22.7.19

Em defesa dos bombeiros



Não falta combustível, como agora se diz, o que falta são acessos que permitam a rápida deslocação dos carros de bombeiros.
No caso concreto, para aceder a este terreno, necessito de fazer mais de 500 metros a pé… 
Dizem os autarcas e os populares que os bombeiros chegam tarde. Do povo, compreendo a queixa, agora dos presidentes de junta de freguesia ou da câmara, censuro a atitude, porque uma das suas atribuições é precisamente abrir caminhos onde sejam necessários. Ou será que estou enganado?

21.7.19

Para quê o rabisco?

Tudo o que escrevo é inútil. Para quê, então, o rabisco mais ou menos quotidiano?
No fundo, é um pouco como no tempo pós-vindima - há sempre alguém que dá a volta à vinha, não tanto porque tenha fome, mas porque o esgalho esquecido se torna guloso…
O que me leva a pensar que escrever é do âmbito da gulodice e não da utilidade, pelo menos, na aceção anglo-saxónica.

O que a seguir vou rabiscar é inútil, porém não o vou calar. 
Alguns dos meus vizinhos homens são humanos como eu, só que vestem túnicas, uns, brancas, outros, acinzentadas. Deixam crescer as barbas, como eu, mas muito mais do que eu (ainda não percebi porquê). Calçam sandálias, poupando nas peúgas…, e deslocam-se em mercedes, volvos… não os vislumbro nos transportes públicos. Cruzamo-nos uma ou duas vezes por dia e raramente nos saudamos. 
Detesto-me quando penso que eles são árabes, muçulmanos, magrebinos, estrangeiros, ricos ou pobres, simpáticos ou antipáticos…  O que eu gostaria era de conhecer o nome próprio de cada um…

20.7.19

Por entre aparas

No geral, as borrachas, que utilizo, sujam mais do que apagam. O primeiro ato é, assim, de limpeza para que possa eliminar o que não convém, embora a conveniência possa ser problema alheio.
- Vá lá, meu menino, passa a limpo que fica melhor!
Ser cortês é isso - aprender a limpar, aprender a apagar.
Tanto apagamos que pouco sobra! 
Ser cortês aprende-se a limpar, a apagar, a rasgar… de tal modo que as aparas se amontoam sem nos apercebermos do vazio que criamos…
Até que um dia, nos exigem que refaçamos o que apagámos - «o peito oculto», como se ele não tivesse sido eliminado antes, mesmo, de termos nascido…Nós, os que crescemos por entre aparas...sem acesso ao peito das reticências nem das metáforas e muito distantes das anástrofes da vida.

17.7.19

As dúvidas adensam-se

Ao contrário de quem «só sabe», eu sei cada vez menos… as dúvidas adensam-se a toda hora - as certezas esmorecem.
Oiço, mas fico sem saber se as palavras que me chegam refletem o pensamento de quem as profere, máscaras simpáticas do momento… que também podem ser odiosas… só porque não satisfazem os caprichos…
Emudeço na dúvida.

15.7.19

Desligar

Não sei se vai ser fácil desligar…
Há anos que o procuro fazer sob a forma de distanciamento, mas acabo sempre enredado… pois continuo preocupado, sobretudo quando a vaga de sabotadores vai engrossando… Uma vaga cuja retaguarda é constituída por encarregados de educação incapazes de distinguir quem recorre à disciplina para poder instruir de quem apenas os lisonjeia… porque vivem na ribalta política, académica, artística, ou ainda usam monóculo ou pingalim…
No próximo ano, vou trocar a luz pela penumbra.
Pode ser que, assim, desligue de vez…

13.7.19

Tudo é efémero

Continuo atento, mas a energia falta. As pernas já não acompanham a vontade e mesmo que as obrigue a cumprir a caminhada, elas encontram sempre forma de me lembrar que as não posso utilizar a meu belo prazer…
Entretanto, tudo convida as que lhes dê descanso ou que as substitua - o negócio da preguiça está por toda a parte, mesmo que saibamos que, daqui a um ano ou dois, os novos empreendedores consigam a salvífica declaração de falência. 
As offshores resolvem… Dizem-me que 30.000 milhões de euros atravessaram a fronteira!

11.7.19

O passageiro esturricado

O painel informativo regista um intervalo de 15 minutos entre o 783 Prior Velho e o 783 Portela. O passageiro prepara-se para na paragem do Aeroporto abandonar o primeiro e esperar pelo segundo autocarro, quando, na Rotunda do Relógio, se dá conta de uma outra alternativa - o 722 vem na roda. Afinal, com o calor das 14 horas, a mudança inesperada alivia da canícula…
Entretanto, o 783 Prior Velho liberta o passageiro na paragem do aeroporto… e o autocarro 722, numa ultrapassagem vertiginosa, deixa-o a esturricar mais 15 minutos à espera do 783 Portela… 

Os factos aqui ficam. Dos comportamentos é melhor nada dizer.
O que é curioso é que o passageiro há dias que se interroga se os comportamentos podem ser considerados factos…