Sem querer vasculhar muito no mundo anterior às palavras (o mundo primordial de que falava Vergílio Ferreira) nem precipitar-me no mundo derradeiro, onde as palavras já me não dizem nada, confesso que, ultimamente, tenho vivido algumas experiências traumatizantes: as palavras tornaram-se grilhetas soltas das correntes que nos prendiam ao mundo das coisas, das ideias, dos acontecimentos ( a dimensão da res que dava solidez à vida). As palavras estão cada vez mais desonradas. Vergonhosamente desonradas.
Já não sei como, através da palavra, posso defender a honra das palavras. Ninguém valoriza a palavra dada! É como se as palavras fossem apenas folhas caídas cujo destino seja serem espezinhadas.
Ultimamente, as palavras tornaram-se moedas cujo valor facial é nulo. Nem mesmo quando queremos ensinar a evolução semântica da palavra, encontramos disponibilidade para compreender que sem o(s) significado (s) diacrónico da palavra, nos é impossível aceder à compreensão do passado.
E isto sem falar daqueles que permanentemente voltam atrás sobre a palavra dada, que aproveitam a indiferença geral para rectificar a imagem e vitimizar o escriba, ou de quem nos quer cobrar a mediocridade da vida.
Assim é a caruma, uma vez caída, ou é espezinhada e apodrece ou atiça e alimenta a chama.
ResponderEliminarResta, porém, a verticalidade do pinheiro como prova da teimosia e da honradez da vida. Há que acreditar nele, no pinheiro, mesmo que uma ou outra palavra faleça na descaradez da hipocrisia ou num aperto de mão fingido. Ámen.