5.1.08

Imperdoável

«Morreu uma professora de Mangualde que, sofrendo de cancro de pulmão, trabalhou até ao fim. Maria Cândida não chegou a beneficiar da redução da componente lectiva.»

A frieza da notícia está de acordo com a desumanidade do legislador. A lei, que, por regra, os governantes desdenham, é, nestes casos, cega. Deixa morrer no local de trabalho alguém cuja morte há muito estava anunciada...

De facto, não morreu nesse lugar, mas, apenas, por força do calendário escolar. Quanto aos decisores, esses escondem-se  por detrás de leis que eles próprios aprovaram.

No limite, caso não houvesse este pausa na actividade lectiva, a professora poderia ter morrido na sala de aula, perante os seus jovens alunos. Se isso tivesse acontecido, qual teria sido a reacção dos pais e encarregados de educação?

E o que pensam desta "experiência" os pedagogos e psicólogos deste país? Será que o juízo médico não deve sobrepor-se ao rigor dos maiorais que nos vigiam?

Quem se encontra no terreno sabe que, independentemente da idade, há cada vez mais homens e mulheres que se sentem incapacitados de exercer a sua profissão, mas que são obrigados a fazê-lo, apesar dos prejuízo que isso significa para a comunidade.

No entanto, a lei continua a ser aplicada com tanto rigor, precisamente, em nome da redução do déficit.

Irónico e imperdoável. Nem a caridade nos sobra...

2 comentários:

  1. Escuta o som mais puro da tua voz...
    :)

    ResponderEliminar
  2. a propósito, talvez tenha a ver...

    http://dn.sapo.pt/cartoons/cartoon.html?edicao=2008%2F01%2F16&ts=1200441600

    ResponderEliminar