3.7.22

Circunscrito

 

«Para compreender é necessário gizar um quadro relacional onde o maior número possível de elementos textuais integre a maior lógica possível da fala poética-especulativa.» Maria Lúcia Lepecki, DN, 13-01-1991.

Bem sei que a ilustre crítica literária do DN tinha uma missão espinhosa: substituir o papa da crítica impressionista que, apesar de todos os reparos, tinha o bom hábito ler as obras sobre quais emitia juizos abonatórios ou não.
Bem sei que Maria Lúcia Lepecki estava empenhada em esclarecer a mestria de António Ramos Rosa, no entanto não resisto a confessar que não lhe acompanho o raciocínio, sobretudo porque não consigo gizar o quadro relacional das ideias que conduzem os nossos atores neste terreno escorregadio e minado em que vivemos.
Insuficiência minha, certamente.
Ou talvez esse quadro relacional não obedeça a lógica nenhuma e não passe de fala especulativa hipotecada.

Pondo de parte a incompreensão:

«Sou um trabalhador pobre
que escreve palavras pobres quase nulas
às vezes só em busca de uma pedra
uma palavra
violenta e fresca
um encontro talvez com o ínfimo
a orquestra ao rés da relva
um insecto estridente
o nome branco à beira da água
o instante da luz num espaço aberto»
            António Ramos Rosa

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