12.2.08

O que é que eu faço aqui?

Entre distanciar-me e envolver-me, hesito.

Se me distancio, o corpo respira melhor, a memória recupera, a palavra flui. Basta recostar-me na cadeira, para que o horizonte se alargue, o rosto se abra à ironia. E nesse momento, os pássaros escondem a voz...

Se me envolvo, o corpo enrodilha-se, a memória soluça, a palavra torna-se ameaçadora. A cadeira diminui, as margens tornam-se tensas, o rosto fecha-se sobre o écrã... os parágrafos, desnorteados, gritam de desdém...

Por detrás da letra, antevejo um sonhador que ainda acredita que é possível mudar o homem: o paradigma escancara-se de gozo para nada. A letra quer eliminar a punição, mas a tradição acredita na força da exclusão...

Os argumentos deixaram de ser convincentes, extasiados na suspensão... ficaram, por hoje, nas prateleiras grávidas de solidão.

(Por um instante, pensei ficar, ali, sobre o armário do fundo, à espera que a letra desabrochasse..., mas uma súbita rosa negra rasgou-me o olhar e perguntou-me: - O que fazes aqui?)

Sem comentários:

Enviar um comentário