permite adquirir um bilhete por 900 euros para este evento... Provavelmente, esta minha ausência acabará por significar que eu sou qualquer coisa como 'uma não pessoa', fazendo, desde já, parte da 'peste grisalha', que não merece qualquer respeito... até porque na Web Summit pouco restará da língua portuguesa.
Há, no entanto, algo que eu posso assegurar é que, de 7 a 10 de novembro, ninguém me apanha no Parque das Nações...  

Geek (pronúncia no IPA: [ˈgiːk]) é um anglicismo e uma gíria inglesa que se refere a pessoas peculiares ou excêntricas, fãs de tecnologia, eletrônica, jogos ...

4.11.16

Ser diretivo

Depois de tanto tempo a desconstruir, decidi que, doravante, serei muito mais diretivo...
O que é que isto significa?
É simples! A construção do 'novo' círculo esgotou-se - a liberdade extravasou de tal modo que a comunicação definhou...
O anseio voltou a ser de clausura - eliminação da razão e aposta em tarefas que matem qualquer tempo de partilha construtiva...
É como se a consciência se tivesse esfumado ou a ciência tivesse perdido o sentido da sua edificação.

Ser diretivo é levar a cabo um processo de robotização.

3.11.16

Operação Zeus

Vivir a la ocasión. El governar, el discurrir, todo ha de ser al caso. Querer quando se puede, que la sazón y el tiempo a nadie aguardan. Baltasar Gracian, Oráculo manual y arte de prudencia.

Tudo leva a crer que chegámos a um ponto em que a ocasião faz o ladrão. Não há dia em que não decorra uma investigação a crimes de corrupção ativa e passiva. Desta vez, está em curso 'a operação Zeus'. Pobre Zeus!
Lá vai o tempo em que a honestidade (a honra) determinava os limites à ação humana, exigindo uma resposta rápida e adequada a cada situação, e na medida do saber e do poder de cada indivíduo.
Desprezados o saber e a honestidade, cada um deita a mão ao que pode, uns de forma discreta, outros à tripa forra.