Ray: - Penso que a morte é a nossa recompensa. Quando morremos vamos direitos ao céu nirvana, e pronto. Jack Kerouac, Os Vagabundos da Verdade, pág. 184, editorial Minerva.
Cada vez menos freudiano, ando longe de desejar a morte, o que não significa que me alheie dela. Não há dia em que me saia do pensamento, até porque, cedo, aprendi a contemplá-la sob a forma de caveira ou senhora de uma gadanha cega que ia segando os campos e as cidades - esta morte era manhosa, surgia quando menos se esperava.
O medo da morte era uma estratégia de sucesso. Instalada na consciência, a morte condicionava os passos e os pensamentos; por vezes, transforma o sonho em pesadelo.
A morte da maioria dos ascendentes e de alguns amigos ainda em plena força da vida não podia ser explicada por um qualquer imperativo metafísico, nem com recurso a explicações de natureza trágica (nihilista) ou religiosa... Essas explicações não se coadunam com uma visão positiva da vida...
Hoje estou contente, porque concordo com Jack Kerouac: "A morte é a nossa recompensa." Afinal, sempre que me curvei perante a morte de alguém e me despedi com as palavras sóbrias "Descansa em paz", o que eu queria afirmar é que os meus ascendentes e os meus amigos tudo tinham feito para terem direito a uma derradeira recompensa.
É essa recompensa que justifica os meus dias. porque, na verdade, infelizmente, há quem não mereça morrer.
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