12.12.19

Estetas do absurdo

Cansamo-nos de tudo, excepto de compreender.

O sentido da frase é por vezes difícil de atingir.
Cansamo-nos de pensar para chegar a uma conclusão, porque quanto mais se pensa, mais se analise, mais se distingue, menos se chega a uma conclusão.
Caímos então naquele estado de inércia em que o mais que queremos é compreender bem o que é exposto — uma atitude estética, pois que queremos compreender sem nos interessar, sem que nos importe que o compreendido seja ou não verdadeiro, sem que vejamos mais no que compreendemos senão a forma exacta como foi exposto, a posição de beleza racional que tem para nós.
Cansamo-nos de pensar, de ter opiniões nossas, de querer pensar para agir. Não nos cansamos, porém, de ter, ainda que transitoriamente, as opiniões alheias, para o único fim de sentir o seu influxo e não seguir o seu impulso.

Bernardo Soares
Gostaria de acompanhar Fernando Pessoa quando defende que não nos cansamos de compreender, e que o fazemos por uma «atitude estética», desinteressada da utilidade e da verdade... 
Parece que abdicamos da nossa vida, apenas para fruir a (as) dos outros..., sem, no entanto, os tomarmos como exemplo... 
Pelo menos, se não caminhamos  por nós, também não o fazemos pelos outros...
Estetas do absurdo, adormecemos sobre o mundo, enquanto que a chuva fustiga a o pátio.
(…)
Voltando atrás, creio que estes estetas são cada vez mais raros, mergulhados que andamos na mentira e no interesse.

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