A caruma, ultimamente, tem estado menos reflexiva porque, como tapete que é, não tem podido ir além dos pés que, sorrateiramente, a vão calcando.
Este estatuto de tapete é, no entanto, um privilégio porque liberta a mente e deixa os olhos pousar livremente sobre os sinais do oportunismo e do laxismo que vão grassando pelas ruas das cidades e aldeias.
(Se o autocarro está a abarrotar - coisa que não deve ser verdade porque há anos que a Carris vem perdendo clientes! -, o passageiro, em vez de entrar pela porta de entrada, entra pela porta de saída... E o motorista sem nada ver... E atrás de um vão seis ou sete! E os outros, os cumpridores, lá ficam na paragem, surpreendidos, esboçando algumas palavras surdas.)
E os olhos da caruma que, pela sua natureza, podem ver de baixo para cima, andam um pouco desorientados, porque ninguém lhe explica por que motivo é que há tantas cadeiras vazias e, sobretudo, como é que se pode trocar de cadeira sem qualquer tipo de explicação... No meio da dança das cadeiras, quem se amolga é o tapete.
Fica, todavia, o reparo: nenhum tapete é cego.