15.12.15

A política e a moral de José Sócrates

Apesar de, em fundo, José Sócrates atacar ininterruptamente tudo e todos, à exceção do Amigo, hoje estou sem tema, embora pudesse aqui rever a cordata e avisada conversa que tive com um colega que me habituara a considerar um pouco espalhafatoso e excessivo... o que me leva a pensar que, frequentemente, não ouvimos com a devida atenção aqueles que são nossos companheiros de profissão...
Quanto a José Sócrates, continuo sem entender o "processo". Gostaria, no entanto, que as televisões dessem ao Amigo a possibilidade de explicar o seu papel em toda esta trama...
Ao contrário do meu colega que reconhece que a cortesia é fundamental mesmo quando a divergência é total, José Sócrates declarou para quem o quis ouvir que a moral é uma questão privada que não deve interferir na ação política...
Talvez seja por partilhar este princípio "socrático" que o Amigo continua em silêncio - não quer confundir a sua vida privada com a vida pública do "animal político"...

14.12.15

Sete Cavalos na Berlinda


Significado de Berlinda
s.f. Carro hipomóvel, de quatro rodas, suspenso entre dois varais, recoberto de uma capota.
Maquineta para o transporte de imagens de santos.
Estar na berlinda, ouvir, nos jogos de prendas, a enumeração de seus defeitos ou qualidades.
P. ext. Ser alvo, durante certo tempo, de censuras ou motejos; ser o assunto do dia.
                                                                          (Dicionário online de Português)

SETE CAVALOS NA BERLINDA é uma história escrita por Sidónio Muralha (1920-1982) e ilustrada por Márcia Széliga, em que o primeiro decidiu pôr na berlinda os sete cavalos que fugiram da berlinda do Senhor Agapito.
O exemplar que me chegou às mãos é editado pela Global Editora, o qual, apesar da sua brevidade, é capaz de provocar a boa disposição de qualquer adulto e, sobretudo, de pôr a pequenada a sonhar e a imaginar novas situações igualmente fantásticas...e parece adequado à quadra que atravessamos.

13.12.15

O sofrimento e a dor

Bion (1970*) considera que a dor é o que se instala quando o paciente não tem capacidade de sofrer.

Na minha perspetiva, a incapacidade de sofrer transforma em dor estados de morbidez que só poderão ser ultrapassados através da mudança de atitude.
De certo modo, tudo o que perturba o paciente é por ele atribuído à dor, procurando consequentemente um remédio imediato, o que explica o sucesso da indústria farmacêutica.
Sempre que entramos numa farmácia, verificamos que elas estão cheias, como se fossem um supermercado.
Em muitos casos, a conta da farmácia ultrapassa a do supermercado e ninguém se interroga sobre esta realidade.

O medicamento acaba por fazer parte do cabaz hedonista. O estoicismo tem cada vez menos seguidores.

* W. Bion, L'Attention et l 'Interprétation. Paris: Payot.

12.12.15

Os amigos da linha

Colocar um "post" de um blogue no facebook ou noutra rede social pouco acrescenta. Os amigos estão ocupados com imagens, sons, piadas de mau gosto e, sobretudo, com adulações de todo o tipo.
As hiperligações podem ser maçadoras e obrigam inevitavelmente a uma pausa que coloca os amigos fora de linha.
Hoje, já ninguém quer sair do radar!
Os amigos das redes sociais estão sempre à mão, mesmo quando ignoramos a sua presença, ou eles ignoram a nossa... provavelmente, eles já deixaram de nos ver há muito, mas nós sabemos que eles continuam por ali, em linha.

Estes são os amigos da linha, em regra, o nosso estatuto é medido pela quantidade e não pela partilha. Claro que há exceções! Mas esses têm memória... de alegrias, de dissabores, de encontros e de desencontros e, por vezes, de perdas.
Os amigos da linha ajudam-nos a compreender que a amizade está cada vez mais volatilizada.

11.12.15

Debaixo De Algum Céu

«A história é também muito que não vai contado, porque é fácil contar o que acontece, mas faltam palavras para o resto.» Debaixo de Algum Céu (2013), de Nuno Camarneiro

Neste como em qualquer outro romance, o ser aspira ao Céu, pouco importa se azul, divino, materno ou libidinal...
Nesta obra de Nuno Camarneiro, cada personagem procura a plenitude por mais anódina que ela possa parecer. Por vezes, a felicidade esconde-se na porta ao lado, na cave, nas areias do mar próximo ou na base de dados repleta de personagens capazes de transformar a vida...
O êxito, todavia, depende da vontade, da entrega, da partilha, e não do Céu que tudo cobre, mas se manifesta indiferente às penas humanas, começando pelas do padre Daniel que, de modo desesperado, vive uma vida dupla sob o olhar de Deus...
A ação, como o autor refere no preâmbulo, decorre «num prédio chegado à praia» - espaço fechado - durante oito dias, «os último sete de um ano e o primeiro de outro». E o «tempo é medido em medos, um a cada dia, o tempo certo para que homens tremam e mudem».

Em síntese, um romance que dá conta das agruras da vida portuguesa e que, não certamente por falta de palavras, passa ao lado das festas natalícias, embora o padre Daniel salve o "Menino" e, por algum tempo, o espírito de concórdia pareça sair vencedor.

Nome próprio

Mathieu Delaporte e Alexandre de La Patellière escreveram a peça Nom Propre em 2010. Esta peça deu origem ao filme franco-belga Le Prénon (2012) que obteve nesse ano um enorme sucesso.
Ontem, fui ver a adaptação portuguesa no Auditório dos Oceanos, representada por Ana Brito e Cunha, Joana Brandão, Aldo Lima, Francisco Menezes e José Pedro Gomes, numa encenação de Fernando Gomes.

Trata-se de uma comédia divertida sobre os equívocos da amizade, despoletada pelo nome próprio que um dos personagens finge atribuir ao filho (?) por nascer - Adolfo / Adolfe...
O jantar é de amigos que não perdem oportunidade de confrontarem os respectivos egoísmos, traições e, sobretudo, desencantos... Muitos são os momentos hilariantes, apesar do fel que alimenta os discursos de cada um...

Ontem, o público divertiu-se e deve ter saído a pensar que a fronteira que separa o palco da vida é muito estreita. No entanto, a vida continua: o Adolfo /Adolfe acabou por chamar-se Francisca ... e não era "ameixa"...
Num espaço cénico sóbrio, os atores estiveram no seu melhor, em particular a Ana Brito e Cunha e o José Pedro Gomes.

10.12.15

No tempo e lugar errados

Parece-me que estou a viver no tempo e lugar errados. Por mais que fuja ou explique, não consigo evitar o stresse provocado pelo ruído. Bem sei que a minha perceção auditiva pode parecer exagerada, no entanto sinto-me permanentemente agredido: na rua, na sala de aula, no cinema e até em casa.
Uma porta que range, um parafuso que se precipita, o som da rádio e da televisão, uma voz que se eleva levam-me a um estado de desconforto tal, que, por vezes, me apetece esconder-me. Mas onde?
(...)
Bom seria que na agenda da defesa do planeta e do homem, a poluição sonora não fosse esquecida. O problema é que a maioria (?) parece viver bem neste desconcerto...