11.1.17

Névoa

Desilusão? Talvez!
No entanto, sinto dificuldade em determinar se houve um tempo de ilusão, no sentido em que o imaginário é o que está por descobrir, por construir, por melhorar...
Sei que a História está cheia de madrugadas radiosas, as minhas, contudo, foram sempre enevoadas, sem que, alguma vez, me tenha imaginado redentor de qualquer ilha ou continente.
Porque a terra é um lugar de tristeza, admiro quem celebra a alegria, porém tudo faço para não me deixar inebriar, porque a fronteira é indistinta.
Apesar de tudo, a névoa em que vivo não é minha - como tal não necessito de padre ou de analista - uma névoa que, a pouco e pouco, submerge as margens em que arrisco cada dia...
Estranho é admitir um qualquer estado de desilusão se nunca a ilusão amanheceu. 
Estou mesmo a ver que, um destes dias, tudo é nada.

10.1.17

Uma escola envergonhada

(A propósito das exéquias de Mário Soares.)

Será que a Escola deve alguma coisa à Democracia? Será a Escola um pilar da Democracia?
Por definição, a Escola pode ser um pilar da Ditadura, tal como o pode ser da Democracia.

Descendo ao particular, cada escola vem reclamando para si uma atuação democrática, mesmo quando suportava a Ditadura...

Na Ditadura e na Democracia, a Escola serve, sendo desejável que não se sirva a si própria...
Por vezes, vem-me à ideia que sou agente de uma escola que, em parte, vive na clandestinidade ou que tem vergonha de defender os valores democráticos...
Entretanto, os inimigos da Democracia não perdem uma oportunidade... 

9.1.17

Os dias da euforia já lá vão!

"Não é a multidão que se esperava!" comentário de repórter da SIC.

Já lá vai o tempo da vassalagem, já lá vai o tempo da arraia-miúda! Nem sequer o Estado tem coragem para mover as "forças vivas"... Ainda se fosse um "herói" da bola... Os deuses de hoje já não são majestáticos, nem iluminam as vidas dos súbditos...
Só o futebol e a religião conseguem aquecer o coração do povo miúdo, aquele povo que vive da caridade, de subsídios, do ordenado mínimo, de pensões depreciadas, de vencimentos estagnados... de promessas por cumprir...
A democracia tem destas coisas - banalizou a morte, até porque se esqueceu da sua própria natureza, ao criar novas oligarquias, inevitavelmente odiosas ao povo miúdo.
E depois há que não esquecer que a História se faz de factos e de correlações, impossíveis de entender quando não tendo memória, o regime se vem esforçando por aboli-la.
Assim, sobra a opinião que é reativa e, em regra, preconceituosa.
Por estes dias, o povo não vê razão para sair à rua... Os dias da euforia já lá vão e neles ficou sepultado um dos protagonistas da instauração do regime democrático - Mário Soares.

8.1.17

Aborrece-me

Aborrece-me que a morte possa ser um espetáculo, mesmo que o falecido tenha sido protagonista de um determinado tempo...
Aborrece-me a memória seletiva dos abutres que vão caindo sobre a presa, esquecidos de outros tempos em que a pobreza coletiva lhes fornecia o pasto diário...
Aborrece-me que quem tem como missão zelar para que a escola seja um espaço de educação e de aprendizagem se comporte como um qualquer garimpeiro...
Há tantas atitudes que me aborrecem que o melhor é remeter-me ao silêncio... 

7.1.17

Mário Soares, a boa moeda

O meu tempo teria sido bem diferente sem a ousadia de Mário Soares! Antes do 25 de Abril sempre soube acolher e defender todos os que pugnavam pela liberdade. Depois do 25 de abril, soube enfrentar as forças que tinham uma visão restritiva da liberdade...
Consciente da fragilidade económica de Portugal, Mário Soares abriu-nos as portas da Europa e do Euro, apesar de bem saber que o interesse dos grandes da União Europeia era distinto do caminho que o país precisava de trilhar... Mas sempre assim fora no passado!
A ousadia de Mário Soares devolveu Portugal à Europa e, no meu caso, livrou-me de uma guerra colonial sem futuro.
Para mim, basta-me este Mário Soares! O outro, o de que tanto se fala, neste momento, não me interessa.

6.1.17

A moeda errada

As palavras escritas correspondem cada vez mais à moeda errada. O seu valor tem vindo a depreciar-se, de tal modo que poucos as leem e os que o fazem calam-nas ou desvalorizam-nas sob a capa do relativismo... da subjetividade.
Esta tendência anda a par com a uma certa ideia de democracia, em que uns tantos insistem em manter (ou recuperar) privilégios de forma consuetudinária...
Se, por uns tempos, a palavra escrita foi uma forma de resistência, isso significava que ainda havia quem se deixasse persuadir pelo argumento ou pela emoção...
Hoje os argumentos são tão incongruentes e as emoções tão artificiais que a pluma já só procura o sulco para nele definhar.

5.1.17

Para que serve a escola?

(Esta nota não visa responder à pergunta: - "Que modelo de gestão para uma escola democrática?" )

Quando o adjetivo pesa mais do que o nome, fico preocupado.
Creio que, num regime democrático do séc. XXI, a pergunta deveria ser: Como construir uma escola que dê resposta às atuais necessidades de educação e de instrução?
Para isso, e não é tarefa fácil, é preciso elencar os objetivos, numa perspetiva de futuro, definir os modos de operacionalização, sem esquecer os diversos recursos que, também eles, serão distintos dos tradicionais...
Sem esta clarificação, de pouco serve refletir sobre modelos de gestão e, em particular, sobre a democraticidade do modelo, pois a participação de todos os atores na decisão, por si, não resolve a questão principal...
De nada serve perspetivar o futuro com os olhos do passado, porque, a continuarmos com a atual disposição mental, a escola será cada vez mais obsoleta.