18.10.13

O cuco, o parasita onomatopaico



Infelizmente, há uma correlação entre o aumento do número de cucos e a densidade de pobres, o que me leva a pensar que a política atual está ao serviço desse onomatopaico parasita. O cuco necessita de bolsas de pobreza para se reproduzir. Sem elas, esse melómano parasita extinguir-se-ia!
Só assim se compreende a política de austeridade! Esta gera sucessivas bolsas de pobreza, ou seja os ninhos que lhes permitem reproduzir-se e, simultaneamente, eliminar as espécies incumbentes...

17.10.13

A estratégia do cuco

Na situação atual, toda a argumentação para satisfazer os credores incide em dois grupos de pessoas: os pensionistas e os funcionários públicos.
Eliminar os funcionários, reduzir-lhes as remunerações; hostilizar os pensionistas, cortar-lhes as pensões! Eis a tática seguida por uma argumentação construída com base na ignorância e ad ignorantiam (com apelo à ignorância).
É por isso que o governo persiste em manter de pé a RTP, cobrando e agravando a taxa de audiovisual com recurso à estratégia do cuco. A EDP é, como sabemos, o ninho em que vários cucos vão chocando os ovos que minam a soberania e sabotam a economia... Na verdade, a argumentação não pode subsistir sem canais domesticados...
O tipo de argumentação dominante é perverso porque ignora ou esconde os virtuosos que comem à mesa do orçamento, sem estatuto legal. Uma espécie de pessoal ad hoc, que começa por servir e depois se apropria, tornando-se inamovível e, se necessário, invisível.

16.10.13

Hoje, o meu valor baixou no mercado

Olho à volta e verifico que há tripés um pouco por todo lado. Moços e moças seguram folhas formato A4 à escuta de antigas e nostálgicas novidades. Perfilados e de olhos fixos na lente iluminada, figuras de outrora pronunciam-se sobre a eternidade das pedras assentes em invisíveis e instáveis placas arenosas... Por debaixo, fogem os líquidos arrôios em direção ao Tejo...
Sabemos a origem da ameaça, mas que importa? É no escudo que se concentra a atenção, é na fachada que se prende o olhar!
E eu, mais velho, apenas sombra, fujo da ficção, escondo-me da câmara à espera que a agitação passe e que a zona de subdução localizada debaixo do Arco de Gibraltar não faça das suas. Mas que importa? Se tal acontecer, não será apenas o meu valor a baixar no mercado! Nem os licitadores escaparão...


15.10.13

Valor de mercado

A partir deste momento, vou passar a estar atento ao meu «valor de mercado», embora me pareça que a minha cotação está cada vez mais baixa. No economês dominante, pouco faltará para ser classificado como "lixo".
Desta vez mereço o secretário Rosalino, pois, neste último mês, tenho aturado desmandos, abusos, incúrias, intrujices que, só por si, justificam a punição a que irei ser submetido... Deveria ter recorrido ao fueiro!
Ainda há poucos dias, explicava eu que a pessoa se diferencia do indivíduo quando capaz de se reger por princípios como a defesa da vida, o livre arbítrio, a entreajuda, a fraternidade, e, agora, bastou-me escutar o secretário Rosalino para compreender que acabo de ser contado, apenas, como indivíduo sujeito às leis do mercado.
Este é mais um dia de extraordinária mediocridade... mascarado de transitoriedade, progressividade e equidade para Tribunal Constitucional ver!

14.10.13

A Intrujice II

Depois da encenação do sacrossanto Paulo Portas que passou a padroeiro das viúvas e dos viúvos deste triste país, chegou a vez da ministra da fazenda  afastar "o choque de expectativas", pois Passos Coelho, em Maio, teria enviado uma carta à TROIKA, assegurando que iria fazer um corte memorável nas remunerações dos funcionários públicos.
Ontem, sobre o assunto, Paulo Portas nada disse! Os seus paroquianos são outros e, na verdade, ele ainda não percebeu qual é o significado da expressão "choque de expectativas", mas sabe que, em termos eleitorais, 400.000 funcionários públicos não contam, pelo menos, para o CDS... Ainda se fossem funcionários do Banco de Portugal, da Caixa Geral de Depósitos, da TAP...
Tudo isto me leva a pensar no tempo em que, nas Províncias Ultramarinas, havia portugueses de primeira e portugueses de segunda - os primeiros nascidos na metrópole; os segundos nascidos nas colónias... 
(...)
Infelizmente, os intrujões não estão todos no governo! Há muita boa gente a tratar da sua vidinha como se nada se estivesse a passar.

Terceiro apontamento:
( D. Nicéforo) - Diga-me, meu abade, conhece o programa do Partido Progressista?
O abade franziu os lábios em esgar dubitativo.
- Conhece, ora se não conhece! É o mesmo do Partido Regenerador. Um começa: Sua Majestade, o outro: El-rei, nosso amo...Em doutrina social são igualmente respeitadores da família e da religião. Em matéria financeira e política - dado que se preocupem com isso - um propõe-se fechar o orçamento com um saldo de vinte e quatro vinténs, o outro, com o saldo de um pinto.
Aquilino Ribeiro, Cinco Réis de Gente, cap. XIV. 

13.10.13

A Intrujice do Poupa Pensões

Falta-me a paciência para intrujões!
Parece que, depois de uma infinidade de cálculos, só 25.000 portugueses vão ser atingidos pelo corte na pensão de viuvez! Claro que o saque não passa de uma gota de água face às necessidades dos credores.
Salva a face do Poupa Pensões, e a dois dias da entrega do OGE, o governo continua a estudar como e onde cortar na despesa. A dois dias!?

Claro que todos sabemos quem é o alvo privilegiado! Mas desse Paulo Portas nada diz. O ónus será do "amigo" Passos Coelho. 
Entretanto, recomendo a Paulo Portas a leitura do XIII capítulo do romance "Cinco Réis de Gente", de Aquilino Ribeiro.
Lá encontrará uma brilhante paródia da "comédia eleitoral" no concelho de Sernancelhe.

Primeiro apontamento: «Vai pedir-se o voto de porta em porta, como se pede para as almas, ou chamam-se os eleitores à praça ou a uma casa, e prega-se-lhes um sermãozinho. Um sermãozinho e as promessas da lei..
Segundo apontamento: « D. Nicéforo deu o recado, justificando a diligência com o propósito em que estava o seu partido de promover uma reforma radical na vida da Nação: equilíbrio da balança financeira; desenvolvimento da instrução pública; revisão tributária no sentido de maior equidade; fomento agrícola e industrial; promulgação de leis de família; em conclusão, o estado revolvido de alto a fundo.»

Pois é! Se Paulo Portas tivesse lido os clássicos, provavelmente já teria concluído o tão anunciado plano de reforma do estado!
   

12.10.13

Os valores

Pode haver quem pense que a axiologia não tem lugar numa aula de língua materna ou mesmo de literatura. Por outro lado, quando lemos certos documentos, vemos que há quem meta no mesmo saco - da sinonímia - comportamentos, atitudes e valores.
Para muitos, aprender a ler ou a escrever mais não é do que a apropriação de uma técnica! E em geral, conseguem transmitir essa ideia aos discípulos que, apesar de tudo, resistem como podem ao formatado e preferem a digressão inconsequente...
Várias vezes, com públicos escolares de distintos graus de ensino, fui confrontado com asserções do tipo:
- Todos temos e nos regemos por valores!
- Tanto é valor a  honestidade como a cobardia!

Quer a ideia de que os valores são inatos quer a ideia de que não há qualquer fronteira entre o Bem e o Mal provocam-me calafrios pelas consequências que arrastam... 
E em ambas as situações me vejo na necessidade de distinguir o comportamento dos indivíduos das atitudes das pessoas, porque, no meu fraco entendimento, a fronteira é delimitada pela presença dos valores.

Talvez tenha sido por este motivo que ontem escrevi sobre o valor primordial, pois quero crer que não estou sozinho! Acompanhar a argumentação do Velho do Restelo ajuda-nos a separar o trigo do joio e ensina-nos a ler para além do discurso neste tempo em que os valores deixaram de orientar as atitudes...
A cada passo, recebemos notícia de comportamentos desvairados e insensatos que não estimam a vida de quem a vida lhes deu.