Na presença dos filhos Fernando, João Miguel e Luís, Vítor Silva Tavares cativou a plateia de jovens alunos da Esc. Sec. de Camões, ao saber ler e comentar, de forma emotiva e delicadada , a obra mais significativa de Luiz Pacheco – COMUNIDADE:
«Estendo o pé e toco com o calcanhar numa bochecha de carne macia e morna; viro-me para o lado esquerdo, de costas para a luz do candeeiro; e bafeja-me um hálito calmo e suave; faço um gesto ao acaso no escuro e a mão, involuntária tenaz de dedos, pulso, sangue latejante, descai-me sobre um seio morno nu ou numa cabecita de bebé, com um tufo de penugem preta no cocuruto da careca, a moleirinha latejante; respiramos na boca uns dos outros, trocamos pernas e braços, bafos suor uns com os outros, uns pelos outros, tão conchegados, tão embrulhados e enleados num mesmo calor como se as nossas veias e artérias transportassem o mesmo sangue girando, palpitassem, compassadamente, silenciosamente, duma igual vivificante seiva.»
Na Biblioteca, que Luiz Pacheco certamente frequentou entre 1936 e 1944, ficou a ideia de que o sarcástico e impiedoso polemista maldito era, afinal, um homem puro.
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