5.10.07

Afonso Vaz Botelho - Que devo eu fazer agora?!

A 1 de Dezembro, a 5 de Outubro e a 25 de Abril, os que ainda têm trabalho param para celebrar a refundação da Nação. Primeiramente, libertámo-nos do estrangeiro, em segundo lugar, pusemos termo ao que restava do Antigo Regime e, finalmente, deixámos ruir o Império, liquidando, no acto, o Estado Novo.

Qualquer destas datas assinala o fim de um ciclo, dando início a outro. E por isso em vez de celebrarmos a libertação – esperança fugaz -, deveríamos reflectir sobre o modo como os portugueses se empenham na revitalização da colectividade. O que é que, de facto, nos interessa?

A resposta? - Podemos encontrá-la no Retrato de Uma Família Portuguesa, de Miguel Rovisco. Perante o perigo, perante o invasor, a família desmorona-se e uma parte foge: para o Brasil ou para a Europa, tanto serve!

Nascido em 1959, Miguel Rovisco suicidou-se em 1987, um ano depois de Portugal ter "entrado" na União Europeia. Aos 27 anos, já escrevera mais de 20 peças… No plano existencial, o seu suicídio não se explica – poderia ser um acto gratuito e repentista de algum existencialista à deriva num universo órfão de Deus! Mas não.

O desespero e a rebeldia de Miguel Rovisco nada tinham a ver com a divindade. A causa primeira encontrou-a na indiferença e no alheamento das elites nacionais, incapazes de compreender a força civilizadora do teatro.

As elites não lêem ou, pior, se o fazem, não resistem à tentação de censurar a obra alheia, desvirtuando-a de tal modo que o autor se verá obrigado a renegá-la. Mas Miguel Rovisco, em vez de desistir ou de renegar a obra, preferiu que um comboio lhe desfizesse o corpo para que a voz se pudesse ouvir bem alto no palco das consciências que nos governam…

Hoje, 5 de Outubro de 2007, que novas razões podem impedir os Roviscos desta Nação de se suicidar?

(Lá bem no alto, sobre os cedros, já avisto 250 altos funcionários da Comissão Europeia que, sem qualquer razão para se imolarem, se preparam para "regressar à escola", prometendo um futuro radioso… Mas, ao contrário do que acontece na maioria dos palcos, apenas teremos direito a um solilóquio…)

 

 

 

 

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