19.8.07
Museu de Esposende 2007 e Ventura Terra
Férias
3.8.07
Torre Bela
Para quem nasceu depois do 25 de Abril de 1974 e sente alguma curiosidade pela euforia revolucionária, recomendo-lhe que vá ver o filme TORRE BELA, de Thomas Harlan.
Encontramos lá, bem explícitas, as causas da frustração da classe trabalhadora, mas, sobretudo, podemos ver por que motivo continuamos a perder terreno em tudo o que respeita à transformação humanizada da sociedade.
Um filme que mostra como os portugueses estão habituados a tomar o destino nas mãos sem para isso se preparar minimamente. Desde a "arraia-miúda", que içou o mestre de Avis ao poder, que acreditamos no voluntarismo colectivo ou, em alternativa, rendemo-nos a todas as formas de messianismo que nos possam libertar deste desterro acanhado a que orgulhosamente nos agarramos desde o século XII.
Infinitamente pequenos, sonhamos o infinitamente grande.
O filme TORRE BELA, apesar de brilhante, por momentos, adormeceu-me o cérebro: sempre que as vozes se sobrepõem, sempre que o ruído aumenta, a minha atenção recolhe para uma forma de vigília que me deixa entorpecido. Parece-me uma defesa um pouco primária, mas que, de facto, me atormenta desde a infância.
Não querendo evocar esse tempo, fico, contudo, com a sensação de que certas vivências desse tempo remoto são responsáveis pela minha descrença nos movimentos de massas.
31.7.07
Quando o vigário pode mais …
Nas sociedades democráticas, o exercício do poder está a ganhar músculo… Basta pensarmos na quantidade de homens e mulheres que cultivam a nobre actividade da musculação…
Ao mesmo tempo que a legitimidade do poder executivo se esgota em meses, a 'sociedade democrática' vai definhando. Cientes dessa fatalidade, os executivos rodeiam-se de uma nova inteligência, defensora de medidas draconianas, apresentadas majestosamente como redentoras…
Em nome da eficácia, as antigas corporações são varridas e substituídas por novos "corpos" (de titulares e outros!) … O puzzle é sedutor, mas esconde as regras ou deixa-as pingar uma a uma, gerando ansiedade, instalando o desassossego… (Há quem já não saiba se pode ir de férias!)
Atribui-se ao corpo uma cabeça e deixa-se que o estômago se alargue. Quanto ao coração, este volta a ser a sede das atribulações! Tudo bem proporcionado. Mas quando chega a hora da verdade, escondem-se os resultados, não vá alguém considerar-se mais habilitado ou mais competente. E porquê?
Porque a inteligência que nos governa é constituída por vigários que, nas suas dioceses, cultivam o registo autoritário, deixando aos prelados a palavra redentora. E quando um desses vigários se excede, o prelado, em vez de o expulsar do rebanho, protege-o religiosamente da canzoada.
Esta espécie de vigários (de vígaros?) é colocada estrategicamente em todas as repartições porque é ela – a espécie – que zelosamente aperta as rédeas à 'irrequieta sociedade' democrática.
PS: Esta diatribe surge no dia em que aceitei ser provido como titular. Resta-me saber do quê. E continuo sem saber qual é a diferença entre ser titular e "efectivo do quadro de nomeação definitiva". Eu não sei a diferença, mas uns tantos colegas ficaram a saber porque ao não serem providos perderam o rasto ao tempo em que integravam o "QND". Nesta vigariaria nada é definitivo! E estou a referir-me a pessoas com mais de trinta anos de exercício da profissão docente. Alguns começaram a exercê-la antes do 25 de Abril, no crepúsculo do Estado Novo. Tiveram que lidar com a euforia de Abril, vendo-se agora escorraçados… Será castigo? De facto, as medidas que vêm sendo incrementadas mais não são que um castigo por um crime que outros cometeram. O crime dos vígaros deste país.
29.7.07
A canícula
A canícula desfaz-nos
a vertigem e oferece-nos a aprendizagem da lentidão.
Afogueado, estirei o pescoço e vi, lá longe, em lenta cavaqueira, o João Barrento com o Eduardo Prado Coelho.
Compreenderam, ambos, por viagens distintas, que mais vale fugir da vertigem do Sol.
E eu que, desde criança, aborreço o Estio, instalo-me na miudeza das letras, à espera que a canícula cesse… e começo a apreciar a vagueza dos enigmas.
Ultimamente, os enigmas ou, melhor, os dilemas vêm-me sufocando e, eu, irresponsável, não percebia que eles me convidavam a reaprender a lentidão, tal como a canícula que se abate sobre a cidade.
24.7.07
Dorme ali, num banco de Jardim… na Praça José Fontana
20.7.07
Os exames…
Lembram-me os exames de consciência em que o sujeito oculta deliberadamente a sua preguiça, a sua má-fé… Os exames escritos deixaram de testar os conteúdos mais complexos, limitam-se a aspectos marginais e, por isso, os alunos que passaram o ano a estudar são os mais prejudicados, assim como os professores que procuraram cumprir os programas.
Como resolver esta perversão? Criando equipas para a elaboração das provas, independentes da tutela ministerial. Em matéria de avaliação, não há nada mais nefasto que o comissário político.
Essas equipas teriam a função de elaborar as provas de exame, submetendo-se rigorosamente aos objectivos e aos conteúdos dos programas. As equipas de autores e de auditores devem ser constituídas por professores do ciclo de ensino a que as provas dizem respeito. A intervenção de professores do ensino superior – desarticulado dos outros graus – deve ser evitada.
Infelizmente, o caminho tem sido outro: a irresponsabilidade cresce de ano para ano; os dirigentes entendem que "é humano errar" e que as culpas são sempre dos outros… e lá continuam como se ninguém saísse prejudicado…
Há, em Portugal, uma crença muito conveniente: somos todos igualmente capazes, sobretudo se não for preciso fazer um esforço… Procuramos a facilidade e odiamos aqueles que persistem em vencer os obstáculos.
PS: O comissário político está alastrar como alastraram, no passado, os frades e depois os barões. Viva o cacique! Vivam os almirantes!