4.5.19

A peste

Ainda estou a recuperar do castigo… do tempo perdido.
Face à balbúrdia instalada, só me resta aquietar-me, não venha o velho Tirésias revelar-me que sou fruto de algum desmando ancestral, e que para sempre devo penitenciar-me… cegar-me. 

3.5.19

O canivete português

Ainda pensei na espada de Dâmocles! Depois pensei na Excalibur… no gládio ungido do Mestre da Paz… no entanto, vou ficar-me pelo canivete português - à sorrelfa, o truão lá vai repartindo o quinhão.
O resto é conversa de empanturrar! Por exemplo, diz o enfatuado: - "O professor no topo de carreira ganha « à roda de três mil euros.» Ganha mas não recebe! Em muitos casos, não chega a receber 1900 euros líquidos…
Vá lá! Multipliquem por 14...

2.5.19

Amanhã

Francisco Goya, 3 de maio de 1808

Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya
 (Poema lido por Eunice Muñoz)

(…) Tudo é possível,  
ainda quando lutemos, como devemos lutar,  
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça, 
ou mais que qualquer delas uma fiel  
dedicação à honra de estar vivo.  
(…)
Jorge de Sena


Este espantoso quadro de Goya é uma das imagens mais memoráveis da desumanidade do homem para com o homem. Os exércitos de Napoleão ocuparam a Espanha, mas no dia 2 de maio de 1808, os cidadãos de Madrid levantaram-se contra os franceses. No dia seguinte, o exército francês revidou com uma terrível vingança, executando centenas de rebeldes e muitas outras pessoas que eram apenas observadores dos inocentes. Goya só conseguiu registrar esses factos alguns anos depois, quando o rei Fernando VII foi reconduzido no trono espanhol. O quadro transcende o contexto histórico específico e demonstra duas características principais da arte de Goya: suas imagens marcantes e diretas, e sua moralidade que questiona mas, em última análise, é distanciada.
Este quadro de Goya intitula-se O 3 de Maio de 1808 em Madrid: Os Fuzilamentos na Montanha do Príncipe Pio, embora também seja conhecido por Os Fuzilamentos da Moncloa.
É pintado de forma totalmente anti-retórica: num charco de sangue, três cadáveres no chão, enquanto um frade e alguns camponeses esperam receber a descarga; aproxima-se deles uma outra fila de condenados que vão morrer. É noite; contra o céu escuro recorta-se o perfil da capital e, em primeiro plano, rodeado de luzes e sombras projetadas de encontro ao muro por uma lanterna, tem lugar a execução brutal e sem piedade.
A atenção concentra-se na figura do condenado de camisa branca e com os braços em cruz que desafia os soldados sem rosto, curvados e fixos no ponto de mira, enquanto o frade reza e os restantes fazem gestos de desespero, numa atmosfera ainda mais gélida, devido ao sangue que se espalha pelo chão e que chega aos pés dos algozes.
A camisa imaculada, prestes a ser trespassada pelas balas, converte-se no estandarte de uma denúncia universal contra a guerra.
              Simone Martins, 7 de outubro de 2017

30.4.19

Varado

Ao fim de 45 anos, Armando Vara decidiu abandonar o Partido «para evitar qualquer embaraço»... E eu que pensava que ele já tinha sido expulso!
São estas cumplicidades que vão dando cabo da Democracia. 
(…)
Diz o ministro das Finanças que o País não pode suportar encargos de 635 milhões de euros com os professores. Talvez! O número é de tal dimensão que tenho dificuldade em acreditar na palavra de Centeno. 
No entanto, o mesmo ministro está preparado para gastar mais de mil milhões de euros com o Novo Banco…

28.4.19

De plantão

Lembra-me aquele dia em que assentei praça no Quartel das Caldas da Rainha e, logo ali, fiquei de plantão. Nem os azulejos das casas de banho me escaparam…
Há dias assim! Cada vez mais, sempre a servir, caso contrário o caos instala-se definitivamente. Não se trata de uma condenação, mas de contenção da irracionalidade - o aluvião.
Fico-me por aqui! 
Se não me entendem é porque nunca estiveram de plantão. Explicar para quê?
Em Espanha, por exemplo, andam todos cheios de razão, porque nunca enfrentaram um pelotão de fuzilamento… Já passaram 80 anos!

27.4.19

O talento português

«... proponho que olhemos o talento como 'uma expressão concentrada de saberes e competências', dirigidas para a realização de algo concreto.» Luís Bento, O Prazer da Transgressão, pág. 26, On y Va, 2019

No entanto, com tanta gente jeitosa na montra, esperar-se-ia mais obra, mas, infelizmente, esta é pouca e de qualidade ranhosa.
Por exemplo, depois de nos dizerem que 'a europa é aqui' ou que 'nós somos a europa', agora querem convencer-nos que devemos 'gastar bem os dinheiros da europa'... 
Nem era preciso afixar cartazes com tais proclamações. 
Houve sempre quem revelasse um talento especial para se apropriar das especiarias da Índia, do ouro do Brasil, do bacalhau da Terra Nova, das remessas dos emigrantes, dos diamantes e do café de Angola, São Tomé e Timor, dos fundos estruturais europeus, dos empréstimos do FMI e do BCE…
Não nos faltam nem manhas nem ardis para fintar todo o mundo e ninguém. Não me venham é dizer que a 'europa é aqui' ou que 'nós somos a europa'. Por favor, não desvirtuem o glorioso passado!

26.4.19

Uma conversa esclarecida

«O António Barrasquinho, o Batola, não tem ninguém para conversar, não tem nada que fazer. Está preso e apagado ao silêncio que o cerca.» Manuel da Fonseca, Sempre é uma companhia.

Se me colocar no lugar do Batola, apenas conversarei sobre o tempo e, talvez, sobre a desertificação da planície sem pedir contas aos holandeses e aos franceses que alugam as herdades…
Se vestir a pele do António Barrasquinho, não o acompanharei no assombramento que o invade, mas estarei com ele no que respeita à inexistência de parceiro para conversar…
Uma conversa esclarecida sobre o que nos cerca faz falta. Por exemplo, sobre o que acontece por estes dias em Espanha, em França, em Marrocos ou na Argélia…
A novidade do que por lá ocorre seria uma boa ajuda para sacudir o marasmo que nos asfixia ou escrutar a «mão de vaca» do Centeno.