A bolha financeira explodiu. Nem podia ser de outro modo. Tudo o que não tem raízes acaba por ser derrubado. Agora, é preciso evitar o pânico.
Também a caruma se encontra à beira da implosão. Começam a faltar-lhe os argumentos para combater a demagogia e o facilitismo.
Os últimos dias têm sido de luta porfiada contra múltiplos espectros, uns sorridentes outros carrancudos, e como é próprio dos espectros, alguns são totalmente invisíveis...
De modo que começo e acabo a pensar em Antero de Quental, António Sérgio e Jorge de Sena. Vá lá saber-se porquê!
De qualquer maneira, estes pensamentos não fazem sentido a esta hora da manhã, quando, lá fora, um autocarro...
(...)
Ainda antes de apanhar o autocarro, lembrei-me que acabava de trair Sá de Miranda, sem esquecer que, aqui ao lado, jaz o romance que obrigou António Lobo Antunes a percorrer os Estados Unidos, promovendo a tradução do romance Que Farei Quando Tudo Arde? - What Can I Do When Everything's on Fire?
Há quantos dias não lhe percorro as labirínticas avenidas! No entanto, o mundo arde... E nós que faremos?
Ai, os títulos! Agora que se anuncia O Arquipélago da Insónia, começo a pensar que, para António Lobo Antunes, o título é mais do que uma coincidência, é o espelho do estado do mundo.
Só lastimo que o escritor, peregrino da escrita e viajante desencantado do mundo, não se atreva a subir a Duque Loulé, atravessando a Praça José Fontana, e após descanso merencórico à sombra do coreto, ouse entrar no Liceu Camões, nem que seja para exorcizar alguns fantasmas que continuam a habitar-lhe a moleirinha... E talvez nos pudesse ler um pouco de Sá de Miranda!