27.12.19

Os nomes nada acrescentam

Bairro desaparecido
Não é por lhes citar os nomes que se tornam conhecidos. Os nomes não acrescentam nada. Sem obra individual, não há renome…
Há obras coletivas cujos trabalhadores morrem no anonimato, mesmo que os Saramagos percorram o alfabeto da nomeação. Um João, por exemplo, seja o primeiro ou o quinto, persiste por mais tempo na Memória… ainda que a resistência seja cada vez mais breve…
Entre tantos manuéis, só o primeiro assegurou um estilo, sem ter entrançado uma corda, que se saiba.
Já nem as lápides cumprem o ofício!

26.12.19

Faltam 185 dias

Dizem-me nesta data - e quem o diz não é profeta! - que faltam 185 dias. Não sei se acredite, até porque Virginia Woolf ( Orlando) assegura que

 «Infelizmente, o Tempo faz fauna e flora crescerem e definharem com espantosa regularidade, mas não tem o mesmo efeito tão simples na mente humana. Mais: a mente humana acaba por agir de forma correspondentemente estranha sobre o decorrer do tempo.»

A verdade é que os 185 dias podem ser mais ou menos, pois a duração não depende de nenhum robot, mas sim da mente que tiver lido (ou ignorado) um simples e-mail. Se a leitura for ativa, o tempo será significativamente encurtado. Caso contrário, os dias ficarão esquecidos no computador do burocrata… e eu às voltas com o biógrafo de Orlando: 

«Uma hora quando alojada nesse elemento tão bizarro que é o espírito humano pode ganhar cinquenta ou cem vezes a sua extensão segundo o relógio; inversamente , uma hora pode ser fielmente retratada no relógio mental como tendo durado um mero segundo.»

No meu caso, o tempo psicológico dá cabo de mim, porque uma vezes passa apressado; outras, de tão lento, acelera-me o tic-tac.

24.12.19

Boas Festas!


(Quanto ao fruto, se possível, deixem-no amadurecer. Basta vê-lo ganhar forma e cor...)


BOAS FESTAS A TODOS OS MEUS FAMILIARES, AMIGOS E CONHECIDOS!


Obrigado pela companhia!

22.12.19

O parque de estacionamento "Oceanário" é caro e serve mal

O parque de estacionamento 'Oceanário' fica ali ao lado - serve o Teatro de Camões, o Oceanário, a marina… 
Porém, serve mal!
Logo, à entrada, surge o aviso de que a Via Verde não está disponível. A caixa de pagamento fica no piso 0, o que nos dias de maior afluência provoca inevitáveis e demoradas filas. Apesar do elevado custo, o multibanco também não funciona...
Quanto aos acessos ao exterior, ninguém se ocupa da sua limpeza, sobretudo, em dias de chuva e nas horas em que os javardos vomitam escada abaixo, gerando situações que podem provocar quedas extremamente graves…
E claro, vigilante, assistente, funcionário, ninguém lhe(s) põe a vista em cima. Será por ser domingo?

21.12.19

Que Zeus nos acompanhe por estes dias!

Tem chovido, valha-nos o deus da chuva!
A comunicação social apresenta a chuva como inimigo do homem - tomba as árvores, destrói os jardins, inunda as casas, corta as vias de comunicação… indo ao ponto de desalojar e de retirar vidas. A chuva arruina o natal dos glutões e dos vendilhões. A chuva dá cabo do negócio, à exceção do da comunicação social…
Ninguém questiona o motivo por que a chuva dos ribeiros corre para os afluentes e destes para grandes (?) rios e se precipita no oceano… 
Parece que a montante não há ninguém que perceba que a oportunidade é única. Não há quem trace um plano de desvio dos caudais de modo a criar reservas capazes de suprir a cada vez maior escassez de água… não há quem trace um plano para acabar com o assoreamento … não há quem trace um plano para retirar o edificado dos leitos e das margens dos cursos de água…
Neste abençoado país, só há catastrofistas que sonham em ir a banhos.

19.12.19

Abençoada chuva

Vivendo o tic-tac, hoje, com chuva, ventos fortes e mau humor…
A alternativa de seca, calmaria e festa seria certamente mais atrativa, mas tão depressiva como as depressões que vêm atravessando a Península Ibérica.
Esta chuva tão arisca arrasta consigo a necessária limpeza e a reposição das reservas de água fundamentais ao bem-estar das gentes, da fauna e da flora, sem esquecer os minerais… Por isso a insatisfação deveria dar lugar ao agradecimento, apesar das constipações e similares.
Este tic-tac dos dias martela-me as meninges já cansadas da profissão. No entanto, sempre que chove sinto alívio e vontade de continuar.
A chuva que conforta a alma. Que seria de nós sem ela?

18.12.19

Do lado de cá...

Colocar a hipótese de que algum ser humano possa ser godot é uma presunção saída do inconsciente individual, incapaz de descortinar a fronteira entre a conveniente modéstia e a desmesurada soberba…
Pressinto que a modéstia não deve ser avaliada pela conveniência, mas é da natureza humana graduar tudo como se, habituada a rever-se no espelho, saltasse para lá do caixilho, à espreita de uma dimensão que sempre lhe foi vedada…
Do lá de cá não mora nenhum godot, mesmo que o façamos nascer entre as palhas de um estábulo ou nos alimentemos do corpo e do sangue - rituais de apropriação de quem receia não SER.
E será que há, por detrás dos rituais e dos sonhos, um qualquer godot, relojoeiro do multiverso? Eu simples relógio me confesso, vou vivendo até que o tic-tac se esgote. E basta!