O orçamento é (ou deve ser) linear.
Inicialmente, o orçamento não era mais do que um instrumento de execução de um projecto... No entanto, à medida que fomos ficando sem projecto, o orçamento tornou-se no grande acontecimento legitimador da governação e da oposição.
Governo e oposição sonham com o orçamento para poderem definir as respectivas estratégias de consolidação ou de luta pelo poder, pelo poder de gerir o orçamento de estado, como se o país se reduzisse à captura de receitas e à sua redistribuição pelas clientelas...
Se quisessemos construir um projecto nacional, ibérico, europeu, lusófono deveríamos tornar obrigatória, em todas as escolas, a leitura do(s) orçamento(s). Hoje, para o cidadão comum é tão importante interpretar o orçamento como falar inglês.
As aulas de substituição deveriam ter como único tema: o orçamento - pessoal, familiar, plurifamiliar, autárquico, regional, nacional, ibérico... global.
Afinal, o que é que pode haver de mais importante do que o orçamento? Só em Portugal, gastamos dois meses a debatê-lo, anaforicamente (contributo da TLEBS)...
Por causa do orçamento, em 1955, Max Ophuls (1902-1957) sofreu um enorme rombo: o filme Lola Montès naufragou nos baixios da crítica cinematográfica e de costumes. Nem a beleza de Martine Carol (1920-1967) seduziu os espectadores. A encenação luxuriante da ideia de que na vida tudo é movimento, mas que o carrossel pára quando menos se espera só mais tarde foi entendida por um mundo ávido de protagonismo, que, no entanto apenas valoriza o movimento.
Ora, em 1955, Max Ophuls cometera um pequeno crime: rompera com as narrativas lineares. E o orçamento ressentiu-se...
Hoje, nas nossas escolas, a linearidade poderá dar um corpo a um projecto de idiotia colectiva se apostarmos com mais convicção na leitura do orçamento..., (com a ajuda da TLEBS chegaremos lá...)
Sabe-se, embora ninguém o diga, que a TLEBS foi inventada, não pelo Max Ophuls, mas por um grupo de linguístas que descobriu como viver durante o resto da vida à mesa do orçamento.
PS: o orçamento perdeu a maiúscula que originalmente o anunciava.