10.11.17

Os psicopatas gostam de escrever

«Os psicopatas denunciam mais facilmente o seu delírio, escrevendo do que falandoLuís Cebola, Psiquiatria Clínica e Forense, pág. 146


Para demonstrar o carácter esquizofrénico da obra de Fernando Pessoa, o monárquico Mário Saraiva (O Caso Clínico...) arranca este argumento às páginas de Luís Cebola, só que basta uma consulta do verbete da Wikipédia para deduzir que dificilmente o antigo diretor clínico da Casa do Telhal (1911-1948) subscreveria a ideia de que Fernando Pessoa fosse um psicopata...

De qualquer modo, fico avisado. Vou escrever cada vez menos. Se não cumprir é porque a psicopatia tomou conta da mim... Ainda se escrevesse alguma coisa que se aproveitasse!

9.11.17

Relíquias

Nem crucifixo, nem presidente do conselho, nem presidente da república...
Apenas uma secretária e um estrado devorados pelo caruncho... até a cadeira foi substituída... relíquias...
Ora relíquias só nas igrejas e nem em todas!
Apenas um argumento em defesa da preservação do mobiliário acarinhado pelo Estado Novo: quando subo ao estrado,  a minha visão torna-se mais abrangente e mais disciplinadora, para não dizer autoritária... a nostalgia da cátedra...

8.11.17

O essencial

«O essencial é saber ver; 
Saber ver sem estar a pensar;
Saber ver quando se vê.
E nem sequer pensar quando se vê,
Nem ver quando se pensa.»
 Alberto Caeiro


Espero que ninguém se tenha precipitado e concluído que eu possa considerar Fernando Pessoa como um bluff.
Se assim fosse, nós também o seríamos, porque, no essencial, o homem pessoano é uma representação perfeita da deriva a que o homem do século XX se viu condenado ao querer romper com a velha ordem, muito por força do progresso científico e tecnológico...
Há, por seu turno, uma outra questão que mereceria ser analisada: o impacto da poesia de Fernando Pessoa na formação pessoal dos adolescentes.

7.11.17

"É imperioso banir da Cultura portuguesa o bluff Fernando Pessoa"

«Para a dignidade da Cultura portuguesa, é imperioso banir da literatura o bluff Fernando Pessoa e remeter o poeta ao seu real valor, que o tem e lhe basta.» Mário Saraiva, O Caso Clínico de Fernando Pessoa, pág, 164, Universitária editora

Não fosse um avô editor ter tido o cuidado de me fazer chegar às mãos tão precioso estudo, e eu teria continuado a ver em Fernando Pessoa a expressão de um mundo ávido por compreender a inquietação que o minava, depois que o Positivismo se revelara incapaz de determinar a Lei que tudo regeria... Num momento em que o Todo era definido como mais do que a soma das partes, Fernando Pessoa, num esforço titânico, desenhava caminhos que ia percorrendo, de preferência em simultâneo, embora soubesse desde início que o resultado o deixaria num estado de frustração que só uma boa dose de autodomínio lhe atenuaria a impotência. A impotência do ser.
E, assim, os caminhos criados são veredas alternativas ao desespero da humanidade. A arte como alternativa à impotência do ser... e não a expressão da impotência do homem que sofreria de hebefrenia mista...
(...)
Doravante, vejo-me obrigado a desconfiar se a leitura da obra de pessoana não será um veneno, irresponsavelmente, dado a ingerir à juventude portuguesa, contribuindo desse modo para o definitivo enterro da alma lusa...

Nota: A esquizofrenia hebefrénica é uma forma de esquizofrenia caracterizada pela presença proeminente de uma perturbação dos afetos. As ideias delirantes e as alucinações são fugazes e fragmentárias; o comportamento é irresponsável e imprevisível. Existem frequentemente maneirismos. O afeto é superficial e inapropriado. O pensamento é desorganizado; e o discurso, incoerente. Há uma tendência ao isolamento social. Geralmente, o prognóstico é desfavorável devido ao rápido desenvolvimento de sintomas "negativos", particularmente um embotamento do afeto perda da volição. (Wikipédia)

6.11.17

Não queremos obedecer...

Não queremos obedecer, mas somos treinados para deixar de pensar. Agora, tornou-se moda definir aprendizagens essenciais... e lá vamos nós identificar conteúdos  transversais, desenhar estratégias jesuíticas encorpadas de iniciativa e de criatividade... recriar o mundo.
Podemos não saber que um jesuíta é um cristão e que, como tal, serve uma doutrina milenar que nos mata a razão e nos transforma em servos obedientes de um deus ausente... Já nem sequer somos capazes de olhar para a palavra e identificar a raiz ...
É como aquelas árvores que são apenas troncos suspensos do fungo que as corrói...

5.11.17

O outono do inverno

Se o dia de hoje fosse diferente dos anteriores é que seria de estranhar. Voltou o Sol, embora mais tímido e cá em casa abriu a época oficial de inverno. 
Ricardo Reis ensina que, na verdade, a estação é o outono do inverno, mas esse não passa de um esquizoide que, apesar de recusar o passado e o futuro, se vestiu de uma cultura vetusta e cansativa - Para quê aprender grego e latim, estudar os clássicos, imitar Anacreonte, Píndaro e Horácio, e sobretudo, apostar num epicurismo triste e decadente?
O melhor mesmo é o silêncio, mas não sei o que é feito da moira Átropos... O óbolo já está preparado...

4.11.17

Na arca de Fernando Pessoa mora um homem menor

«Se pretendêssemos terminar com uma frase a propósito, diríamos que a heteronímia de Fernando Pessoa se condensa numa palavra: esquizofrenia.»
(...) 
«Todavia que as extremas do campo das letras, e do campo da medicina sejam respeitadas nas suas legitimidades. Esta condição é absolutamente imprescindível para a leitura correta e inteligente dos escritos pessoanos
                        Mário Saraiva, O caso clínico de Fernando Pessoa, Universitária editora, 1990

De acordo com Mário Saraiva, a arca deveria ter ficado por abrir... porque lá dentro se encontra um homem menor, paranoico e esquizofrénico
De acordo com Mário Saraiva, só Mensagem dignifica o autor.
De acordo com Mário Saraiva, os  estudiosos que proponham qualquer interpretação da obra que não leve em conta a demência, a despersonalização esquizofrénica de Fernando Pessoa, não são pessoas sérias...
Eu, por mim, já proibi os meus alunos de irem além da interpretação dos textos, esburgando-a de qualquer avaliação clínica do Poeta... Caso contrário, proponho que se retire a Odisseia do cânone ocidental, pois nada sei de Homero...