Mostrar mensagens com a etiqueta Nuno Crato. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Nuno Crato. Mostrar todas as mensagens

28.10.13

No dia em que o alfanumérico Crato tirou um coelho da cartola

I -Ainda não é hoje que deixo estes meus exercícios pouco espirituais!
Atarefado com letras ilegíveis, vocábulos mágicos, frases ininteligíveis, parágrafos curvilíneos e textos invertebrados, decidira nada escrever. Simplesmente, arrojar com a tarefa de classificar umas soberbas provas juvenis.
No entanto, a meio da tarde, um anónimo interlocutor, inesperado companheiro de "bica", tinha-me confessado que não entendia porque é que tinham acabado com as provas orais! As últimas a que fora submetido datavam de 1972, e ele lembrava-se, como se fora hoje, daquele professor que, numa prova oral, lhe elogiara a clareza e a concisão do discurso, profetizando, no entanto, que aquela qualidade, neste país, não passava dum defeito. Sempre que o exame fosse escrito, ninguém aplaudiria o sovina da palavra, a clareza da ideia! E por isso, ele acabou por se refugiar na matemática - lugar límpido e secreto onde a redundância não tem lugar,  pois os símbolos são unívocos e inequívocos... Entretanto, despedimo-nos com acenos de cortesia...
Três horas mais tarde, entra-me o ministro da educação pela sala dentro. Perante uma plateia de atordoados deputados, o alfanumérico Crato tirara mais um coelho da cartola: os candidatos a uma licenciatura de ensino elementar vão ser obrigados a fazer exame de 12º ano de Português e de Matemática.
É desta que o analfabetismo irá ser erradicado! Embora, sem que alfanumérico o tenha anunciado, percebi que vem aí nova revisão curricular...
Anuncia-se já o dia em que todos os juízes do Tribunal Constitucional terão aprendido a calcular e que não haverá mais lugar para símbolos que não sejam unívocos e inequívocos...

II - Dias mais tarde, o alfanumérico explica que só nos libertaríamos da Troika se cada família trabalhasse mais de um ano de borla, sem comer e sem gastar nada... (5.11.2013)

19.9.13

Ao cuidado do ministro Crato

Na perspetiva dos jovens lisboetas, nascidos em 1996, o Parque Mayer nunca existiu!
Mesmo os mais atentos estão convencidos de que a referência - «O Mayer estava a morrer, deserto, parque de estacionamento» -, no conto O Sonho, de Fernando Campos,  não passa de fantasia literária, até porque n'OS MAIAS esse parque nunca é referido... (Paradoxalmente, o romance queirosiano ganha estatuto de referência documental, perdendo, ao mesmo tempo, valor literário.)
Para facilitar a inteligibilidade do conto, registo que a inauguração deste Parque se deu a 15 de Junho de 1922, sob a responsabilidade da Sociedade Avenida Parque, impulsionada por Luís Galhardo, e que o repasto, em que o Conde comunica que vai embarcar no Lusitânia Expresso com destino a Timor, decorre pouco antes da partida - dia 23 de Janeiro de 1992. Uma viagem interrompida pelas forças militares indonésias. Porquê?
O desconhecimento da referência, seja ela temporal, espacial ou factual, afeta seriamente a compreensão textual e inibe o prazer inerente, tornando a leitura enfadonha, e  a visão distorcida da chamada realidade.
De qualquer modo, há solução para o desconhecimento da referência. Basta solicitar um novo exame ao IAVE!