A mediatização da investigação e da decisão judicial cria no leitor / espectador a ideia de que a justiça é açambarcada por meia dúzia de figurões que investigam, defendem, acusam e decidem de acordo com o estatuto dos arguidos.
Não se entende porque é que defesa, acusação e decisão são sempre entregues aos mesmos, ou será que o poder mediático é tão poderoso que cria e encena os casos, escolhendo os atores e impondo a decisão?
De qualquer modo, parece-me que a mediatização distorce o exercício da justiça e, sobretudo, aprisiona os decisores, impedindo-os de decidir em liberdade.
E esta última ideia – a de uma justiça amordaçada pelo poder político e, simultaneamente, ignara e presumida - está muito bem retratada no romance Quando os Lobos Uivam (1958), de Aquilino Ribeiro.
Considerando a quantidade de temas investigados anualmente, em dissertações de mestrado e de doutoramento, interrogo-me se alguém já decidiu investigar quantos dos intervenientes no inquérito e na decisão judicial já leram Quando os Lobos Uivam.
A separação de poderes e o seu exercício em liberdade pressupõem uma formação humanística que, infelizmente, tem sido descurada.
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