29.12.15

Paulo Portas, o bom pastor

Nos últimos anos, CARUMA referiu-se, pelo menos, nove vezes a Paulo Portas. De cada uma dessas vezes, o juízo foi negativo. Apesar dos diferentes cargos exercidos, CARUMA sempre o considerou o ministro da PROPAGANDA. Era inigualável nesse papel, contribuindo decisivamente para a estupidificação da nação...
Ontem, anunciou a saída de cena e pediu aos correligionários que "não tenham medo", vestindo a pele do pastor que continuará vigilante não vá o lobo vermelho papar os indefesos cordeirinhos...
Nesta nova pele, vê-lo-emos de regresso daqui a quatro anos, a não ser que o novo presidente da República decida ocupar o palácio de Belém durante 10 anos...

28.12.15

Hoje, um homem matou uma mulher...

Bem sei que o tema não é adequado à época, mas sinto-me obrigado a retomar o tema da Morte, não já como recompensa, mas como castigo.
Hoje, por exemplo, um homem não só  matou uma mulher, como lhe destruiu o corpo  à bomba. Castigou-a porque quis impedi-la de ser livre. Depois, suicidou-se, reconhecendo certamente  que a sua morte era o castigo que merecia...
Este homem é apenas um entre muitos outros homens que todos os dias matam ou mandam matar porque não suportam que o outro homem possa ser livre.
Na Turquia, há um homem que todos os dias manda matar outros homens porque querem ser curdos, querem ver reconhecida a sua identidade... Um homem que se diz turco, mas que não é diferente do homem de Sacavém, a não ser num pormenor importante: falta-lhe a coragem de se suicidar.
Talvez seja por isso que, num dos últimos dias, pôs a circular a notícia de que teria dado ordens aos seus capangas para que impedissem outro turco de se suicidar numa das pontes de Istambul.

27.12.15

A morte é a nossa recompensa

Japhy: - Que pensas da morte, Ray?
Ray: - Penso que a morte é a nossa recompensa. Quando morremos vamos direitos ao céu nirvana, e pronto.    Jack Kerouac, Os Vagabundos da Verdade, pág. 184, editorial Minerva.

Cada vez menos freudiano, ando longe de desejar a morte, o que não significa que me alheie dela. Não há dia em que me saia do pensamento, até porque, cedo, aprendi a contemplá-la sob a forma de caveira ou senhora de uma gadanha cega que ia segando os campos e as cidades - esta morte era manhosa, surgia quando menos se esperava.
O medo da morte era uma estratégia de sucesso. Instalada na consciência, a morte condicionava os passos e os pensamentos; por vezes, transforma o sonho em pesadelo.

A morte da maioria dos ascendentes e de alguns amigos ainda em  plena força da vida não podia ser explicada por um qualquer imperativo metafísico, nem com recurso a explicações de natureza trágica (nihilista) ou religiosa... Essas explicações não se coadunam com uma visão positiva da vida...

Hoje estou contente, porque concordo com Jack Kerouac: "A morte é a nossa recompensa." Afinal, sempre que me curvei perante a morte de alguém e me despedi com as palavras sóbrias "Descansa em paz", o que eu queria afirmar é que os meus ascendentes e os meus amigos tudo  tinham feito para terem direito a uma derradeira recompensa.
É essa recompensa que justifica os meus dias. porque, na verdade, infelizmente, há  quem não mereça morrer.

26.12.15

O cerrado do meu avô materno

Cerrado: terreno tapado; tapada (Porto editora)

Afinal, o "serralho" do meu avô mais não era do que um equívoco da minha parte.
O curioso é que ninguém questionou que ao quintalório murado eu tivesse  chamado "serralho". E a razão de tal alheamento tanto pode estar relacionada com a azáfama da quadra natalícia, como com o facto de alguém ter imaginado que o meu avô pudesse ser turco, otomano, persa ou árabe...
Na verdade, o meu avô materno era cristão, católico praticante e, sobretudo, vivia os atos litúrgicos de forma emocional, por vezes um pouco excessiva.

Quanto às serralhas, ainda estou a imaginá-las escondidas debaixo de um pedregulho, vá lá saber-se porquê... Talvez, porque o petiz considerasse pouco honroso ter que atravessar a aldeia com uma planta tão viscosa...  

25.12.15

O serralho e as serralhas

Na definição de Nuno Júdice, «o serralho é um espaço governado por eunucos dirigidos pelo tirano Solim...» prefácio de Cartas Persas, de Montesquieu.

Não tenho qualquer motivo para pôr em causa a definição, todavia não posso deixar de confessar que muito antes de pensar em qualquer tipo de harém, já conhecia o serralho do meu avô materno, e lá nunca avistei qualquer concubina.
O serralho era, afinal, um pequeno quintal pedregoso, onde se podia fazer uma pequena horta e, sobretudo, pôr a secar figos e uvas na eira que, por vezes, também protagonizava uma ou outra descamisada ou esfolhada. No serralho havia, sim, um alpendre que não precisava de ser vigiado, pois o meu avô materno andava longe de ser o tirano Solim...
Poder-se-ia pensar que as esposas do Sultão fossem  as serralhas, mas no caso, estas não passavam de leitarugas que, sempre que penso nelas, continuam a incomodar-me. Com frequência, a minha mãe ordenava-me que fosse apanhar serralhas para alimentar os coelhos e era aí que o problema surgia: não só era difícil arrancá-las da terra, como me deixavam as mãos encardidas de um líquido branco que se lhes colava irremediavelmente...
E mais não acrescento para não ficar mal na prosa de infância!

24.12.15

FELIZ NATAL!

CARUMA deseja um FELIZ NATAL a todos os seus leitores e, também, àqueles que a espaços a espreitam a verificar se ainda não se transformou em cinza.

CARUMA não ignora que é preciso paciência para lhe aturar a mania de espetar agulhas em quem se põe a jeito e de insistir em ideias que se afastam cada vez mais dos valores dominantes. Na verdade, cheguei a pensar em desejar um SANTO NATAL, mas desisti ao verificar  que os santos atuais são bem diferentes dos de outrora...

23.12.15

É Natal!

«Os trabalhadores da CP e os seus familiares voltam a viajar gratuitamente nos comboios da empresa a partir de 01 de janeiro, segundo deliberação do Conselho de Administração, repondo um direito suspenso há três anos.
A CP – Comboios de Portugal decidiu repor o direito de os trabalhadores no ativo, cônjuges e filhos em idade escolar (até 25 anos), bem como dos trabalhadores reformados, a um regime de concessões de viagem, isto é, acesso gratuito às viagens em comboios da empresa.
»

Por este andar, o ensino acabará por ser gratuito, tal como a saúde. Os familiares dos empregados dos supermercados passarão a abastecer-se de borla... As famílias dos banqueiros e dos bancários terão direito a crédito ilimitado...

Eu, por mim, espero que o Pai Natal me liberte dos 29,5 % de penalização, apesar dos 41 anos completos de carreira contributiva.
No entanto, não devo ter sorte, pois nunca fui ferroviário, nem pertenci a qualquer conselho de administração, nem integrei nenhum grupo parlamentar...