7.2.21

Intrigante

Não compreendo o que se passa no Oriente. Com tantos milhares de milhões de corpos em movimento, a Covid-19 parece estar a desaparecer na Índia e na China... Haverá alguma explicação plausível?

Talvez, a Covid-19 seja um castigo lançado a Oriente para castigar os desmandos do Ocidente! 

Não quero crer, mas verdade seja dita: os Velhos, mesmo que sejam do Restelo, continuam a ser dizimados, como já o eram quando a peçonha invadiu as ruas de Lisboa.

Vale a pena lembrar que tempos houve em que um Velho nos amaldiçoou por termos ousado ir além do canteiro em que íamos medrando.

4.2.21

Olhar para fora

 «Não há perturbação mais violenta do que olhar para fora e esperar respostas exteriores a perguntas a que talvez só a sua sensibilidade mais íntima, nas horas de maior silêncio, poderá responder.» Rainer Maria Rilke , 17-2-1903 (1875-1926)

Esperar respostas - de assentimento ou de rejeição - é uma inevitabilidade. Quando elas não chegam, é uma desilusão assente numa ilusão.

De facto, à maioria das perguntas só nós podemos responder, se estivermos disponíveis. O resto é presunção.

Lá fora, correm as nuvens sombrias. A direção é indistinta.                                                                                                                                             

3.2.21

Critérios em demasia

 CRITÉRIO: o que serve para fazer escolhas, em função de valores.

Numa sociedade com poucos valores (positivos), convém ser poupado no número de critérios, por exemplo, para selecionar quem deve ser vacinado.

Na minha perspetiva, um critério razoável seria vacinar todos os que vivem ou servem um lugar, fosse um lar, um hospital, uma escola, uma fábrica, a sede do conselho de ministros, a presidência da república ou a aldeia mais afetada pela COVID-19.

Claro que esta ideia só faz sentido, caso o Governo esteja efetivamente empenhado, empenhando o país,  em assegurar as vacinas necessárias à vacinação real dos portugueses, independentemente da idade, do estatuto social ou profissional…

O resto são quezílias que só comprometem o futuro, porque se crescer a perceção de que a política é outra, então, continuará a ser 'o salve-se quem puder'.

1.2.21

Pasmado!

 


Já não sei como reagir! 

Abro um livro e deixo de seguir o raciocínio do autor - são tantas as citações e confrontos que fico crispado, sem saber quem é o culpado. Enredado, não desisto da leitura, à espera de alguma luz…

Abro os olhos, e o que vejo? Uma parede imperfeita, de cujos orifícios cigarros acesos me acenam em fantasia suficiente para me obrigar a fugir do lugar… num tempo em que a fuga está proibida, a não ser que seja interior, embora mais gravosa…

E os ouvidos, esses, fecham-se, tantas são as recriminações dos cientistas da hora. Começo agora a fingir que subo a escada (rolante), cheio de ideias egoístas: talvez precise de uns sapatos, mas para quê se as sapatarias estão fechadas, mas não, há ali uma sapataria de porta aberta. Em tempos disseram-me que era de uma presidente de junta, de uma vereadora, de uma diretora do centro comercial.

29.1.21

sonhos e pesadelos

Esta noite, já de madrugada, fartei-me de andar às voltas na cidade - qual cidade? - impedido de chegar a Coimbra… esqueci o lugar onde estacionara o carro… subi e desci, uma a uma, as ruas e as ruelas… e nada, sem pôr a hipótese de que o carro tivesse sido roubado. Minuto a minuto, hora a hora, e nada! E o prazo, que não era meu, a esgotar-se. Cheguei a pôr a hipótese de apanhar um táxi - ia e voltava… e talvez acabasse por me lembrar… mas nada…

Lembro-me agora que, muitas vezes, sonhara que chegava atrasado e que esquecera a sala a que me dirigia. Dava voltas sobre voltas, espreitando pelas janelas à espera de ver alguém conhecido, mas nada… 

O que parece é que a sala foi substituída pela cidade, talvez Leiria, e os alunos por um lugar onde terei deixado o carro que, para mim, só para mim, se tornou invisível… as ruas eram inclinadas e serpenteadas, estreitas e desertas... com arcos de outras memórias, janela aberta para o terreiro onde a justiça de Pedro crescia no sangue do assassino de Inês.

27.1.21

O que pensamos...

 


«O mundo não é o que pensamos.» Carlos Drummond de Andrade

O mundo não tem passado nem futuro. O mundo só tem presente e, ao contrário do que insinuamos, pouco sabemos sobre o mundo…

Falamos ao desafio, narcisos do momento, incapazes de abraçar o mundo, sem perceber que, sem ele, nem sequer existimos… De nada serve olhar para trás -  nem sequer os monstruosos crimes de ontem voltaremos a repetir… outros, mais novos e mais desesperados, se encarregarão de o fazer, se o mundo lhes conceder um último instante…

Narcisos do momento, fingimos arrependimento e atiramos a culpa para os oportunistas da Hora.

26.1.21

Em janeiro

Flor de medronheiro
                                                   

 A flor desperta a vida que ainda subsiste, apesar dos abutres que se vão multiplicando em territórios onde a esperança de abril morreu.

As meias-vitórias de 24 de janeiro só terão seguimento se o Poder continuar a esquecer aqueles que um dia sonharam viver melhores dias, aqueles que acreditaram que a Liberdade os libertaria dos desmandos dos Senhores da Terra.

Os pretextos que, agora, foram avançados são a expressão da incapacidade de tratar caso a caso cada situação, são a expressão da ignorância de quem governa…

Decidir exige avaliação e cautela.