16.3.08

Resposta subjectiva a uma defensora da objectividade

O Governo quer a avaliação para reduzir os custos e aumentar o sucesso.

Muitos professores detestam a mudança; outros vêem na escola um espaço de luta permanente, que os compense dos seus próprios fracassos; há ainda os que, atemorizados pelos comportamentos actuais, acreditam que é possível impor um novo (ou será velho?) sistema de valores.

Pessoalmente, a avaliação não me incomoda, se ela não significar, de imediato, uma penalização. Sempre me esforcei por acreditar que o homem pode aprender e ser útil, apesar dos múltiplos sinais em contrário…

Quanto aos itens de observação /avaliação, defendo que o seu número deve ser limitado. 10, no máximo, como os mandamentos. E, também, defendo que aqueles que procuram itens objectivos e mensuráveis, sãos os mesmos que põem em causa o avaliador. Ora avaliador e avaliado, antes de serem “objectos”, são “sujeitos”. E a experiência diz-me que, em matéria de avaliação do sucesso educativo, a subjectividade se deve sobrepor à analise comparativa e estatística… o que me reconduz à crítica do paradigma sociológico que tantos estragos tem feito nos últimos 10 anos, em Portugal.

Bem sei que estas minhas palavras falham na clareza e na concisão, mas são as que te posso dizer aqui e agora. Sem ser Séneca, também posso dizer que sei para onde vou, mesmo que os ventos sejam desfavoráveis e que isso nada importe a quem nos governa, precisamente porque lhes falta a subjectividade…

13.3.08

Antes que seja tarde

Fica dito:

  • Que não sou a voz de ninguém
  • Que, perante um problema, começo por pocurar-lhe a extensão
  • Que descoberta a causa, invisto tudo na solução
  • Que a melhor solução raramente é comoda
  • Que não compreendo nem a fuga nem a deserção
  • Que a delação me enoja até à exaustão
  • Que aos deuses já disse tudo
  • E que aos homens pouco mais tenho a dizer

8.3.08

A força dos professores...

Mais de 80.000 nas ruas! Impressiona pela capacidade de mobilização, mas, sobretudo, porque cada um tem uma razão de queixa.

Há muito que o Estado se vem servindo dos professores como bem lhe apraz. Não lhes proporciona nem formação científica nem pedagógica rigorosas. Não define um rumo para o país e, consequentemente, para a educação. E agora, o mesmo Estado exige competências que sempre sonegou.

Por isso, a indignação. Até porque as reformas em curso, em nome da optimização dos gastos, visam mais do mesmo: diminuição das despesas com a formação, diminuição das despesas com os equipamentos, diminuição das despesas com o parque escolar, diminuição das despesas com os salários. Não parece que o director de turma, o director de ciclo, o director do curso profissional, o director de departamento, o presidente do conselho pedagógico, o presidente da assembleia e, mesmo, o presidente do conselho executivo passem ser devidamente remunerados pelas funções que exercem. Em qualquer empresa privada, e, também, em muitas empresas públicas, todos estes cargos são remunerados de forma diferenciada.

Deste modo, a avaliação surge inquinada. Não valoriza salarialmente os docentes e, por outro lado, qual espada de Dâmacles, entrava a progressão dos mais novos e ameaça os mais velhos...

Um Ministério que não percebe que a formação científica e pedagógica é essencial, arrisca-se a ver na rua uma luta política que acabará por dinamitar o Governo e empobrecer ainda mais o País. Arrisca-se a que sindicatos e partidos se aproveitam da indignação dos professores, em benefício próprio. E humilha os seus professores perante pais e alunos, empurrando-os, depois deste pronunciamento, ou para o combate político no interior das escolas ou para a abulia...

 

6.3.08

Mais vale o Inverno do que o Inferno...

Hoje, vou continuar a acompanhar a inclinação do eixo da terra na esperança de que o céu se mantenha azul, apesar das baixas temperaturas.

Bem sei que, deste modo, a Fortuna me precipita mais de depressa para o Inverno, mas que fazer? Mais vale o Inverno do que o Inferno?

Um pouco de chuva, talvez, limpasse os Céus severos, mas isso é pedir demais.

Sobram os erros (meus) e os dedos acusadores... Que fazer? Só sei que nunca alinhei em garraiadas... donde vim, o touro pega-se de caras...

5.3.08

Falta de pudor...

O problema já não é a falta de pudor; o problema está no descaramento: os alunos ignoram o professor e, pior, afrontam-no; os professores esquecem o decoro e fazem da escola arena política;  os ministros e seus acólitos desprezam a razoabilidade que devia pautar as suas acções. A boçalidade reina um pouco por toda a parte.

Hoje, voltei à escola de 1974/75. E recordo a ligeireza saneadora que varreu as escolas, em julgamentos sumários...

E de memória em memória, lembro a fúria inquisitorial que, em efígie, queimou o Padre António Vieira...

E não vale a pena citar Antero nem António Sérgio. Quem os lê e lhes conhece as dúvidas?

29.2.08

Devia haver um limite...

Devia haver um limite para a obstinação, para a desatenção, para a irresponsabilidade, para a desagregação, para a indiferença, para o ruído, para a cegueira, para a depravação, para a incompreensão, para a preguiça, para a intolerância, para a burrice da pontuação...

(a dificuldade, aqui, é o tom!)

Mas não há!

Há quem só pense em ir para o céu. Em suspender a respiração. Não importa o caminho!

Aqui, não! Enjoam e repugnam, o pragmatismo, a eficácia da letra morta...

O próprio dia (ente)dia... parece a mais no calendário.

Cresce a náusea sob o riso descontrolado e infantil dos estupefacientes... A prazo, surge a esquizofrenia, a esquizomania...

Basta um pé de liamba!

28.2.08

Ao acordar...

Acordo a pensar que me apetece passar o dia a ler A Sala Magenta de Mário de Carvalho. Ao mesmo tempo, penso obsessivamente em jogos de  guerra, de caça e tauromáticos. Nos primeiros, as primeiras linhas são abatidas, nos segundos, só pode haver  primeiras linhas colocadas por detrás de portas, e nos terceiros, a linha que separa os contendores anula-se até ao combate decisivo. Certamente que também poderia pensar na luta livre, no futebol e nos jogos de ficção, mas não, estes últimos não me atormentam as manhãs.

Daqui a três minutos, interrompo estas linhas, preocupado, sem saber se sou primeira linha e, por isso, pouco falta para ser abatido, porque a vitória é sempre negociada nos bastidores; se estou por detrás da porta e num lance de pura fantasia abato a presa; ou se a linha que me separa do inimigo diminui cada vez mais até que o corpo-a-corpo defina se é possível haver um vencedor.

Estes são os dias, não sei se tristes se alegres, que estou a viver. São duros, mas vou ter de encontrar uma forma de os vencer...

Como é possível alguém ter destes pensamentos ao acordar!?