29.11.12

Sala de aula - XLIII

A - Contrato de leitura. Alma, de Manuel Alegre. Ou a descoberta das desigualdades! Mariana, de Maria Judite de Carvalho. Ou quando a solidão e a incompreensão alastram num país pobre e governado por um déspota.
(Os jovens continuam com dificuldade em entender uma escrita que denuncia desigualdades que oprimem os seus semelhantes.)
B - Quando uma carta privada, de Alexandre O'Neill, se transforma num documento literário e num modelo de escrita clara, objetiva e afetuosa. Entre outras virtudes, a carta do Xandinho é um modelo quanto: à redação de períodos e parágrafos curtos; à utilização alternada de frases verbais, nominais e parentéticas; à criteriosa escolha de adjetivos, recorrendo à sinonímia; ao manuseamento dos sinais de pontuação (/:/ e /;/; à construção de comparações e metáforas com objetos do quotidiano; à ao recurso à ironia e ao humor... 
ESCREVER pressupõe uma leitura fina da realidade...  Neste caso, o escritor parece ter aprendido algumas das suas técnicas com o publicitário...
C - Testes: Não esquecer: interlocução; enunciação; deixis / valor anafórico; atos de fala; atos ilocutórios ...

Quanto ao resto, não se pode dizer que seja literatura!

28.11.12

A farsa da avaliação externa

O Ministério da Educação e Ciência persiste na avaliação do desempenho docente sem qualquer proveito para a educação e para o ensino. Propõe-se disponibilizar recursos financeiros* com estruturas de acompanhamento, meios tecnológicos, deslocações e horas extraordinárias para a execução de uma farsa avaliativa que nem sequer terá efeitos na progressão dos docentes a curto prazo. A haver qualquer benefício da avaliação, esta deveria ficar a cargo do diretor de cada agregado, associação ou escola, pois ninguém tem mais dados para reconhecer o mérito ou a insuficiência. Quanto ao diretor, esse, sim, seria avaliado por quem o nomeou.
Não deixa de ser curioso que no passado, internamente, as escolas tenham protestado contra a avaliação pelos pares, qualificando-a, no mínimo, de melindrosa, enquanto que, no presente, o movimento de contestação à avaliação externa - por pares de escolas vizinhas - mostra grande tibieza. Porquê? Quem é que, nomeado para avaliar um candidato a excelente na escola vizinha, vai ter a coragem de dizer que o rei vai nu?
                                                    ( Estão abertas as hostilidades tribais!)
* Estes recursos financeiros poderiam perfeitamente ser mobilizados para ajudar os jovens que, diariamente, são forçados a abandonar a escola por insuficiência económica famíliar.    O MEC só sabe poupar à custa dos discentes e dos docentes!
 
 

Sala de aula - XLII

PIL. A 2ª apresentação fez-nos regressar a José Cardoso Pires - O Delfim. Foi bastante maltratado. Vinha já requentado e registado num smartphone. Faltava a obra e a memória era cinematográfica. O triângulo amoroso acabou por se tornar no centro da apresentação, mas sem as devidas articulações. Na paisagem, ficou um proprietário sem descendente, pouco produtivo e, na vox populi, suspeito de ter assassinado os amantes. A maior parte turma estava, no lugar dos peixes, a ouvir o Padre António Vieira no Maranhão, pois o teste de português aproximava-se. O professor acabou convocado para explicar a estratégia discursiva do Padre. Já é perseguição!
Salvou-se, por instantes, um excerto de uma entrevista ao camoniano JCP, datada de 1987. As palavras do entrevistado, sublinhadas pelo movimento do cigarro, eram acompanhadas pela leitura profissional ( João Pérry) de um excerto de O Delfim - o lugar.

27.11.12

Sala de aula - XLI

A - Contrato de leitura. Três apresentações orais: Meu Pé de  Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos; Sinto Muito, de Nuno Lobo Antunes; Alma, de Manuel Alegre.
Na apresentação oral, muito por falta de guião, a tentação é apostar no reconto linear, sem prévia identificação das linhas narrativas e dos acontecimentos estruturantes e simbólicos. Esta (in)decisão arrasta a apresentação tornando-a insignificante. Claro que há alunos mais organizados que outros e, sobretudo, com uma atitude comunicacional mais desenvolta. Ver Português 10, páginas 40-41.
De vez enquando, a leitura faz sair para a vida e pode obrigar a refletir sobre os caminhos que trilhamos. O apresentador de Sinto Muito acabou por confessar que a leitura contribuiu para uma decisão inesperada: Medicina, não! Tudo por causa da dor. Dor pessoal que não quer ter no exercício daquela profissão. Creio, no entanto, que este jovem revelou o seu lado humano e por isso mesmo não deverá desistir de tal desafio!
B - Teste de Literatura. Alguns alunos acabaram por decifrar os enigmas colocados em anterior "interlúdio." Há muito que não via esta turma tão aplicada!  

26.11.12

Sala de aula - XL

A - Contrato de leitura. Das peripécias inverosímeis do Alquimista, de Paulo Coelho, a O Retorno, de Dulce Maria Cardoso. Um retorno sofrido a um tempo de verdadeira tragédia nacional - o pós 25 de Abril. Este romance destapa um problema insanável que resulta de pontos de vista inconciliáveis: em abril de 1974, aconteceu um golpe de estado ou um ato revolucionário?

B - Ainda os poemas "Quando eu sonhava" e "Os cinco sentidos". Este último verdadeira obra prima de Almeida Garrett! Nela anunciam-se mais de 100 anos de literatura. O lugar onde a razão cede o lugar aos sentidos.
O sonho na perspetiva clássica e na perspetiva romântica. O sonho romântico mesmo que vago e fugidio leva a melhor sobre a imagem fixa e concreta, porque esta transporta consigo irremediável DOR. Sem memória do prazer, a ilusão onírica é VIDA. É Viver!
 
Razão .................. SONHO
Razão ------------- SENTIDOS
Arte ..................... NATUREZA
Natureza .............MULHER

25.11.12

Zonas de contacto

A sinapse é zona de contacto entre dois neurónios (axónio + dentrito), sem a qual o cérebro morre.
Na Gramática, essa zona de contacto vem mudando de nome - "conjunção", "conector", "articulador"... - mas, a sua função é inalterável: permitir a transmissão do fluxo nervoso. Isto é, permitir que a frase se torne enunciado e alimente a partilha.
 
Ao rever textos, na maioria dos casos, vemos que não há irrigação suficiente; por vezes, o fluxo fica à deriva, por uma unha negra...
 
E, na verdade, no atual discurso estudantil, docente e político, não há zonas de contacto. Faltam as sinapses! Faltam os mediadores!
 
Por isso, os dias que se aproximam serão depressivos, porque o cacete e a palavra são de natureza bem distinta!

Sala de aula - XIII

Sharon E. Hutchinson (1996), na obra Nuer Dilemmas: Coping with Money, War and the State, refere a dado momento um método que utiliza para validar a sua interpretação nos estudos de campo e que bem poderia ser aplicado neste blogue: "Open note taking."
 
O que implicaria que o leitor, furtivo ou não, aqui deixasse, sobretudo, o seu desacordo, complemento, interrogação, clarificação...