18.11.19

Não há aumentos...

Incapaz de definir as necessidades de recursos humanos para um funcionamento ajustado do Estado, o Governo continua a penalizar a função pública. Pouco importa quem governa, a direita insiste numa diminuição cega do número de funcionários públicos; a esquerda procede à engorda cega do mesmo Estado, sem, no entanto, satisfazer as necessidades nas áreas essenciais…
Incapaz de determinar as necessidades, o Governo aposta na descentralização, duplicando as funções, criando micro-estados conforme o estado de alma do senhor primeiro-ministro, aumentando a despesa pública… E como tal não há aumentos para ninguém!
Claro que não irá faltar o argumento do aumento do salário mínimo e da reposição de vencimentos e de pensões, porém todos sabemos que isso é  mentira.
Por exemplo, qual é a família portuguesa que, após a martelada reposição, está em condições de comprar casa com o mesmo peso no orçamento familiar que teria no ano 2000?

17.11.19

Mexericar

Praia de Carcavelos
Ora aí está uma palavra que eu não devo utilizar, pois 'não é própria de gente educada' - mexericar.
Diz o escritor Joel Neto que «se a literatura não vencer os grilhões do seu tempo não serve para nada», como se o inimigo fossem as redes sociais, espaço de mexericos... 
O escritor parece querer ignorar que uma boa parte da literatura ocidental teve origem no mexerico e que, em muitos casos, se limitou a tricotar a vida alheia.
Parece-me que as redes sociais são um dos 'lugares' onde o escritor pode beber as intrigas do seu tempo - claro que se não tiver o engenho e arte, nunca ganhará a batalha!
Por mim, não me interessa intrigar, apenas confesso que, ontem, ao anoitecer, fui, a pedido, à praia de Carcavelos e por lá tudo estava sossegado. A brisa era suave, a temperatura desceu aos 10 graus, a ondulação leve... Só não senti o cheiro do mar, e talvez a culpa fosse das minhas narinas...
Em conclusão, não tenho jeito para mexericar.

16.11.19

Bem tento ver apenas o trigo...

"- Senhor, não semeaste tu no teu campo boa semente? Por que tem, então, joio? E ele lhes disse: Um inimigo é quem fez isso. E os servos lhe disseram: Queres, pois, que vamos arrancá-lo? Porém ele lhes disse: Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele. Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: colhei primeiro o joio e atai-o em molhos para o queimar; mas o trigo, ajuntai-o no meu celeiro."
Mateus 13...

Há tarefas que me trazem de volta a parábola do trigo e do joio, mas que, pensando bem, não posso aplicar sem reservas nesta minha função, em particular, por estes dias… 
Arrancar o joio numa escola, oficialmente, inclusiva? Nem pensar! Que medre sem obstáculos, mesmo que asfixie o trigo…
Queimar o joio no final do ano letivo numa escola sem retenções? Impossível!
Do trigo que sobrar, o Senhor acabará por me perguntar por que motivo a tulha anda tão vazia…
Creio que o Senhor nunca terá imaginado - passe a blasfémia! - que o melhor seria não ter criado a erva daninha.
Por mim, bem tento ver apenas o trigo, mas o que oiço e leio dana-me os ouvidos e entorta-me os olhos.

15.11.19

Uma chave esquecida

Em composição
E se uma chave esquecida fosse capaz de provocar um pesadelo?
é bem provável! Qualquer lapso pode ter consequências indesejadas… No entanto, a interpretação do sonho parece apontar para a necessidade de não falhar os pagamentos à Segurança Social, pois esta é implacável com os faltosos, indo ao ponto de recorrer à penhora de quem se encontre nas redondezas…
Ora uma chave esquecida (e nunca mencionada) pode ser o meio para 'recuperar' uma autocaravana, anteriormente vendida, dando início a uma longa viagem por vales e montanhas, sem qualquer remorso…
O problema é que toda a viagem tem um fim, trazendo à tona a necessidade de devolver o veículo, esperando que o novo dono não tivesse dado conta do seu desaparecimento…
Ainda se o sonho tivesse sido interrompido e a memória dele apagada, mas não… a infração continua presente. Há mesma uma tentativa desesperada de convencer o proprietário, mas quem atende o telefone é uma criança que nada questiona, apenas ouve… até que uma voz pesada ordena: - Desliga o telefone!
Ciente de que o crime foi descoberto,  o ladrão procura um público (no caso, à beira de um coreto de um jardim familiar) que lhe possa aliviar a consciência ou, sobretudo, ajudá-lo a encontrar argumentos que lhe evitem os calabouços… e é, então, que, no meio da esplanada, avista o bastonário que, de imediato, lhe assegura que nunca tomou nota de um caso daquele tipo, mas que há solução para tudo… e no ato pede-lhe o número de telefone…  e 500 euros adiantados para dar início à defesa.
Felizmente que tudo não passou de sonho repetido, à exceção da cartinha registada da Segurança Social e da chave da autocaravana  já  deitada fora, que não da maldita memória…

14.11.19

Vidas

O que é que eles estão ali a fazer? Será por vaidade?
Estarão a sonhar ou simplesmente pensaram ver ali o tronco de um velho plátano camoniano?
A leitura não parece interessar-lhes… o que não surpreende quem por ali passa… 
(Ainda agora o átrio vergava ao peso da efemeridade de uma vida, sem dar conta de outras vidas que por ali passaram…)
Os rios oceânicos de Sena corriam longe dos salgueirais e contra a estupidez que nunca percebera o legado do Poeta - o único que carregara a Pátria até ao fim.

13.11.19

É tudo tão...

É tudo tão fútil
que se quisesse
rimava com inútil

Despegados do ecrã
apagam-se os olhos
esgueira-se o sorriso

Já no vazio
alheios seguimos

É tudo tão inútil
que se quisesse
rimava com fútil

Já no vazio
seguimos alheios

Ou talvez não.

12.11.19

A prosa inútil dos dias

Um trambolhão ou uma escorregadela pouco importam! 
Com um pouco de sorte, pode haver quem veja no ato um poema, com ou sem narrativa, sob forma métrica ou dessa outra coisa indistinta a que chamam prosa…
Talvez fosse melhor reduzir tudo a poema para o qual se olhe como se fosse uma maçã, mas sem qualquer vontade de a cheirar ou de a comer… 
Um poema sem ideias, sem ritmo - um poema deitado.
À espera que o levantem da prosa inútil deste ou de qualquer outro dia.
Ainda se o dia fosse poema!