27.5.16

Uma leitura ousada de Frei Luís de Sousa

Santarém
Eis, aqui, ao lado, uma leitura ousada do III ato de Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett. 
Se for a Santarém, não se esqueça de observar esta escultura, mesmo ao lado da Avenida do Brasil, bem perto da Domus Justiae.
E já agora aproveite para (re)ler o drama que melhor dá conta da veia dramática de um dos portugueses que mais se esforçou por tornar Portugal um país civilizado.
(Esta postagem é dedicada a todos aqueles que um dia me asseguraram que leram o drama cujo o autor tencionava revolucionar o teatro português.)

26.5.16

Em nome do rigor pedagógico

Em nome da transparência das decisões, do rigor orçamental e da qualidade pedagógica, bom seria que todos tivéssemos acesso ao custo de cada escola, pública ou privada.
Estou em crer que a atual polémica em nada serve a melhoria do sistema educativo, pois, se no universo das escolas privadas há quem se sirva delas para acumular riqueza pessoal, no universo das escolas públicas, embora haja muitas geridas com rigor não apenas financeiro mas também pedagógico, outras há que mais não são do que sorvedouro de dinheiros públicos.

É preciso saber o que é feito do dinheiro entregue a cada estabelecimento de ensino, recorrendo a uma observação que contemple o investimento na qualidade do ensino e da aprendizagem. Não basta olhar para os resultados no final de cada ano escolar e continuar a despejar dinheiro em programas de recuperação oportunistas...

25.5.16

Feriados e dias santos

Feriado - diz-se do dia em que se suspende o trabalho e as aulas, por prescrição civil ou religiosa.

Em Portugal, os dias santos de religiões, que não a católica, não são feriados. Porquê?
Creio que um governo socialista, apoiado pelas forças de esquerda, deveria acabar com esta discriminação.
Se todas as religiões devem ter o direito de celebrar os seus deuses e o seus santos, não se entende que, em pleno século XXI, a matriz do Estado Português continue a ser o Catolicismo.

Pessoalmente, não entendo por que motivo grande parte da população, que vive distante de qualquer religião, é obrigada a usufruir de um dia santo como, por exemplo, o do Corpo de Deus.

Demagogia e oportunismo...

24.5.16

Ainda se o professor pudesse aplicar a extrema unção!

Esbaforido, só lhe importa saber quando é que pode realizar os testes em atraso. Não se importa de fazê-lo por atacado.
Outro, nem sequer aparece, mas manda mensagem ao colega para que ele coloque a mesma pergunta. Neste caso, respondo sempre do mesmo modo ao mediador: - Veremos!
Claro que ainda há aqueles que não aparecem nem dão qualquer explicação com ou sem recurso a mediador - colega, diretor de turma. Um destes dias, irão aparecer com o ar mais cândido, justificando que estiveram doentes e que já é tarde para realizar qualquer tipo de tarefa... 

Na escola pública, o professor, como o médico ou o confessor, tem de estar sempre disponível. Ainda se o professor pudesse aplicar a extrema unção! Não consta que algum moribundo tenha sido obrigado a prestar uma derradeira prova, a não ser a do temor de que o confessor possa estar farto de água benta... e chegue fora de horas...

Estes incidentes, noutros tempos, eram críticos, agora não passam de contratempos. 
Qualquer semelhança com a realidade é pura fantasia de quem se enganou na vocação.

23.5.16

O que dói

O que dói é saber.
O que dói
é a pátria que nos divide e mata
antes de se morrer.
Eugénio de Andrade, setembro 72

O que dói
é não querer saber
ou fingir não saber
que as pátrias nos dividem e nos matam
antes de se morrer.

O que dói
é haver quem pense que matar é um ato figurado
e que, a ter ocorrido, foi noutro tempo...
e noutro lugar.

O que dói
é haver quem pense que se morre
apenas quando tiver de ser...

O que dói
não é sofrer o que tem de ser.
O que dói
é saber que há quem nos impeça de viver.

22.5.16

Solilóquio? Creio que sim...

Solilóquio? Creio que sim. 
O solilóquio é uma fala que alguém dirige a si próprio. De certo modo, esta fala não pode ser considerada réplica, pois esta pressupõe a existência de um diálogo ou, pelo menos, um colóquio. Como alguns querem, ando muito longe da interação.
Eu bem gostava de interagir, mas lá, no fundo, sinto que de mim só querem conformidade. 
(...) 
E o solilóquio arrasta-me para a ataraxia de Demócrito - a tranquilidade de alma, a ausência de perturbação - bem próxima da apatia dos estóicos...
No entanto, por mais que me esforce, há sempre alguém a desassossegar-me. E os caminhos do desassossego são tantos que, em certos momentos, me apetece acabar com o próprio solilóquio... 

Bem sei que os Poetas sabem como resolver o problema, mas eu não. Nunca fui poeta! Tolo, sim!

21.5.16

O binómio de Cesário Verde irrita-me

Binómio é uma noção cujo termo é composto pelo prefixo bi e por um vocábulo grego que se pode traduzir como “parte” ou “porção”. Isto significa que um binómio é formado por duas partes.

Há binómios irritantes! Um deles é o famoso binómio de Cesário Verde. Não há manual - sebenta, aluno ou professor - que não fale do binómio 'cidade-campo' na poesia de Cesário Verde. O único que nunca usou tal termo foi o Poeta.
No essencial, Cesário Verde foi reduzido a esse binómio. Independentemente da pergunta, as respostas começam todas pelo binómio: o poeta, cansado da cidade, refugia-se no campo...
Embora o Poeta tenha introduzido a modernidade, no sentido baudelairiano do termo, na literatura portuguesa, isto é, tenha deslocado o olhar do campo para a cidade, descrevendo-a, à luz do sol e da iluminação pública, nas suas 24 horas, tenha desenhado os tipos sociais que  a povoavam e, em particular, as desigualdades, tenha condenado a injustiça e celebrado o trabalho, a verdade é que a imagem que dele se vulgarizou coloca no mesmo patamar o campo. 
E fá-lo sem sequer se dar ao trabalho de assinalar que o campo de Cesário é totalmente diferente daquele que durante centenas de anos suportou a literatura ocidental. O campo de Cesário é um campo produtivo, ao contrário do campo do classicismo e do romantismo, onde nada acontecia a não ser algumas cenas cinegéticas, piscatórias... sem esquecer as amorosas, felizes ou trágicas...
O campo de Cesário não é um espaço de evasão, mas um território que continua o espaço do trabalho citadino, apesar de mais eufórico...
De qualquer modo, a novidade que Cesário nos trouxe foi a CIDADE - a Modernidade com todas as suas contradições.