Nas estâncias 89 a 91 do Canto IX de Os Lusíadas, o Poeta persuade o censor. Os deuses da Grécia e da Roma antiga mais não eram do que homens de "fraca carne humana" que, pela nobreza das suas acções, se tinham visto imortalizadados na memória dos restantes humanos. Estes deuses que pareciam rivalizar com o Deus da cristandade, afinal eram "fingidos" pela emoção (ou pela razão?) humana. O censor terá compreendido a mensagem...
E por isso, sabendo o Poeta que o homem português procurava a "fama" / a glória, convida-o à acção, a imitar os homens da antiguidade, porque se o fizer, também, terá direito à imortalidade dos deuses. Apenas lhe impõe um limite: não ceder à cobiça. Para o censor, este travão era o ouro que faltava para que a obra fosse libertada de qualquer suspeita...
E para nós, deveria significar que o Poeta era um homem ardiloso, capaz de nos limites da heresia, mostrar a face cristã quando, de facto, o homem ( a humanidade) era a sua crença escondida.
As estâncias 92 e 93 do Canto IX ajudam-nos a compreender como Camões fez passar os Lusíadas pelas malhas da censura...
Mas nada disto interessa aos modernos censores: a leitura, ontem como hoje, continua muito superficial...
E de repente, dou comigo a pensar na blindagem a que estão submetidos os mediadores. No seu inesperado silêncio...
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