4.4.16

Olho vê, mão pilha

«Mas os ‘Panama Papers’ batem o recorde em volume de dados, sendo a maior fuga de informação sobre offshores de que há registo: envolvem mais de 214 mil companhias. Os ficheiros incluem emails, fotografias, ‘powerpoints’ e partes da base de dados da Mossack Fonseca, a sociedade de advogados panamiana que está na origem da informação aparentemente mais relevante, num período entre a década de 1970 e 2016.» Imprensa, 4 de abril 2016 

Como escreveu Saramago em Memorial do Convento, «mas isto, confessemo-lo sem vergonha, é uma terra de ladrões, olho vê, mão pilha...» Só que Saramago, na circunstância, referia-se à arte de furtar portuguesa. Afinal, o furto é global, e como o polvo, sabe esconder-se nos lugares mais improváveis. No caso, no Panamá.
Paga-se o trabalho miseravelmente, corta-se nas pensões, condenam-se empresas à falência, colocam-se os povos no pelourinho, e para quê? Para que os abutres vivam à grande pelo menos desde os anos 70!

3.4.16

Pela integração

«Há duas maneiras de organizar a recepção de imigrantes. Uma tem a designação genérica de integração. A outra de multiculturalismo.»  António Barreto, DN, 3 de abril de 2016.
Vale a pena ler o artigo de António Barreto!
No que me diz que respeito, desde de meados dos anos 90 que pugno pela interculturalidade, uma das estratégias possíveis de integração. Nunca percebi como é que politicamente se pode defender a divisão do território em ilhas de cultura (religiosa ou outra...)
A maioria dos conflitos dos últimos 100 anos encontrou nessas ilhas terreno propício ao avanço de projetos de alargamento do chamado "espaço vital". Basta lembrar como Hitler anexou a Áustria, a Renânia, a República Checa, sempre em nome das minorias alemãs...
O que, afinal, em nada se distingue, por exemplo, da estratégia de Putin, mais recentemente...

2.4.16

Leituras várias

Desde as cinco horas que chuvisca e eu fui um dos tolos, embora não me possa queixar, pois o edredão secou enquanto o sol durou. 
Por entre os afazeres domésticos, o dia foi consumido numa caminhada e, sobretudo, em leituras várias: "O dia em que a jararaca voltou"; "Relations Internationales de 1930 à 1939"; "Les agressions allemandes et la marche à la guerre (1938-1939)"; capítulos primeiro e derradeiro de "Memorial do Convento"...  (Talvez, Santo Aleixo nos possa valer!)
Estas leituras podem parecer incongruentes, no entanto dão-nos a compreender a mecânica humana: por um lado a ambição desmedida; por outro, a inconsequência e a cobardia. 
O cruzamento de leituras de índole jornalística (Brasil atual), histórica (conflito entre ditaduras e democracias no séc. XX ) e ficcional, dá ao leitor o distanciamento necessário à compreensão do descalabro civilizacional em que estamos mergulhados.
Infelizmente, esta experiência é cada vez menos partilhada.
 

1.4.16

Para que serve a escola?

Quando não há uma relação direta entre o sucesso na vida e o sucesso escolar, qual é o lugar da escola no mundo atual? 
Tradicionalmente, a pergunta seria "qual é o papel da escola na sociedade atual?"
Na verdade, já não há sociedade e muito menos uma 'sociedade portuguesa' ou até uma 'sociedade europeia'. O que há são corredores que uns tantos percorrem, alheios ao interesse comum, e que, no final, se revelam portas de entrada para a riqueza e para a fama, independentemente dos meios para as atingir...
O sucesso na vida não obedece a qualquer critério ético, apesar de uns tantos continuarem a defender valores verdadeiramente anacrónicos, pois os media e as redes, ditas, sociais veiculam, ao segundo, atitudes e saberes despojados de qualquer criticismo.
A escola mais não é hoje do que um cais para onde são atirados os filhos daqueles que procuram o sucesso na vida a todo o custo nos corredores da desumanização e da alienação...
Nestas condições, para que serve a escola? Para que serve a escolaridade obrigatória de 12 anos?
Do ponto de vista relacional, qualquer observação revela que os laços desenvolvidos são fúteis e, por vezes, antissociais. Do ponto de vista da aprendizagem, não é difícil concluir que a matriz conteudística é desfasada da realidade e, como tal, desinteressante e aborrecida...

31.3.16

A Senhora da Furgoneta

The Lady in the Van. Filme, 2015.

Só hoje vi este filme sobre as relações humanas num bairro londrino no período thatcheriano. Relações postiças que, apesar de tudo, se vão tornando corteses. 
Miss Shepherd sabe como ninguém explorar a má consciência da rua em que instala a sua "furgoneta", obrigando os vizinhos a tolerar-lhe o lixo, a sujidade, a pestilência e uma certa sobranceria. Sobretudo, o "vizinho" Alan Bennet acaba por, ao usá-la como tema de escrita, dar-lhe uma assistência inesperada até porque a recusava à própria mãe...
Por outro lado, este filme revela uma crítica explícita, embora pontual, ao catolicismo, porque fora, afinal, um sacerdote católico que censurara o amor da jovem Margareth (Miss Shepherd) pela música, levando-a entrar num convento... Critica, também, a assistência social inglesa que só muito tarde se ocupou da velha Miss Shepherd.
Esta obra mostra que uma personagem excêntrica e foragida esconde muitas vezes uma vida frustrada, porque os padrões de cultura assim o determinam. E Miss Shepherd nunca aceitou por inteiro esse destino...  
Finalmente, embora o tema possa parecer 'negro', há momentos que são hilariantes, e a interpretação dos atores Maggie Smith e Alex Jennings é excelente.

(Na sessão das 15:20, no Cinema City Alvalade, estiveram apenas 7 (sete) espectadores...)

Nem os lesados do BES /GES!

Ontem, foi celebrado um acordo entre os do costume para que hoje o Novo Banco possa ser posto novamente à venda sem assustar os potenciais compradores.
A leitura do ato é fácil, mas parece que ninguém deu conta disso. Nem os lesados do BES /GES!

30.3.16

Perda de tempo...

Do que ouvi até agora na comissão de inquérito ao Banif, Administração, Banco de Portugal e Governo, colocados sob a pressão de Frankfurt, mais não fizeram do que perder tempo... O mesmo tem vindo a acontecer com o Novo Banco... E provavelmente o mesmo estará a acontecer com o BPI...
Todos dão mostra de grande azáfama na procura de soluções, mas o resultado é a rendição a Frankfurt. Pelo meio, engordam uns tantos à custa do empobrecimento dos restantes.

A perda de tempo deveria ser tratada como 'caso de polícia' e não numa comissão de inquérito, pois esta é, também, uma perda de tempo...