Hoje, fui ao Palácio da Ajuda... À porta, o rei D. Carlos I, que antes de ter sido imolado pela revolução, nos teria devolvido à Europa... Quem diria?
Na Galeria de Pintura do Rei D. Luís I, para lá da consistência dos sonhos, encontrei um Saramago metódico e, sobretudo, operário. O escritor-operário, tal como acontecera com os escritores realistas e naturalistas... A leitura seus dos registos de leitura é preciosa para a compreensão do ofício do autor.
Por outro lado, encontrei a memória de um país mesquinho, onde Mafra simboliza (séculos XVIII e XX) a megalomania de um rei, a manha do clero, o conflito entre moralistas conservadores e ideólogos estrangeirados...
Pareceu-me que as mulheres de Saramago foram esmagadas pela estrangeira Pílar. E que Ilda Reis foi injustamente atirada para a sombra, como se sua pujança atrofiasse o criador.
Ficou-me, também, a sensação de que a literatura crítica é modesta para a extensão da obra do nobel (1998).
Finalmente, a timidez e altivez, típicas do ribatejano, atravessam as imagens, como se Saramago tivesse descoberto como esconder a nudez da sua presença..., uma presença convicta e impaciente por saber o que o espera. Que bom que seria que, afinal, as mentiras fossem verdade!