20.10.13

Jorge Silva Melo na terra do faz de conta

Ontem, assisti à última representação da SALA VIP, de Jorge Silva Melo. Ainda não foi desta que o JSM obteve os meios necessários à montagem de uma ópera! De qualquer modo, não faltaram as árias nem o discurso sobre os limites da voz e a exuberância do corpo masculino ( efebo louro, genitália exposta, pronto a servir em troca do vil metal). Por seu turno, as mulheres, secundarizadas, deixam-se possuir fria e mecanicamente. Só a música da Terra latino-americana as traz de volta, à origem…  A espaços, o teatro (a música e o cinema) condenou a política cultural, mas deixou-se arrastar por um atávico narcisismo cosmopolita, acertando contas com a morte, uma morte travestida… mas clara e operaticamente exorcizada.

O resto são contrastes do faz de conta reinante. Segundo as pitonisas da Hora, o novo OGE não é para cumprir! Nem sequer pode ser discutido, pois ainda não está elaborado. A PEN era a fingir! No entanto… os cortes são a sério!

Há flores que florescem independentemente dos pomos que apodrecem. Há jardins que têm  amigos que fecham os portões aos mendigos que fenecem nos passeios das avenidas e nos recantos das vielas…

/MCG

19.10.13

Transitoriedade ou o casulo da ilusão

Vou concatenando, sem me admirar...
Tantos cães com dono, tanta frustração!
Um gato que podia ser livre, mas não salta o muro...
As vegetais antenas esverdeadas de um gafanhoto, talvez louva-a-deus ou tira-olhos; mas não, sou eu que quero ver assim, ali só há o casulo da ilusão!

Em tempos, Mário Sá-Carneiro terá vivido, numa quinta, chamada da Vitória. As crónicas situam-na em Camarate, mas a que eu conheço é, hoje, da Derrota, e situo-a na freguesia da Portela, agora Moscavide e Portela.
Não faço ideia se no início do século XX, Camarate integrava a Portela. E também não estou seguro que a Vitória não resulte de alguma humilhação infligida ao exército napoleónico. Só sei que a Quinta da Vitória, para mim, não passa de um bairro de lata. Isto é, não passava. Agora, é só entulho! A comunidade foi desaparecendo aos poucos. Não sei para onde. E ninguém explica! Para quê? O objetivo era dispersar...

E quanto a Mário Sá-Carneiro está quase a fazer 100 anos que se suicidou em Paris!

Em conclusão, a minha definição de "transitoriedade" é bem diferente da que está a ser enviada ao Tribunal Constitucional!

18.10.13

O cuco, o parasita onomatopaico



Infelizmente, há uma correlação entre o aumento do número de cucos e a densidade de pobres, o que me leva a pensar que a política atual está ao serviço desse onomatopaico parasita. O cuco necessita de bolsas de pobreza para se reproduzir. Sem elas, esse melómano parasita extinguir-se-ia!
Só assim se compreende a política de austeridade! Esta gera sucessivas bolsas de pobreza, ou seja os ninhos que lhes permitem reproduzir-se e, simultaneamente, eliminar as espécies incumbentes...

17.10.13

A estratégia do cuco

Na situação atual, toda a argumentação para satisfazer os credores incide em dois grupos de pessoas: os pensionistas e os funcionários públicos.
Eliminar os funcionários, reduzir-lhes as remunerações; hostilizar os pensionistas, cortar-lhes as pensões! Eis a tática seguida por uma argumentação construída com base na ignorância e ad ignorantiam (com apelo à ignorância).
É por isso que o governo persiste em manter de pé a RTP, cobrando e agravando a taxa de audiovisual com recurso à estratégia do cuco. A EDP é, como sabemos, o ninho em que vários cucos vão chocando os ovos que minam a soberania e sabotam a economia... Na verdade, a argumentação não pode subsistir sem canais domesticados...
O tipo de argumentação dominante é perverso porque ignora ou esconde os virtuosos que comem à mesa do orçamento, sem estatuto legal. Uma espécie de pessoal ad hoc, que começa por servir e depois se apropria, tornando-se inamovível e, se necessário, invisível.

16.10.13

Hoje, o meu valor baixou no mercado

Olho à volta e verifico que há tripés um pouco por todo lado. Moços e moças seguram folhas formato A4 à escuta de antigas e nostálgicas novidades. Perfilados e de olhos fixos na lente iluminada, figuras de outrora pronunciam-se sobre a eternidade das pedras assentes em invisíveis e instáveis placas arenosas... Por debaixo, fogem os líquidos arrôios em direção ao Tejo...
Sabemos a origem da ameaça, mas que importa? É no escudo que se concentra a atenção, é na fachada que se prende o olhar!
E eu, mais velho, apenas sombra, fujo da ficção, escondo-me da câmara à espera que a agitação passe e que a zona de subdução localizada debaixo do Arco de Gibraltar não faça das suas. Mas que importa? Se tal acontecer, não será apenas o meu valor a baixar no mercado! Nem os licitadores escaparão...


15.10.13

Valor de mercado

A partir deste momento, vou passar a estar atento ao meu «valor de mercado», embora me pareça que a minha cotação está cada vez mais baixa. No economês dominante, pouco faltará para ser classificado como "lixo".
Desta vez mereço o secretário Rosalino, pois, neste último mês, tenho aturado desmandos, abusos, incúrias, intrujices que, só por si, justificam a punição a que irei ser submetido... Deveria ter recorrido ao fueiro!
Ainda há poucos dias, explicava eu que a pessoa se diferencia do indivíduo quando capaz de se reger por princípios como a defesa da vida, o livre arbítrio, a entreajuda, a fraternidade, e, agora, bastou-me escutar o secretário Rosalino para compreender que acabo de ser contado, apenas, como indivíduo sujeito às leis do mercado.
Este é mais um dia de extraordinária mediocridade... mascarado de transitoriedade, progressividade e equidade para Tribunal Constitucional ver!

14.10.13

A Intrujice II

Depois da encenação do sacrossanto Paulo Portas que passou a padroeiro das viúvas e dos viúvos deste triste país, chegou a vez da ministra da fazenda  afastar "o choque de expectativas", pois Passos Coelho, em Maio, teria enviado uma carta à TROIKA, assegurando que iria fazer um corte memorável nas remunerações dos funcionários públicos.
Ontem, sobre o assunto, Paulo Portas nada disse! Os seus paroquianos são outros e, na verdade, ele ainda não percebeu qual é o significado da expressão "choque de expectativas", mas sabe que, em termos eleitorais, 400.000 funcionários públicos não contam, pelo menos, para o CDS... Ainda se fossem funcionários do Banco de Portugal, da Caixa Geral de Depósitos, da TAP...
Tudo isto me leva a pensar no tempo em que, nas Províncias Ultramarinas, havia portugueses de primeira e portugueses de segunda - os primeiros nascidos na metrópole; os segundos nascidos nas colónias... 
(...)
Infelizmente, os intrujões não estão todos no governo! Há muita boa gente a tratar da sua vidinha como se nada se estivesse a passar.

Terceiro apontamento:
( D. Nicéforo) - Diga-me, meu abade, conhece o programa do Partido Progressista?
O abade franziu os lábios em esgar dubitativo.
- Conhece, ora se não conhece! É o mesmo do Partido Regenerador. Um começa: Sua Majestade, o outro: El-rei, nosso amo...Em doutrina social são igualmente respeitadores da família e da religião. Em matéria financeira e política - dado que se preocupem com isso - um propõe-se fechar o orçamento com um saldo de vinte e quatro vinténs, o outro, com o saldo de um pinto.
Aquilino Ribeiro, Cinco Réis de Gente, cap. XIV.