22.12.19

O parque de estacionamento "Oceanário" é caro e serve mal

O parque de estacionamento 'Oceanário' fica ali ao lado - serve o Teatro de Camões, o Oceanário, a marina… 
Porém, serve mal!
Logo, à entrada, surge o aviso de que a Via Verde não está disponível. A caixa de pagamento fica no piso 0, o que nos dias de maior afluência provoca inevitáveis e demoradas filas. Apesar do elevado custo, o multibanco também não funciona...
Quanto aos acessos ao exterior, ninguém se ocupa da sua limpeza, sobretudo, em dias de chuva e nas horas em que os javardos vomitam escada abaixo, gerando situações que podem provocar quedas extremamente graves…
E claro, vigilante, assistente, funcionário, ninguém lhe(s) põe a vista em cima. Será por ser domingo?

21.12.19

Que Zeus nos acompanhe por estes dias!

Tem chovido, valha-nos o deus da chuva!
A comunicação social apresenta a chuva como inimigo do homem - tomba as árvores, destrói os jardins, inunda as casas, corta as vias de comunicação… indo ao ponto de desalojar e de retirar vidas. A chuva arruina o natal dos glutões e dos vendilhões. A chuva dá cabo do negócio, à exceção do da comunicação social…
Ninguém questiona o motivo por que a chuva dos ribeiros corre para os afluentes e destes para grandes (?) rios e se precipita no oceano… 
Parece que a montante não há ninguém que perceba que a oportunidade é única. Não há quem trace um plano de desvio dos caudais de modo a criar reservas capazes de suprir a cada vez maior escassez de água… não há quem trace um plano para acabar com o assoreamento … não há quem trace um plano para retirar o edificado dos leitos e das margens dos cursos de água…
Neste abençoado país, só há catastrofistas que sonham em ir a banhos.

19.12.19

Abençoada chuva

Vivendo o tic-tac, hoje, com chuva, ventos fortes e mau humor…
A alternativa de seca, calmaria e festa seria certamente mais atrativa, mas tão depressiva como as depressões que vêm atravessando a Península Ibérica.
Esta chuva tão arisca arrasta consigo a necessária limpeza e a reposição das reservas de água fundamentais ao bem-estar das gentes, da fauna e da flora, sem esquecer os minerais… Por isso a insatisfação deveria dar lugar ao agradecimento, apesar das constipações e similares.
Este tic-tac dos dias martela-me as meninges já cansadas da profissão. No entanto, sempre que chove sinto alívio e vontade de continuar.
A chuva que conforta a alma. Que seria de nós sem ela?

18.12.19

Do lado de cá...

Colocar a hipótese de que algum ser humano possa ser godot é uma presunção saída do inconsciente individual, incapaz de descortinar a fronteira entre a conveniente modéstia e a desmesurada soberba…
Pressinto que a modéstia não deve ser avaliada pela conveniência, mas é da natureza humana graduar tudo como se, habituada a rever-se no espelho, saltasse para lá do caixilho, à espreita de uma dimensão que sempre lhe foi vedada…
Do lá de cá não mora nenhum godot, mesmo que o façamos nascer entre as palhas de um estábulo ou nos alimentemos do corpo e do sangue - rituais de apropriação de quem receia não SER.
E será que há, por detrás dos rituais e dos sonhos, um qualquer godot, relojoeiro do multiverso? Eu simples relógio me confesso, vou vivendo até que o tic-tac se esgote. E basta!

17.12.19

Não sendo Godot

Não sendo Godot nem estando à espera dele, não deixa de ser estranho que, frequentemente, pense nele…
Tempos houve em que poderia esperar sentado à sombra de uma figueira… agora, sentado ou de pé, distante do quase inexistente figueiral, espreito os dias como se eles me fossem exteriores…
Espreito-os a desoras, à espera que se tenham esfumado só para me surpreenderem num regresso a horas ociosas de que nunca tirei proveito… 
E, apesar de o não querer confessar, sei que, mesmo que Godot pudesse desfazer a espera, hei de continuar à espera, o que não faz qualquer sentido…
Antes que se faça tarde, vou apanhar o metro e regressar à escola donde, verdadeiramente, nunca saí… Ultimamente, assalta-me a dúvida se alguma vez lá entrei.

15.12.19

Não queremos

O movimento das sardinhas em Itália
Não queremos, mas votamos na mentira dos políticos… 
Não queremos, mas ignoramos a prescrição das coimas que os partidos deveriam pagar…
Não queremos, mas fazemos vista grossa à sofisticação do mercado ilegal das drogas…
Não queremos, mas consumimos desalmadamente no natal e na passagem de ano…
Não queremos, mas hipotecamos a vida a todo o momento…
… e o pior é que não sabemos que, por vezes, a vontade é o nosso maior inimigo. 

12.12.19

Estetas do absurdo

Cansamo-nos de tudo, excepto de compreender.

O sentido da frase é por vezes difícil de atingir.
Cansamo-nos de pensar para chegar a uma conclusão, porque quanto mais se pensa, mais se analise, mais se distingue, menos se chega a uma conclusão.
Caímos então naquele estado de inércia em que o mais que queremos é compreender bem o que é exposto — uma atitude estética, pois que queremos compreender sem nos interessar, sem que nos importe que o compreendido seja ou não verdadeiro, sem que vejamos mais no que compreendemos senão a forma exacta como foi exposto, a posição de beleza racional que tem para nós.
Cansamo-nos de pensar, de ter opiniões nossas, de querer pensar para agir. Não nos cansamos, porém, de ter, ainda que transitoriamente, as opiniões alheias, para o único fim de sentir o seu influxo e não seguir o seu impulso.

Bernardo Soares
Gostaria de acompanhar Fernando Pessoa quando defende que não nos cansamos de compreender, e que o fazemos por uma «atitude estética», desinteressada da utilidade e da verdade... 
Parece que abdicamos da nossa vida, apenas para fruir a (as) dos outros..., sem, no entanto, os tomarmos como exemplo... 
Pelo menos, se não caminhamos  por nós, também não o fazemos pelos outros...
Estetas do absurdo, adormecemos sobre o mundo, enquanto que a chuva fustiga a o pátio.
(…)
Voltando atrás, creio que estes estetas são cada vez mais raros, mergulhados que andamos na mentira e no interesse.