9.8.20

Só há ida, não há retorno

O enunciado "só há ida...", descobri-o em Manuel M. Carrilho. Não sei se é do próprio, mas serve para questionar as noções de identidade, de saudosismo, de messianismo… O regresso a um outro tempo individual ou coletivo não passa de uma fantasia por muito apegados que vivamos...

O que vamos fazendo é que nos define em cada tempo, sempre descontínuo. O relógio que carregamos é uma prisão inventada por quem nos quer condicionar o caminho. 

O ciclo das horas mortifica.

6.8.20

A capital desfalece

 A Avenida da Liberdade, às quatro da tarde, de pouco serve. Pouca atividade, trânsito reduzido. Turistas, meia dúzia…
No Jardim da Estrela, uma outra faceta da cidade. Muitos lisboetas espalhados pelos relvados; alguns turistas nas esplanadas; toilettes encerrados e os lagos, com muito pouca água. Um deles parece ter secado há uns meses… Os peixes têm os dias contados; os patos e os gansos estão em extinção.

3.8.20

O ruído mediático

A força do ruído mediático é avassaladora! 
Os media repetem entre si ocorrências, resultantes da falta de preparação profissional dos protagonistas do momento, visando transformá-las em acontecimentos, em vez de si referirem à miséria do amadorismo que se vai instalando - todos estamos aptos a desempenhar qualquer tarefa…
Entretanto, o país exulta com os resultados dos exames nacionais. Em determinadas disciplinas, as notas subiram três valores, porque, a partir do Covid-19, passou a ser possível obter 20 valores, mesmo se as respostas falhadas (opcionais?) correspondessem 6 valores. 
Correspondessem! Sim, porque, quando se ignora um sinal vermelho numa linha férrea, os efeitos não devem ser levados a sério - errar é humano… e, doravante, estimulado.
Espero que o pensamento de Karl Popper não tenha em nada contribuído para este ruído e para esta euforia.
E também espero que ninguém tenha decretado a morte da ironia…

1.8.20

No país dos inteligentes

"Estúpido é aquele que prejudica os outros sem obter benefícios para si…" (Carlo Cipolla)

Bem verdade! 
Como dos estúpidos não reza a Filosofia, estou em crer que vivo no país em que inteligência não escasseia. Basta observar a quantidade de processos que se arrastam na Justiça para perceber que muitos portugueses sabem como tirar proveito de toda e qualquer situação favorável ou desfavorável…
Nunca esqueci um livro de ensaios do Jorge de Sena - 'O Reino da Estupidez'. Nele, 'o estreitamento mental' era uma consequência do confinamento político e não um traço genuinamente português.

31.7.20

Se cada vida é uma enciclopédia

Tondela
Se cada vida é uma enciclopédia, o desafio de lhe percorrer as avenidas torna-se penoso, porque os caminhos se tornaram encruzilhadas que foram determinando cada momento. Foram-se os princípios e ficaram as circunstâncias…
A vida é determinada por circunstâncias cada vez mais desligadas da narrativa anterior. Veja-se o que está a acontecer em 2020! O elo quebrou-se e, agora, de nada serve olhar para trás…
O presente é determinado pelos erros que formos cometendo ou evitando. A astúcia está no jogo da vida que pode ser de morte.
Agora joga-se à porta fechada, mas melhor fora que as portas se abrissem e entrássemos com o respeito devido.

30.7.20

Estados...

O que é que significa viver em estado de emergência ou de alerta?
Ir à praia ou ao campo... ao shopping ou à boutique... ao bar ou à discoteca?
Gozar férias no estrangeiro ou regressar à terra de origem?

(Tudo feito de acordo com protocolos definidos pelas autoridades de saúde para que os hospitais não voltem a entupir… e os velhos deixem de morrer em silêncio.)

A semântica parece variar de contexto para contexto, como se o problema não fosse mundial. E depois há o outro problema - o da derrocada económica e social. Por aqui ainda há quem acredite que se formos à praia ou ao campo, ao shopping ou à boutique, ao bar ou à discoteca; se os emigrantes regressarem à origem… e se nos empanturrarmos de leitão e de marisco, de cervejas e outras libações, então, a nação salvar-se-á…
Haja paciência!

28.7.20

A borboleta e o cão

A borboleta não incomoda, mas um cão à solta pode incomodar e muito…
A borboleta, apesar da cor, é quase invisível. Por vezes, não fosse a abelha, nem dávamos conta da sua presença. 
O cão também sabe esconder-se, porém se a presa o atrai, torna-se audível e ataca a canela sem olhar a quem… E pode ser irritante se nos toma de ponta.
E a irritação é algo com que não sabemos lidar…
Vem isto a propósito do quê? - De certas bandeiras que insistem em acirrar ódios antigos…