29.3.20

Ao contrário de Lázaro

«O morto saiu, de mãos e pés enfaixados com ligaduras e o rosto envolvido num sudário. Disse-lhes Jesus: «Desligai-o e deixai-o ir».»  João 11...

Desconheço se Lázaro terá agradecido o milagre.
As irmãs, sim. Servas do desconhecido terão seguido o caminho da redenção, porque acreditavam. Não no que viam nem no que sabiam, que era insuficiente para a compreensão do desafio... Acreditavam no que sentiam.
Os vizinhos por um tempo deixaram-se inebriar, mas depois duvidaram...
Hoje, a dúvida já não faz sentido.
Por vezes, nem o medo!

Desligados - são selados e depois cremados, os velhos deste mundo, sem esperança em qualquer tipo de ressurreição.

28.3.20

A curva do tempo

Depois da curva do pico, estamos agora a entrar na curva do planalto. Pena que a curva da planície ainda esteja tão longe!
Posso estar enganado, mas creio que este Covid 19 veio para punir aqueles portugueses que sobreviveram à guerra de África...
Quando desenharem a curva do tempo, talvez seja possível achatar-lhe a linha de modo que o Covid 19 se perca na planície...
(Escrevo estas linhas em homenagem à imaginação gráfica do último mês.)

27.3.20

Ficar em casa e desligar...

Não tusso nem espirro. Não tenho febre nem sofro de falta de ar. Só a sombra me arrepia.
Porém, sinto-me cansado. Não sei se será do Covid 19 se do matraquear da comunicação social e das redes sociais.
Com tantos números, com tantos gráficos, com tantas pitonisas, apetece-me desligar...
Ficar em casa e desligar!
Só peço que me batam à porta quando o mafarrico se tiver sumido...

25.3.20

O que me cansa

O que me cansa é a fábula de que somos capazes de vencer, porque somos diferentes, porque somos inteligentes e conscientes, como se guardássemos o segredo do universo... 
No entanto, nada somos perante a mortalidade das espécies e, por mais inteligentes e conscientes que sejamos, não somos capazes nem de prever, nem de prevenir e, muitos menos, de evitar que a epidemia nos derrote - já li muitas avaliações  sobre a vida e a morte do COVID 19, e começo a pensar que ele é capaz de ser mais inteligente do que nós... Este ou outro! Assim foi, assim é e assim será... 
O orgulho humano não passa de um capricho que nos impede de estar verdadeiramente atentos ao essencial.
Talvez hoje devesse regozijar-me por estar a encerrar a minha vida profissional. Contudo, tal como vão os dias, a inteligência diz-me que ninguém sabe o que o dia de amanhã me trará... Por isso, fiquemos por aqui, em casa, de preferência... se a tivermos.

24.3.20

... ia a dizer das uvas

Fábrica de álcool em Porto da Lage 
Não é preciso máscara para esconder a estupidez...
A falta de respeito pelo outro está nas ruas, nos écrans, nos diretórios políticos...
O atraso nas decisões é lamentável! 
Quem já tenha entrado num lar de terceira idade sabe que a maioria não está preparada para lidar com um problema desta dimensão; a maioria não tem recursos humanos nem materiais. 
Esperar que os proprietários privados ou as instituições sociais resolvam o problema é absurdo! 
Não é a virulência do COVID 19 ou a falta de educação dos mais novos que explica totalmente a letalidade entre os mais velhos.
Há medidas que foram tomadas nos anos 80 e 90 do séc. XX que nos deixaram nas mãos dos especuladores, como, por exemplo, o encerramento das fábricas de álcool no país das figueiras e das vinhas... ia a dizer das uvas... / muita parra e pouca uva!
Hoje importamos quase tudo o que é essencial em momentos da vida como o atual... E porquê?

22.3.20

As máscaras não (...) servem para nada?

As máscaras não servem para praticamente nada. Dão uma falsa sensação de segurança. O pano não é impermeável, vai ficar húmido e os vírus vão passar”, afirmou Graça Freitas.

Não digo que a senhora não tenha razão, convém, no entanto, relembrar que as autoridades médicas chinesas impuseram o uso da máscara e, nos últimos dias, perante o comportamento da população da Lombardia, voltaram a criticar a sua pouca utilização.
Se o problema decorre da falta de impermeabilidade do tecido, então as autoridades que fiscalizam a sua produção ou a sua importação não podem continuar de braços caídos.
A certa altura, fica-se com a sensação de que tudo é negócio ao alcance de gente sem escrúpulos.
O Carnaval já deveria ter acabado!

21.3.20

Tempo subjetivo 2

alguma chuva, pouca
as flores que sorriem...
um poema aqui, outro ali...
alegre ou triste
e outra imitação do poema
sim, porque o poema deveria celebrar a vida e não a morte

agora, no intervalo, já não há dia... nem noite
já nem o sol aquece - os dias perderam os santos
e, sem fé, os fiéis arrefecem

mas este tempo é subjetivo
porque no mesmo tempo há quem tudo perca para cuidar de nós...
esses, sim, são a poesia que rima com
alegria, seja sábado ou domingo