Curioso, consultei http://www.dicionarioinformal.com.br, onde é possível encontrar o dicionário de língua portuguesa mais atrevido que conheço e, para espanto meu, fazer-se de mula surge por definir. Deixo essa tarefa ao António Souto, verdadeiro apreciador do vernáculo luso, embora me pareça que, nos tempos que correm, extintos os almocreves, as mulas andam desaparecidas. Os próprios burros são hoje mais protegidos e não creio que alguém esteja disposto a fazer-se de burro..
De Lisboa à Ria Formosa, não encontrei sombra de mula, apenas meia dúzia de cavalos (seriam machos?) pastavam pachorrentamente num improvisado prado… Eu próprio, em tempos de meninice, fui actor de uma triste história em que um cavalo se fez passar por mula. No caso, uma velha mula que não se aguentava nas patas foi por mim vendida a um magarefe por 50 escudos.
Uma mula que tinha por mim verdadeira estima, que nunca me deixou ficar mal, ao contrário de umas burras azougadas que me infernizavam as jornadas. E eu traí-a… e isso aborrece-me mais do que saber se tenho muitos ou poucos amigos…
Claro está que o António Souto não tem qualquer responsabilidade nesta súbita confissão. E não vou desejar “um bom ano” porque não quero perder os amigos…