Desde ontem que assumi que não devo fazer perguntas. Isto não significa que não possa ser questionado. Se o for, responderei de forma concisa de modo a não cair em tentação... A ação (ou a inação) decorre num contexto específico.
Dou agora conta que há uma hora fiz uma pergunta, não interessa qual. E apesar de não obter satisfação, obtive, no entanto, uma resposta.
Enquanto leio "O Meu Irmão", de Afonso Reis Cabral, romance que aborda precisamente as dificuldades de comunicação resultantes de um dos interlocutores sofrer do síndroma de down, vou-me interrogando sobre a natureza da comunicação a partir do momento em que abdicamos de fazer perguntas...
Não desejando, por enquanto, remeter-me ao silêncio absoluto, porque dá cabo de qualquer contexto, vou experimentando os efeitos do diálogo em que B responde a A sem poder contra-interrogar... As respostas passam a ser secas, concisas, mergulhando no silêncio até que surja nova pergunta. Pressinto que esses hiatos poderiam ser desafiantes, não fosse A alhear-se por vontade própria ou por incapacidade momentânea...
(E, de súbito, revejo os avós paternos, sentados diante um do outro, e eu à espera que eles se questionem sobre um qualquer assunto por mais mesquinho que seja, mas nada acontece entre eles. Nem A nem B colocam qualquer pergunta, e estou sem saber se tinham feito um pacto contra a indagação ou se, apenas, se lhes tinham esgotado as perguntas.)
Ao fim de tantos anos a fazer perguntas noutro contexto específico, parece que se anuncia o tempo de deixar de fazê-las. E esta possibilidade começa a despertar-me a vontade de começar a ir à pesca...