27.3.14

As redes sociais

http://www.dailymotion.com/video/x1ip4e5_turquie-erdogan-execute-ses-menaces-et-bloque-twitter_news

As redes sociais incomodam o poder instalado. E como tal transformaram-se  no alvo incontornável dos poderosos... A médio prazo, qualquer rede social acaba controlada ou silenciada pelos inimigos da transparência...
O exemplo mais recente, provavelmente mais grave, é turco. Portugal, por seu turno, já encontrou o pretexto para exercitar uma velha competência - indexar, censurar. O nosso ministro da educação consegue ir mais longe do que ERDOGAN: começou por limitar o acesso ao facebook... A Turquia  só o fará com a mudança de hora...

26.3.14

Vida que passa


(...) Insisto que, n' Os Maias, o discurso vale mais do que a história, que a leitura pausada e repetida de uma página pode criar uma relação de cumplicidade inesquecível com o autor, pode ensinar a equacionar a realidade de ângulos surpreendentes, pode abrir as portas para um inevitável e retrógrado choque de culturas, para a expressão da incapacidade de resolução de um problema vivido interiormente, sobrando apenas o riso amargo e vencido da ironia pessoal e coletiva... Para atrás vão ficando os adjetivos, os advérbios, os polissíndetos, os assíndetos, as metonímias preguiçosas, as hipálages audaciosas, os paradoxos e os oxímoros, a lógica e a retórica, os tropos e as figuras, os retratos e as caricaturas, as descrições,  as cores, rosadas, rubras e cerúleas, ... e, por força, as personagens, o tempo que que avança e recua e o espaço que se contrai e se expande em avenidas, corpos e fantasias... as nódoas de sangue... 
( E a espaços uma voz se levanta: - É necessário ler o romance? E qual é a Gramática?)

Sem resposta, desço pela Conde Redondo, as ruas esventradas, não sei se o gás se a eletricidade? Procuro uma loja de acessórios, fechada? Definitivamente. Mais abaixo, uma informação: - Procure rua António Pedro (o ator)... Agora subo, entro na dita rua, também ela esventrada - desapareceram uns tantos números. Desço e volto a subir, estou quase no Chile - uma Churrascaria pegou fogo! Os mirones do costume, um cerco de bombeiros e polícias, o trânsito desviado e deixado à sorte do fluxo... e eu entro, finalmente, na loja de acessórios que não tem terminal de multibanco e passa recibo em euros e escudos. Saio satisfeito porque o stock não estava esgotado como na farmácia. Regresso à Pascoal de Melo, caminho sem pensar na traição da classe aristocrática, quando, de súbito, uma placa chama a minha atenção: Fernando Pessoa morou ali no 3º direito durante uns meses em 1914. Uns meses! Quais? Que importa? Sigo caminho, passo ao lado do Neptuno sem lhe prestar atenção, já com a mira no novo edifício Pessoa. E claro, Pessoa também morou ali na Almirante Barroso, 12, por cima da Leitaria Alentejana. Dormia de empréstimo e favor do venerável e iletrado Sr. Sengo... e quem quiser saber mais e ficar desorientado faço favor de revisitar o Sr. João Gaspar Simões, sobretudo o capítulo VIDA QUE PASSA, título de uma Crónica que Fernando Pessoa foi escrevendo até um que a associação de classe dos chauffeurs da capital lhe acabou com a carreira de jornalista... 

E há só um caminho para a vida, que é a vida... Álvaro de Campos

25.3.14

Pessoa parou no Espírito...

Perante o problema da opção sexual de Fernando Pessoa, custa-me que haja um problema por resolver, sobretudo, nos dias que correm... Nem creio que essa opção pudesse ser feita. Primeiro: faltou-lhe a amizade de Mário Sá-Carneiro. Segundo:  Pessoa parou no Espírito.

De qualquer modo, questionado, decidi consultar "Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação" e a páginas 27 e 28 encontro a reposta: 
a) «Não encontro dificuldade em definir-me: sou um temperamento feminino com uma inteligência masculina
b) «A minha sensibilidade e os movimentos que dela procedem (...) são de mulher. As minhas faculdades de relação - a inteligência, e a vontade, que é a inteligência do impulso - são de homem
c) « Reconheço sem ilusão a natureza do fenómeno. É uma inversão sexual frustre. Pára no espírito.»
d) « Sempre me inquietou (...) que essa disposição de temperamento não pudesse um dia descer-me ao corpo.»
e) « Não digo que praticasse a sexualidade correspondente a esse impulso; mas bastava o desejo para me humilhar.» 

Quando o saldo negativo é positivo

A execução Orçamental de fevereiro apresenta um saldo negativo de 30 milhões de euros, de acordo com os critérios da troika. O ministério das Finanças destaca que é uma melhoria de 150 milhões de euros, em comparação com o mesmo período do ano passado.


Os portugueses estão mais pobres! O saldo da execução orçamental de fevereiro é negativo! O governo vê algum problema? Não.  Menos + menos = mais


Até 25 de maio, vai ser sempre assim: o sol brilha, a areia regressa, o mar recolhe, a troika vai a banhos para a Ucrânia, a merckl fia audis para que um ou dois portugueses possam ficar mais endividados, as palavras de apoio abundarão...
                            

24.3.14

Imaginar, hoje

«Imaginar é ausentar-se, é lançar-se numa nova vida.» Gaston Bachelard, O Ar e os Sonhos

Muitos dos meus alunos entendem que "imaginar" é sair de si, evadir-se da prisão em que se encontram: casa, sala de aula, trabalho... Enamorados de si ou siderados por um outro passam instantes fantásticos, longe dos problemas. No sonho, no cinema, na praia, nos mares do sul ou, simplesmente, navegam na net ao encontro de imagens de vitórias e de ecos. Fumam a vida!
Outros compreendem que "imaginar" não pressupõe que se abandone o corpo, o lar, a sala de aula, o trabalho... apenas sentem que imaginar é  equacionar o problema e não descansar até que os sonhos, as tentativas, os erros se materializem em novas ferramentas...
A diferença está em que os primeiros se ausentam de si, se tornam improdutivos, ociosos, enquanto que os segundos se esquecem de si para gerarem vida...



23.3.14

A chave de Saramago

Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(Alberto Caeiro, Há metafísica bastante em não pensar em nada...)                   http://arquivopessoa.net/


O diálogo com Deus é questão antiga. Não vou reacendê-la, porque não estou em condições para o ver entrar pela janela, pelo menos enquanto ela não for de alumínio lacado...
E bem sei que Saramago nunca deixou de acertar contas com esse Deus tirano que permitiu que por muito tempo ele crescesse longe da abundância e da igualdade.
Compreendo, assim, que Saramago preferisse a simplicidade de Caeiro para quem a vírgula era sinal suficiente para apreender a realidade, desfazendo toda a metafísica de quem não sabe caminhar por si, de quem não sabe sentir por si...

E de repente tudo começa a fazer sentido quando a M.N.L. resolve enviar-me um mail a explicar-me que, tendo colaborado e estado presente no lançamento do livro "A Sala de Aula", de Maria Filomena Mónica, sentia necessidade de agradecer-me por desafiar os alunos a pensarem por si e não a reproduzirem saberes inócuos...
Esta simpática aluna tem toda a razão! Durante 40 anos foi esse o meu desafio. E também era o de Pessoa / Caeiro e de Saramago... e já agora de Camões!
Não por limite de idade, mas porque o Ministério da Educação reduziu o pensamento a um sistema binário no qual não há lugar para a dúvida... nem para a surpresa da vírgula, informo que brevemente abandonarei o ensino.



22.3.14

O passado de pouco nos serve

O passado de pouco nos serve, apesar de haver quem nos queira infernizar os dias com histórias mal ordenadas. Também há aqueles que tudo fazem para colocar uma pedra sobre atos que condicionam as nossas vidas. 
Por omissão ou por saturação tudo se torna passado e deste modo o presente desfaz-se em euforia para os que servem o poder e em disforia para os que não conseguem fugir ao seu raio de ação.
A transição entre passado e presente deixou de ser objetivo da educação e como tal os sistemas educativos já não fazem sentido...
Ainda há quem viva dessa mediação, mas será por pouco tempo. E quem o não compreender, não sobreviverá.

O passado não é exemplo, porque deixámos de ter rumo. À deriva, nos desencontramos...