6.9.14

Vazio

Vazio. Equipamento social vazio neste fim de tarde…

Vazio. Só as aves, periquitos de colar, pontuam furiosamente o cimo das árvores…

E eu alargo o olhar, vazio.

/MCG

5.9.14

Na Travessa dos Pescadores

Na parte antiga da cidade de Lisboa, os senhorios (?) procuram recuperar os prédios em ruínas com o objetivo de os rendibilizar. Quem entra naquelas construções vê certamente a melhoria dos espaços e das infraestruturas.
Há, contudo, dois ou três aspetos preocupantes: a estreiteza das vielas e a consequente impossibilidade de mobilizar, com a necessária celeridade, serviços de bombeiros e de saúde; a inexistência de elevadores, obrigando os inquilinos a esforços desumanos; e a pequenez das acomodações, lembrando os viveiros de outrora…
Esta ideia de conservar o antigo tem custos elevados!
( Na foto desaparecida, estava bem visível o engenho exigido para superar as dificuldades de mobilidade. Em, particular, gosto da escada lançada no vazio…)
II
Sufoco!
Não é só o calor e o mau cheiro, mas também a náusea que se vai abatendo sobre as pessoas… Para além da falta de respeito e, sobretudo, de responsabilidade… Uns tantos condenados de curta duração e muita mentira nas arenas internacionais!
Lembrei-me agora do Raul Brandão e por isso mais não digo.

4.9.14

Ler em português para conhecer


Há uns dias, José Eduardo Agualusa proclamava que o mercado do livro lusófono em Portugal não tem futuro.
Afinal, o que é que os portugueses andam a ler? Será que leem, apenas, em Inglês? Ou já deixaram de ler?
E mais importante, ainda, a leitura traz-lhes conhecimento? Ou só divertimento?

Aparentemente, em inglês, lemos livros técnicos e, em português, leríamos livros de divertimento... No entanto, os meus alunos, para se divertirem, preferem ler em inglês ou traduções de autores anglossaxónicos... Os que ainda leem!

Deste modo, ler em português para conhecer ou para se divertir é cada menos frequente. Porquê?
Onde é que devemos procurar as causas? No leitor ou no escritor?

2.9.14

A Europa Alemã

Num artigo publicado hoje no Financial Times, em conjunto com Karl Lamers, antigo porta-voz da CDU alemã para a política externa, Wolfgang Schäuble sugere que a Comissão Europeia passe a ter "um comissário europeu para o Orçamento, com poderes para rejeitar os orçamentos nacionais, caso eles não correspondam às regras que acordámos em conjunto".
O pensamento de Wolfgang Schäuble não é novidade! Já, em 1940, Walter Funk defendia na capital austríaca: «A política económica alemã tem por objetivo acabar com a atomização económica da Europa, considerando uma loucura a autarcia excessiva na qual todo o país pequeno deseja fabricar tudo, desde o botão até à locomotiva pesada.» No mesmo ano, já defendera «a intensificação de toda a vida económica no espaço vital europeu.»
Por seu turno, a 10 de outubro de 1940, Raffaello Riccardi «descrevia o alargamento da solidariedade já existente dentro do Eixo e apelava à criação de uma hierarquia económica entre as nações, que determinaria o acesso às matérias-primas; para esse efeito, os velhos impérios coloniais seriam redistribuídos.»
Encontrei estas pérolas na obra " Salazar - Uma Biografia Política" , vol. III,  de Filipe Ribeiro Meneses. No Capítulo II, Estudando a «Nova Ordem», páginas 60 e 61. 
Vale a pena comparar o projeto italo-alemão dos anos 40 com o pensamento politico alemão atual. Sobretudo, no momento em que o Sr. Putin começa a assustar a Alemanha...
E não se esqueçam de comer mais fruta e legumes: "Comam! Vocês devem comer, eu devo comer, nós devemos comer", disse o ministro Christian Schmidt em declarações à Deutschlandfunk, uma rádio alemã. 

1.9.14

O mundo, o sujeito e a máscara...


A virtude estóica é a renúncia a todos os bens do mundo e cujo curso é fatalmente determinado.

Não sei se a expressão "todos os bens do mundo" inclui o sujeito. Não sei se o sujeito pode alguma vez assumir-se como uma entidade autónoma, isto, apesar da longa tradição ocidental proclamar essa autonomia do sujeito.
Admitamos, por um instante, que o sujeito é "um bem do mundo" e que como tal se encontra "fatalmente determinado". Neste caso, que lugar haverá para a renúncia, para a passividade, para o distanciamento?Admitamos ainda que o sujeito mais não é do que "um bem do mundo", em que só este último avança ou recua, que lugar fica para a ação individual virtuosa ou viciosa?
(...)
Por este andar, chega-se à conclusão de que o Bem e o Mal (Deus e o Diabo) são uma inevitabilidade do mundo a que não podemos renunciar ou, pelo contrário, propriedades do sujeito que não pode livremente aspirar à virtude estóica...
(...)
A vida fica deste modo difícil de gerir, incapaz de compreender se é apenas mundo, se é apenas sujeito. Mas, o pior são as máscaras que se vão multiplicando e que, na representação, fingem ora ser o mundo, ora ser o sujeito.

31.8.14

O escritor no mercado


«Em relação ao futuro, o Brasil será cada vez mais um país fundamental para quem escreve em português. Ainda não é assim, mas os nossos leitores no Brasil estão e vão continuar a crescer, porque em Portugal não têm como aumentar.» José Eduardo Agualusa, DN, 31 de agosto de 2014. 

Palavra fácil e cristalina!
O escritor conhece a importância do mercado e por isso é, cada vez mais, um mercador da lusofonia. Uma boa parte do tempo, gasta-o a viajar, a promover o último livro. Encontramo-lo onde a procura aumenta, onde os mecenas gostam de produzir o acontecimento literário. 
Coitado, o escritor anda numa roda viva, tantas são as solicitações!
Por vezes, penso que a exposição pública do escritor não é muito diferente da do político. O que me aflige é não perceber onde é que eles arranjam tempo para pensar, para escrever, para agir...

A única alegria que me sobra é ter, finalmente, percebido que, neste verão, os portugueses passaram o tempo a ler - porque em Portugal (os leitores) não têm como aumentar.

PS. Creio que o mapa está desatualizado! Um dia destes, os escritores lusófonos passarão a viajar para a Guiné Equatorial... Se eu fosse escritor, estaria atento à palavra do Presidente Teodoro Nguema Obiang...

30.8.14

Os MEMORÁVEIS

Terminei a leitura de OS MEMORÁVEIS. É um romance que se lê com gosto. Li-o em menos de uma semana. Primeiro com curiosidade, depois com entusiasmo e, finalmente, com uma certa frustração. Terminadas as entrevistas aos homens de Abril, a narração procura explicar o enigmático António Machado, mas fá-lo de forma  estereotipada, criando um tempo omisso de 6 anos (2004-2010). Talvez a escritora, Lídia Jorge, tenha decidido guardar esse “tempo omisso” para o próximo romance… Veremos!

No lugar do lago, pensava colocar um banco vegetal, mas a fotografia foi interrompida por uma chamada. Na verdade, o que estou a querer dizer é que a contemplação da natureza pode reservar-nos tanto prazer como a leitura de um livro, de um semanário…

Para além da leitura e da contemplação, a vida também pode ser fruída nos seus momentos de euforia e de disforia. O problema é quando a disforia se torna dominante…

/MCG