19.8.16

Vão estudar, malandros!

Desta vez, tenho que estar de acordo com o BCE.
Um Governo socialista, apoiado por partidos à sua esquerda, esqueceu-se de colocar 30% de mulheres no topo da CGD. Lembra o atual executivo brasileiro...
Um Governo socialista quer que a CGD seja "governada" por 19 administradores, contrariando a norma europeia.
Um Governo socialista promove a acumulação de interesses privados no banco de que o Estado é o único acionista.
Um Governo socialista nomeia para cargos executivos "rapazes" sem formação adequada e ainda se prepara para lhes pagar as propinas numa instituição sediada em Fontainebleau. Por seu turno, os três rapazes (João Tudela Martins, Paulo Rodrigues da Silva e Pedro Leitão) não se queixam  por serem obrigados a frequentar, em regime post-laboral,  o curso de Gestão Bancária Estratégica do Insead.

Enfim, perante a argumentação de rejeição das decisões do BCE, ainda fico à espera que o senhor Mário Draghi imponha que o secretário de Estado do Tesouro, Ricardo Mourinho Félix, vá frequentar um curso de Administração da Fazenda Pública...

18.8.16

Uma história elementar

Caim, o primogénito, era senhor dos campos que a sua vista conseguia enxergar e neles não havia lugar para os rebanhos do seu irmão, Abel. Este, inicialmente, resignou-se e levou o seu gado para o outro lado do alcance de Caim.
Só que, certo dia, os montes começaram a secar, e Abel viu-se obrigado a procurar novo pasto no fecundo horto de Caim. Os rebanhos de Abel, famintos, devoravam as primícias que iam encontrando pelo caminho...
Um caminho sem regresso, pois Caim, irado, acabou por degolar o infeliz Abel.

Esta é uma história em que o Senhor não pôs nem dispôs. A causa tem que ser procurada nos pais, Adão e Eva, que não souberam educar os filhos. E assim continuamos. De nada serve pensar que Caim, mais tarde, se terá arrependido, e que isso bastaria para que o mundo se tornasse mais solidário. 

17.8.16

O direito à autodeterminação

A colonização é apresentada como "globalmente positiva". Nesse balanço, o destaque é dado às infraestruturas herdadas da colonização, sem esquecer o contributo para a fundação dos novos estados modernos - versão corrigida do que outrora era designado por "missão civilizadora". Por outro lado, a tendência é para desvalorizar a ação repressiva, voltando as costas à ação dos exércitos coloniais e à "selvajaria" dos insurretos.
Na obra Massacres Coloniaux - 1944-1950: la IVè Republique et la mise au pas des colonies françaises, ed. La Découverte, YVES BENOT explica que, entre 1944-1950, " ces répressions ont lieu dans un temps où s'achève une guerre mondiale dont deux des principaux protagonistes, l'Angleterre et les États-Unis, ont défini les termes de la Charte de l'Atlantique (août 1941) qui proclame notamment le principe du droit des peuples à disposé d'eux-mêmes, autrement dit, l'autodétermination". Principe repris dans la Charte des Nations unies dont la France est cofondatrice en 1945. 
Basta olhar para o historial dos massacres perpetrados pelos franceses para perceber que o princípio consagrado na Carta das Nações Unidas foi totalmente desrespeitado:
  • O massacre de Sétif teve início no dia 8 de maio de 1945, fazendo dezenas de milhares de vítimas argelinas ( e apenas 102 vítimas europeias).
  • Os massacres de Rabat-Salé e de Fez, em Marrocos, janeiro-fevereiro de 1944.
  • O massacre de Haiphong, no Vietname, em novembro de 1946.
  • O massacre de Madagascar, em 1947-1948.
  • O massacre de Casablanca, em abril de 1947.
  • O massacre da Costa do Marfim, em janeiro de 1950.

O direito à autodeterminação radica numa linha de pensamento inaugurada por Diderot e pelo abade Rayal, consagrada ainda durante a Segunda Grande Guerra, mas isso não impediu os vencedores de o ignorar. Basta ver como Salazar constrói uma doutrina colonialista que lhe permitiu avançar para a guerra, à margem dos processos de descolonização em curso desde os anos 40...
E hoje, países como a Turquia ou a Rússia continuam a fazer tábua rasa desse princípio, eliminando e anexando...
( Referência inicial: Augusta Conchiglia, Massacres Coloniaux, Nouvel Afrique-Asie, nº 63, Déc. 1994)

16.8.16

Teta Lando, taxeiro

Desvario linguístico:

Identificado como simpatizante da FNLA, Teta Lando foi forçado a procurar refúgio na vizinha República do Zaire. " Logo que cheguei fui convidado para cantar com aquele que é, quanto a mim, o maior artista que África já produziu, Franco Luambo Makiadi*. Só não o fiz porque o salário que me ofereciam era muito pequeno. E como a única coisa que tinha levado comigo era o carro, tornei-me tacheiro." Motorista de táxi na desvairada cidade de Kinshasa. A sua situação espantava e incomodava os angolanos. "Às vezes apareciam clientes angolanos. Teta Lando? Você por aqui, e ainda por cima taxeiro?!" Público Magazine, 8 de janeiro de 1995.


15.8.16

Estórias inverosímeis

Um pouco à deriva, sem compreender por que motivo um país de costas voltadas para a espiritualidade, usufrui de mais um dia santo cuja imagética é, em si, suficientemente fantasista, ataco as páginas de jornais que persistem em assombrar-me, e lá vou encontrando “estórias inverosímeis”, mas perturbadoramente atuais…
Os meninos da rua
«Os meninos de rua, fenómeno recente em Angola, contam-se já aos milhares. Na sua maior parte, ocupam o dia vendendo todo o tipo de utensílios, que por sua vez adquirem a preços ligeiramente inferiores no grande paralelo de Luanda, o Roque Santeiro: vendem cigarros, canivetes, relógios, pentes, máquinas de calcular, espelhos, rádios, secadores de cabelo, e até aparelhos de ar condicionado. Outros lavam carros, transportam volumes, pedem esmola. À noite estendem-se nos passeios ou constroem pequenas barracas nas areias da Ilha, onde outrora os luandenses iam namorar.»
Palavra de honra
«Dirigiram os dois a casa do presumível ladrão. O homem convidou-os a entrar, ofereceu-lhes de beber e finalmente quis saber o motivo da visita. Quando Carlos disse ao que vinham, o ladrão sobressaltou-se: “Palavra de honra que não fui eu”, garantiu, “aliás, se tivesse sido, vendia-lhe já o carro!»
Homem nu
«Pouca gente repara neste homem, que há vários meses se passeia nu em ferente ao parlamento. O fotógrafo do Público repara. Levanta a máquina, e depois volta a baixá-la horrorizado: “Não posso fotografar isto!” O homem tem uma ferida aberta no ventre e os intestinos expostos à luz.»
Dias Kanombo, investigador kimbanguista*
“O Grilo”, sempre vestido de verde, muda de nome consoante o interlocutor, saltando do português para o francês, o inglês ou até o sueco, com a mesma facilidade com que falava umbundu, kikongo ou otchivambo, o luminoso idioma do seu próprio povo – os quanhamas…
(Nascido no Cuvelai, no Cunene, Kanombo é neto por linha materna do régulo local. O pai, alfaiate e pastor, era também catequista numa missão luterana finlandesa. Kanombo chegou a frequentar o seminário, mas rapidamente concluiu que não tinha vocação para padre, vindo a completar o ensino secundário no Liceu do Lubango. Mais tarde, frequentou a Universidade Kopta, no Egito, licenciando-se em Egiptologia…)
Nos anos 80 foi um dos mais ativos elementos da juventude da UNITA em Portugal. Em 1992, reapareceu em Luanda, durante a campanha eleitoral, despertando dúvidas antigas: “Afinal, para quem trabalha este homem?” Kanombo responde com uma gargalhada: “Trabalho para o Ciciba, Centro de Investigação da Civilização Bantu, e estou agora baseado em Durban, na África do Sul, onde estudo a relação entre o antigo idioma egípcio e algumas línguas bantu, em particular o zulu
*Tudo terá começado na pequena aldeia de Nkamba, então Congo Belga, a 8 de março  de 1921. Nessa noite, Simão Kimbangu, catequista, antigo aluno de uma missão batista inglesa sonhou que um anjo o visitava. Soube no mesmo instante que era reencarnação do Espírito Santo e que tinha vindo ao mundo cumprir uma missão: “Os povos negros foram os primeiros a cortar relações com Deus”, explica Dias Konambo “em consequência disso são os principais responsáveis pela decadência do mundo”. A missão do Espírito Santo, encarnado no pobre catequista de Nkamba, seria a de recuperar para Deus os negros de África, salvando assim toda a humanidade (…). Hoje (Público, 8 de janeiro de1995) o kimbanguismo é a religião mais popular do Zaire. Na África do Sul, milhões de negros, os sionistas, seguem os seus ensinamentos, enquanto no Egipto encontrou o apoio irrestrito da Igreja Kopta.

Nota: O Kimbanguismo é um Cristianismo resultante dos ensinamentos e obras de Papá Simon Kimbangu baseados no Amor, Obediência as leis de Deus e o empenho no trabalho. É uma nova civilização que pretende implementar as bases do humanismo pelo temor de Deus e o respeito do ser humano sem discriminação de raça, tribo e línguas. O kimbanguismo é a filosofia do renascimento do povo de Deus sustentando a visão do respeito dos valores Divinos e humanos. Em suma, o kimbanguismo é uma visão teo-antropocêntrica.
(Mais uma organização tentacular!)

14.8.16

Diz o roto sobre o nu

"Diz o roto ao nu", neste caso "sobre o nu", pois a vontade de encontrar cumplicidade é mais forte...
Lá na terra, nem pastor era, ajudava na condução e recolha do rebanho comunitário, quando um forasteiro lhe contou que em Lisboa é que a vida era boa... Sem perder tempo, abalou para a capital.
Ainda se pensou que estivesse destinado a ajudante de pedreiro, mas não, em Lisboa, os ajudantes de pedreiro são todos engenheiros... Sem saber como, um conterrâneo arranjou-lhe trabalho numa pastelaria. 
E o roto, em vez de aviar o freguês, lá vai dizendo que o colega nem o almoço merece...   

13.8.16

Organizações tentaculares

Há coisas que eu não compreendo:
  1. " A rede internacional Feithullah Gülen conta com uma cadeia de rádios, televisões, jornais, centros educativos, empresas, associações e fundações em mais de 140 países."
  2. "Vivem na Alemanha perto de 100 mil «güllenistas», além de 150 associações, 25 escolas, 15 «centros de diálogo» e um jornal, o diário «Zaman», com um cordão umbilical ao grupo religioso(...) sem se saber o que realmente são: «uma comunidade de crentes islâmicos conservadores, uma rede profissional de caracter missionário ou um movimento político islamita radical»". Expresso, 13 de agosto de 2016
     A verdade é que eu não compreendo que se deixem constituir organizações tentaculares no interior de estados de direito que deviam zelar pelo interesse coletivo.