Em Serpa, li, em poucas horas, a última novela de Manuel Alegre. Por aqui ainda não encontrei o “miúdo” a não ser nas páginas dos jornais. E dificilmente o encontrarei, pois o autor reconhece «eu sou eu mesmo a história e as personagens». Ora Serpa é terra que, em vez de ter riscado a Ode Marítima, prefere rasurar o EU.
Do ponto de vista do género, este livro da vida parece-me uma daquelas novelas em que as personagens mais não são que a circunstância do herói. Ou será do anti-herói? O miúdo lembra-me o pícaro do Fernão Mendes Pinto! No entanto, não creio que o autor queira ir tão longe.
De certo modo, por entre considerações felizes sobre a descoberta e aprendizagem do ritmo da vida e da palavra poética (da escrita), há um «chegar-se à frente» que incomoda. Os protagonistas da obra, sobretudo, em prosa, lembram-me aqueles putos, algo machistas, marialvas e narcisistas, sempre à espreita para responderem perante o espelho: pronto, presente…
Para quem já leu grande parte da obra de Manuel Alegre, «O Miúdo Que Pregava Pregos Numa Tábua” repete a maioria das obsessões do autor, e insiste num retrato confessional do EU, herdeiro do bom selvagem, capaz de resistir à maldade social, e de reconstruir a memória, quase sempre, em seu favor.
Afinal, todo o herói acaba, um dia, por falhar ou acertar o tiro quando menos lhe convém.
PS: De qualquer modo, recomendo a leitura desta novela a todos aqueles que ainda não perceberam o que é a literatura.
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