24.2.15

Em política, a semântica é uma batata...

Antes que seja tarde demais:
O facto da Troika ter sido renomeada “as Instituições”, o Memorando ter sido renomeado “Acordo” e os credores terem sido renomeados de “Parceiros” – da mesma forma que baptizando a carne de peixe – não altera a situação anterior.
Não podem mudar o voto do povo Grego nas eleições de 25 de Janeiro."

Manolo Clezos, deputado europeu grego opõe-se à decisão do seu partido - Syriza - de alargar o programa de assistência da zona euro.
Com 94 anos, Manolo já deveria ter aprendido que, em política, a semântica é uma batata e o povo bala para canhão.
E como tal, os Gregos (tal como os Portugueses!) ou comem batata ou servem de balas para canhão!
Que venha o diabo e escolha!
(...)
PS. Os Mexicanos bem tentaram matar os espanhóis dando-lhes a batata (tubérculo venenoso) a comer. Só que os espanhóis, através da cozedura do tubérculo, anularam-lhe o veneno. E assim se quebrou a "lógica" inicial...

23.2.15

No limiar

Antes do limiar, eu conhecera o portal e, em certos dias, apenas o postigo. As palavras podem parecer sinónimas, mas para mim nunca o foram. Cada uma retrata um certo tempo, desde logo perdido. Hoje, portal e postigo mais não são do que memória de espaços distintos, com maior ou menor abertura para o mundo, isto é, a rua... De pouco me serve recordá-los - quem lá habitou já lá não mora...
De momento, vivo no limiar. Por enquanto, porque há momentos tão intensos que temo que a corda parta...
Na verdade, vivemos sempre no limiar, só que o não sabemos.




22.2.15

Meus pensamentos

"São coisas vestindo nadas,
Pós remoinhando nas portas
Das casas abandonadas."
Fernando Pessoa

Ontem, atribui inadvertidamente a Ricardo Reis um poema de Pessoa ortónimo. Diga-se que ninguém protestou, talvez por comiseração... A verdade é que me deixei embalar pela sintaxe!
(...)
Se o Poeta reconhece que o seu pensamento se corporiza apesar da sua nudez, se reconhece que o seu pensamento mais não é do que poeira do deserto, ultimamente, o meu pensamento não para de me trair como se apenas sobrasse um corpo donde ele se quisesse ausentar definitivamente.

E talvez não fosse má ideia!

21.2.15

Passemos à frente

Boiam leves, desatentos,
Meus pensamentos de mágoa,
Como, no sono dos ventos,
As algas, cabelos lentos
Do corpo morto das águas.

Boiam como folhas mortas
à tona de águas paradas.
(..)
Fernando Pessoa 

Caruma já se ocupou várias vezes da COMPARAÇÃO, explicitando que ela exige dois termos. E sobretudo que o segundo termo é concreto (arrancado à vivência do autor), visando explicitar uma realidade não palpável, abstrata.

Comparações: Meus pensamentos de mágoa / boiam /como as algas // boiam como folhas mortas /... 

Inacreditavelmente, muitos alunos do 12º ano confundem a comparação com a metáfora, embora não saibam explicar a analogia mental que suporta a segunda. 
Afinal, o que será uma analogia? Será o mesmo que uma comparação? 

Por outro lado, na sequência / Meus pensamentos de mágoa, / Como, no sono dos ventos /As algas, cabelos lentos..., muitos alunos do 12º ano ignoram a VÍRGULA... concluindo que «no sono dos ventos» é o 2º termo da comparação. 
Afinal, qual é a função da vírgula?

Ler Fernando Pessoa exige particular atenção à construção sintática de matriz latina, num tempo em que o Latim foi desprezado. Segundo a orientação didática em uso nas nossas Casas de Letras, o melhor é passar à frente: o importante é procurar a "permeabilidade" entre os textos (versão eufemística da intertextualidade), desvalorizando a interpretação, reservada a hermenêutas.

20.2.15

Dá pena!

Chegam atrasados e sentam-se como se nada estivesse a acontecer. Dois dedos de conversa à direita e à esquerda... e sorriem ou, em alternativa, adormecem. 
Dá pena vê-los assim ora tão desempoeirados ora tão anestesiados. Quando interpelados, mostram-se seguros das suas convicções, chegando, por vezes, a levantar a voz...
(..)
A causa primeira reside na falta de objetivos bem definidos e calendarizados. Como explicação, confessam que ainda não descobriram a vocação. Mas, na verdade, a única vocação que lhes descubro é a da vida fácil... tão fácil que nem o "carpe diem" de Ricardo Reis lhes desperta especial atenção.

19.2.15

Ler Fernando Pessoa

O vento sopra agreste e eu sinto o frio, o que me permite pensar que, apesar do sol ser fonte de calor, circunstâncias há em que devemos, a todo o custo, evitar os passeios sombrios...pois o meu pensamento é totalmente ineficaz se os meus sentidos estiverem desativados.
Esta parece ser uma ideia simples que não autoriza qualquer dissociação do Sentir e do Pensar, ao contrário do que defendem muitos leitores de Fernando Pessoa.
Na verdade, Fernando Pessoa limitou-se a condenar todos aqueles que viviam de ideias que não tinham origem nos sentidos. Ideias mistificadoras e que traziam infelicidade, desnaturalizavam e descorporizavam cada ser humano - já que a humanidade não passa de um mito simplista, mas demolidor.
Cada heterónimo é expressão de um pensamento enraizado em sensações, mesmo que hipoteticamente excessivas ou demasiado ensimesmadas...
Ler Fernando Pessoa é, antes de mais, evitar os passeios sombrios...

18.2.15

As palavras soltam-se...

As palavras soltam-se e arrastam consigo mil e uma histórias. Na maioria dos casos, não há evento, há apenas a necessidade de ligar palavras, cores, objetos, reminiscências, memórias reinventadas. Claro que Alice acredita que se trata de recordações e, nessa matéria, ninguém a pode contrariar. 
E para quê contrariá-la? O passado é uma fonte inesgotável e, apesar de tudo, agradável se comparado com o presente.
No presente, os demónios soltam-se em línguas de fogo, prontos a imolar todo aquele que defenda uma ideia diferente, todo aquele que ouse replicar...
A réplica só traz fúria. Uma fúria antiquíssima!
Quanto às histórias de Alice, é pena que ela não as passe ao papel. Seriam divertidas e fariam bem à saúde...