4.8.19

Hans Castorp

Vou titular este post com o nome do protagonista - Hans Castorp para que percebam que não fui eu que subi à montanha. Agora, encontra-se na sala de jantar, pela terceira vez no mesmo dia. Muito se come naquele sanatório!
Eu encontro-me muito mais a sul, num país do Sul, a apanhar sol forçado, pois detesto areia e calor. Nos intervalos, sigo Hans Castorp, apesar de, hoje, na praia da Torralta, ter sentido inveja de Thomas Mann - ele não teria perdido a oportunidade de relatar o cavaco daqueles dois «amigos» que, de pé, e ao sol, falaram de tudo durante mais de duas horas… A mim, falta-me o fôlego… 

3.8.19

No Sanatório

Já viajei de Hamburgo a Davos. Agora, encontro-me no Sanatório, rodeado de criaturas debilitadas para quem o tempo se mede por parâmetros distintos dos meus… Ainda defendo que me encontro de perfeita saúde, apesar da anemia que me vai esverdeando… Começo, no entanto, a duvidar se as três semanas que reservei para esta viagem serão suficientes, mas nada mais posso acrescentar, exceto que… Fica para outro dia!

1.8.19

A Montanha

«Entrei em julho muito cansado, a precisar não sei bem do quê, pois nos meses de julho e de agosto sempre me vi em trabalhos inesperados.» 5.07.2019

E este julho não fugiu à tradição. Mais não posso dizer. Não sei se se trata de maldição!
Chegado a Agosto, tenho uma clara intenção: Ler A Montanha Mágica de Thomas Mann. A edição da Dom Quixote pesa mil e 100 gramas, e a letra é pequeníssima - mais uma dificuldade! 
Quanto ao trabalho, desta vez, é procurado e sinto que não posso perder esta oportunidade… 
No fim, se lá chegar, veremos se a "montanha" é "mágica"...

31.7.19

Os abençoados fiéis

Só por ironia é que estes fiéis são abençoados, pois nem nome de igreja têm. Os nomes são de casa ou de vizinhança - e são emblemáticos como não poderia deixar de acontecer em meios pequenos. Alferce lembra-me a minha aldeia em que cada fogo abrigava uma linhagem de proezas, constantemente rebaixadas pelos vizinhos… É certo que lá não havia uma bruxa do calibre da da Corte da Pomba, mas havia umas bruxinhas capazes por o Demo em sentido, quanto mais o 'abade' itinerante, pois os indígenas andavam por terras mais férteis, de preferência na capital ou nas redondezas…
A composição de António Manuel Venda revela-se coesa, porque as ações de cada 'individualidade' se enredam de tal modo que o leitor consegue progressivamente recriar aquele espaço algarvio nos seus constituintes mais genuínos, a começar pelo decantar da língua, ficando com vontade de o procurar numa das próximas viagens, mesmo que pressinta que uma parte só a leitura no-la faculta…

29.7.19

Para fugir da redundância

No beco… sem saída.
A ideia que fica é que não é possível voltar para trás, fazer inversão de marcha. De qualquer modo, para esclarecer a redundância, é necessário identificar o sujeito da ação. Desde que o sujeito seja outro, que não o próprio, tudo parece possível.
Tudo o que caminha vai e volta ou, pelo menos, acreditamos que sim. Só o próprio é que caminha, o mais lentamente possível, até bater na parede, na meia-noite da Sintra pessoana - a tal inevitável metáfora do chevrolet, que ainda não entendemos que é nome de todas as figuras. 

28.7.19

No beco

Ao balcão, a senhora abre a mala. O lojista pergunta-lhe: - Quer alguma coisa? Ela, hesitante, responde: Sim, mas não sei o quê?
Paciente, ele diz: - Talvez um maço de tabaco! 
Ela confirma, mas parece perdida. Não compreende que deve pagar 4.90 € pelo tabaco ou, talvez, quisesse comprar O Sol… sem pombos!
Entretanto, afastei-me. Percebi que para o vendedor a situação não era insólita… e pensei que entrar no beco era isso, mas sem saber.

27.7.19

Saber viver com os achaques

«L'important n'est pas de guérir, mais de bien vivre avec ses maux.» Palavras do abade Galiani a Mme. de Épinay

Num tempo em que a cura é o primeiro objetivo de novos e velhos, e é prometida e vendida por mercadores de todo o tipo, as palavras do abade-economista fazem todo o sentido, mesmo se as das Épinay de hoje reduzem tudo ao ginásio e à farmácia…
Conhecer as limitações, não se deixar dominar por elas, testá-las é, afinal, o caminho… e, sobretudo, não acreditar em milagres de qualquer natureza - pensamento proibido a um abade!
E aproveitar o que se nos atravessa no caminho. Neste caso, por atalhos de David Mourão-Ferreira e de André Gide, voltei ao século XVIII, mesmo que seja mais fácil bater à porta de Mme. de Épinay do que de Ferdinando Galiano (1728-1787), autor de Della Monetta, 1750; Dialogues sur le commerce des bleds, 1770; Doveri del principe neutrali, 1782.