13.3.14

O Presidente veta, o Governo ignora o veto

O Governo manteve a taxa de descontos dos funcionários públicos, pensionistas, militares e polícias nos 3,5%, apesar do veto de Cavaco Silva. Perante as dúvidas do Presidente da República, o Executivo decidiu enviar o diploma para o Parlamento. Económico, 13.03.2014

O Presidente despede os consultores e torna-se o bobo da festa. No dia seguinte, para salvar a face, o Presidente veta o aumento de 1% para a ADSE. Entretanto, o Governo ignora-o.

Uma história de proveito e exemplo: Mau exemplo e muito proveito! Uma história de compromisso e de chantagem!
Se assim não fosse, o Governo não se atreveria a desrespeitar o Presidente... 

12.3.14

O melro na sala de professores

Ainda pensei que fosse um corvo! Mas não, era um melro que, percorrida a galeria, entrou inconscientemente na sala à procura de migalhas.

Convencido de que ninguém o iria perturbar, percorreu o espaço e voltou a sair… e eu fui ficando a pensar em todos os que, conscientemente, transgridem os limites…

11.3.14

No limite

Se não se quer chegar ao limite há que ser rigoroso nas opções, mas nem sempre é fácil, pois os sinais podem ser mal interpretados ou mesmos descartados. E tal acontece quando o perito se limita a analisar o seu território, deixando à sorte a determinação de considerar o que fica de fora do campo de atuação do especialista.
Perante um motor afinado, o perito declarará que se aquele não funcionar bem, a responsabilidade será das válvulas ou da qualidade do combustível e, entretanto, segue o seu caminho...

Hoje, ao subir a Duque de Loulé, compreendi que o melhor é desconfiar dos peritos, pois a lentidão do motor mostrou-me que as palavras sábias que acabara de ouvir não tinham qualquer pertinência. A subida revelava-se necessária e dolorosa e só eu sabia porquê, só eu sei que opções terei que fazer...até porque a lentidão também se faz sentir em plano inclinado...

Indiferentes às minhas sensações e às minhas cogitações, centenas de convidados e de mirones esperavam pela inauguração das novas instalações da Polícia Judiciária que, oficialmente, custaram 87 milhões de euros!
Num esforço derradeiro, acelerei e, mais uma vez, entrei no velhinho e esquecido Liceu Camões...

10.3.14

Uma geração que se vai perdendo…


(Ontem, no Museu do Teatro e no Jardim do Museu do Traje; hoje, na Biblioteca da ES Camões.)
No âmbito da Semana das Profissões, um dos oradores (investigador no IST) esclarece que, na cidade de Lisboa, a água utilizada tem, na quase totalidade, origem na Barragem de Castelo de Bode, ignorando as águas subterrâneas, à exceção de dois ou três lugares, em que elas são aproveitadas para regar o parque florestal como acontece nos jardins dos Museus do Traje e do Teatro.
A  cidade de Lisboa, tal como outros lugares, desperdiça as águas subterrâneas e onera os munícipes que são obrigados a pagar muito mais caro pela água à EPAL.
O problema está na atitude dos decisores, mas esta forma-se na família e na escola. Basta ver o comportamento de muitos dos jovens que, hoje, na Biblioteca,  passaram o tempo a brincar uns com os outros ou a dormitar ou fazendo tábua rasa da experiência dos oradores pois que, no seu juvenil entendimento, o que era dito não passava de história acabada, o mundo mudara, e o que eles queriam saber era quais são os cursos que dão emprego e dinheiro… e já agora quais são os países que concedem bolsas…
Quanto ao esforço, quanto ao trabalho… Uma geração que se vai perdendo antes de tempo!

9.3.14

O Museu do Teatro e o escolástico protótipo conversacional…

Ainda pensei em fotografar o cadeirão em que Garrett se sentava no Conservatório Real, mas mudei de ideias ao encontrar os bonifrates de António José da Silva… (8.05.1705 – 19.10.1739)
«Havia multidão em S. Domingos, archotes, fumo negro, fogueiras. Abriu caminho, chegou-se às filas da frente, Quem são, perguntou a uma mulher que levava uma criança ao colo, De três sei eu, aquele além e aquela são pai e filha que vieram por culpas de judaísmo, e o outro, o da ponta, é um que fazia comédias de bonifrates e se chamava António José da Silva…» José Saramago, Memorial do Convento

D. João V reinou de 9.12.1706 a 31.07de 1750

Comentário: O aluno do 12º ano tem de dar prova do seu conhecimento dos diversos protótipos textuais. Quanto à história da injustiça, que  importa? O melhor seria passar pelo Museu do Teatro e deixar-se de formalismos... Pode fazê-lo, sem custos, ao domingo, das 10 às 14 horas.

8.3.14

Ir jantar fora

Há quem vá jantar fora
e quem não tenha dinheiro para jantar!
Eu, dizem-me, fui convidado para ir jantar fora,
mas estou proibido de jantar fora e dentro!
Só uma sopinha e, talvez, um chá de ervas...

Na verdade, preferia não ir jantar fora
que fosse quem não tem dinheiro para jantar...

Assim como está, é uma maçada jantar fora!

O ideal era ir mas sem jantar...
(Poderia  até sentar-me à mesa!)

7.3.14

O bâton e o verniz valem mais do que um poema

À maneira proençal, inventaram um dia mundial da poesia e passou a ser moda, em certos lugares, declamar ou ler em silêncio o poema eleito... Ninguém sabe bem como escolhê-lo e, sobretudo, todos esperam que alguém aponte a dedo o demiurgo que o terá gerado...
O problema é que a leitura dos poetas é coisa rara num país que até tem parques de poetas, ruas de poetas, cais de poetas, mas que deles faz poetas de rua...
À maneira proençal, vivemos num tempo em que o bâton e o verniz valem mais do que um poema, porque ignoramos que o poeta também tem lábios e unhas e procura o sol nas manhãs de inverno...

Nemésio disse um dia: « O meu cavalo é todo memória: / Um fio de vento contra as estrelas, /A lanterna que sai da cocheira, como elas / Do pó da noite para as nuvens altas.»  Memória e Queda (1963)

Também eu tive uma lanterna que entrava no palheiro 
Lá não havia cavalo apesar das estrelas
Primeiro uma mula velha
Depois uma burra fogosa que me atirava ao pó da rua...  
Nos poemas (e nas terras dos ricos) encontrei cavaleiros e amazonas
(...) 
Hoje, nem cavalo nem burro
Desfolho o poeta
e sinto que «O anoitecer situa as coisas na minha alma / como as cadeiras arrumadas / Quando os amigos partiram.» Eu, comovido a Oeste (1940) 

Não compreendo por que motivo, à maneira proençal, se lembraram de inventar o dia mundial da poesia se nunca entenderam a fosforescência da lanterna... ao contrário de D. Dinis, Políbio Gomes dos Santos, Vitorino Nemésio, Vasco Graça Moura e de todos aqueles que nos versos conseguem tecer os fios que os prendem ao universo.