25.6.22

O que não mudou nem muda

Excertos da resposta dada por Luís de Sttau Monteiro à Capital / Vinte anos, publicada no dia 23 de fevereiro de 1988.

«Nem sequer a aparência das coisas se modificou radicalmente com a conquista do poder pela classe média. Esta, para quem a 'abertura' do 25 de abril consistiu apenas na abertura das portas dos conselhos de administraçao, dos conselhos de gerência, dos conselhos de gestão e, sabe-se lá, de quantas comissões existem para aí, não teve, não tem e nunca poderá ter outro modelo que não seja o que herdou dos seus antecessores. Daí, o tentar assemelhar-se a eles  em tudo: no discurso político, nos locais que frequenta, no vestuário, nos automóveis em que anda, no que come e bebe e na educação que dá aos filhos...»

«Criticávamos as antigas despesas supérfluas, mas nunca imaginámos que as novas atingissem os seus actuais montantes; ríamo-nos das viagens dos políticos do passado, as nunca imaginávamos que tanta gente andasse por esse mundo de Cristo à nossa custa como a que anda agora; os 'tachos' eram motivo para anedotas mas se quisessemos inventar anedotas acerca dos tachos de hoje, as vinte e quatro horas do dia não chegariam para o fazermos... Se nos lembrarmos do que nos custam os nossos 'representantes' nas organizações europeias, teremos de reconhecer que tenho razão ao dizer que, no nosso quotidiano, nem sequer as aparências mudaram, porque vivemos, como sempre, em dois países: um, riquíssimo, com um tesouro inesgotável, em que vivem os nossos governantes, e outro, pobre e triste, em que vivemos nós.»

«Sempre que se fala, à minha frente, de uma 'política cultural, calo-me, porque não sei de que animal se trata.»

De 1988 para cá, o que é que mudou? Aumentaram os subsídios - a subsidiodependência é um cancro alimentado pelos sucessivos governos... Uma ínfima parte da classe média enriqueceu desmesuradamente, mas grande parte da classe média empobrece todos os dias... Culturalmente, a política é errática... até porque a base, que é o sistema educativo, vive cativa da néscia vaidade.

Sem comentários:

Enviar um comentário