9.12.18

Um fantasma apressado

Moscavide
Os peixinhos não sabem gramática, mas têm riscas. Têm riscas e não vivem na penitenciária…Viajam, sem rodilha, na cabeça de um fantasma apressado, sob o olhar envergonhado e surpreendido de um mirone azulado..
Eu que penso que sei gramática, não tenho riscas, mas vivo apresado com um dicionário sempre ao lado… Já não viajo… e sinto-me a todo o momento acossado pela «vossa palidez romântica e lunar», na intuição de Cesário… que, nele, era mais uma forma de dedução…
Os peixinhos não precisam de ler o caminho ou leem, apesar de desconhecerem o que é a leitura, e seguem adiante na cabeça de um fantasma apressado…
E depois há uma outra presença no mural que o peixinho parece não querer ver. Talvez que eu esteja atrasado… mais valia viajar, sem rodilha, na cabeça do fantasma apressado.

8.12.18

Afunilado

O título de hoje parece-me ousado, mas estou com a sensação de me ter transformado num funil que, meio sedimentado, soluça a insensatez juvenil dos meus interlocutores que acreditam que o futuro passa bem sem a leitura…
Ler é, para eles, uma atividade antiquada de quem não tinha mais nada para fazer - era definitivamente uma forma de passar o tempo. Ora hoje há outras formas mais 'pró-ativas' de o fazer, mais dinâmicas, mais interativas ou, até, mais autofágicas.
Numa certa perspetiva, da leitura só se aproveita o VER... a imagem, pois a ideia aprisiona…
Contudo, ainda há exceções, com a particularidade de escreverem razoavelmente, de terem uma ou outra ideia…

7.12.18

A lupa revisionista

Para quê dar o nome de um escritor a um aeroporto? No caso, o do poeta Pablo Neruda, prémio nobel em 1971.
Por seu turno, as feministas chilenas pretendem que o aeroporto de Santiago seja batizado com o nome da escritora Gabriela Mistral, prémio nobel em 1945...
Argumento: Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto (Pablo Neruda), o homem, terá desrespeitado a dignidade das mulheres…
Compreendo o argumento e condeno a prática, mas creio que, para o bem da poesia, o melhor seria deixar os poetas de fora desta mania de batizar aeroportos, aviões, barcos, praças, ruas e vielas… 
Afinal, o que é que se espera de um poeta? Versos…

6.12.18

O alcance das palavras

O cuco do Freixial
-Marido cuco me levades
e mais duas lousas.(Inês Pereira)
- Pois assi se fazem as cousas. (Pêro Marques)

Traído, insultado e abusado, Pêro não compreende o alcance das palavras da fogosa esposa…
De que serve o estudo? perguntaria Cesário…
De nada, pois, mesmo se incipiente, a memória o apaga… delita…

5.12.18

Verdade ou mentira?

A ser verdade, o melhor é não trabalhar… Afinal, uma boa parte dos impostos é aplicada em quem não trabalha. 
A discrepância francesa não é diferente da portuguesa. Os efeitos começam a sentir-se na radicalização social… Em 2019 se verá!

4.12.18

A literatura e a cidadania

«A literatura não existe para educar o Homem a ser cidadão, a menos que o eduque para cidadão do mundo - a única cidadania decente que hoje existe.» Jorge de Sena, O Romantismo, 1966

Perante o fastio do aluno e, sobretudo, a desvalorização da obra literária, pouco tenho a acrescentar… Temo, todavia, que a atual educação literária esteja a apostar, mais uma vez, no nacionalismo e nos restos do imperialismo cultural, isto para aqueles que continuam a ver na literatura um manual identitário…
No caso português, se excetuarmos alguma ousadia do 'projeto de leitura', o corpus literário não escapa ao narcisismo nacionalista.
De qualquer modo querer educar as novas gerações sem 'formar' os professores é infrutífero, pois estes defendem-se aplicando os modelos do passado.
Infelizmente, apesar de terem passado muitos anos, Jorge de Sena continua a ter razão… e os apóstolos da cidadania local proliferam...

3.12.18

No aproveitar é que está o ganho!

Considere-se a instrução, correspondente ao I Grupo, Parte III, de uma prova de avaliação de Português, 12º ano:
   -  Produza um texto expositivo sobre o modo como o heterónimo Ricardo Reis recomenda que vivamos, considerando as consequências dessa opção.
Quer saber como é que o aluno resolveu o problema colocado no Teste? Procure em https://esjapportugues12.blogs.sapo.pt/1394.html
      Quadro síntese-Ricardo Reis
Tenha um smartphone ou um iphone à mão, pesquise, copie, cole, modificando um ou outro conector… E já está!
Lá dizia Camilo Pessanha:
Eu vi a luz em um país perdido.
A minha alma é lânguida e inerme.
O! Quem pudesse deslizar sem ruído!
No chão sumir-se, como faz um verme… 
(INSCRIÇÃO)