17.8.16

O direito à autodeterminação

A colonização é apresentada como "globalmente positiva". Nesse balanço, o destaque é dado às infraestruturas herdadas da colonização, sem esquecer o contributo para a fundação dos novos estados modernos - versão corrigida do que outrora era designado por "missão civilizadora". Por outro lado, a tendência é para desvalorizar a ação repressiva, voltando as costas à ação dos exércitos coloniais e à "selvajaria" dos insurretos.
Na obra Massacres Coloniaux - 1944-1950: la IVè Republique et la mise au pas des colonies françaises, ed. La Découverte, YVES BENOT explica que, entre 1944-1950, " ces répressions ont lieu dans un temps où s'achève une guerre mondiale dont deux des principaux protagonistes, l'Angleterre et les États-Unis, ont défini les termes de la Charte de l'Atlantique (août 1941) qui proclame notamment le principe du droit des peuples à disposé d'eux-mêmes, autrement dit, l'autodétermination". Principe repris dans la Charte des Nations unies dont la France est cofondatrice en 1945. 
Basta olhar para o historial dos massacres perpetrados pelos franceses para perceber que o princípio consagrado na Carta das Nações Unidas foi totalmente desrespeitado:
  • O massacre de Sétif teve início no dia 8 de maio de 1945, fazendo dezenas de milhares de vítimas argelinas ( e apenas 102 vítimas europeias).
  • Os massacres de Rabat-Salé e de Fez, em Marrocos, janeiro-fevereiro de 1944.
  • O massacre de Haiphong, no Vietname, em novembro de 1946.
  • O massacre de Madagascar, em 1947-1948.
  • O massacre de Casablanca, em abril de 1947.
  • O massacre da Costa do Marfim, em janeiro de 1950.

O direito à autodeterminação radica numa linha de pensamento inaugurada por Diderot e pelo abade Rayal, consagrada ainda durante a Segunda Grande Guerra, mas isso não impediu os vencedores de o ignorar. Basta ver como Salazar constrói uma doutrina colonialista que lhe permitiu avançar para a guerra, à margem dos processos de descolonização em curso desde os anos 40...
E hoje, países como a Turquia ou a Rússia continuam a fazer tábua rasa desse princípio, eliminando e anexando...
( Referência inicial: Augusta Conchiglia, Massacres Coloniaux, Nouvel Afrique-Asie, nº 63, Déc. 1994)

Sem comentários:

Enviar um comentário