15.12.24

Mia Couto a enterrar nuvens

Sem metáfora, não há escrita de Mia Couto... 
A figura cobre a guerra, a religião, a cor, a seca, a chuva, o abuso sexual, o envelhecimento, a morte; a língua em que cresce... 
A metáfora é inevitável, centrando-se no corpo, na pele, nas mãos, nos olhos... 
A própria vida se revela metáfora caindo na folha em branco como narcísica forma de eternidade...
Como alguém referiu, toda a figura é metáfora, e por isso os nomes próprios também são metáforas... À força  de gerar figuras, Mia Couto acaba por branquear os responsáveis pelo adiamento da esperança...
Quando o prazer da metáfora desfigura a realidade nua e crua... o que parece perto, fica cada vez mais longe. Imperdoável!
                                                                                   (Mia Couto, Compêndio para desenterrar nuvens, 2023)

Sem comentários:

Enviar um comentário