6.8.15

Amanhã

Amanhã, a hora de saída do hotel termina ao meio-dia,  porém a partida do aeroporto de Porto Santo é às 23 e 55... 
Nesta terra, onde raramente chove, parece que a chuva vai surpreender os portossantenses e os forateiros, como eu... 
De acordo com a pesquisa efetuada, o aeroporto pouco oferece aos viajantes, como tal é preciso ter alguma imaginação para ocupar o tempo, sem falar da necessidade de encontrar um lugar para guardar as malas...
E claro vai ser necessário recorrer aos táxis, pois, quanto a transportes públicos, ainda não percebi se existem... Descobri, no entanto, que na ilha há um condutor mais ou menos omnipresente, taciturno, mas simpático.
O lugar oferece um clima apetecível, águas quentes, praias extensas, apesar de rochosas nalgumas zonas.  Quanto à organização, Porto Santo parece entregue aos empreendimentos turísticos e a alguns empreendedores privados que beneficiarão da proteção laranja... A proteção é extensiva! (Por agora, só ficam de fora as rolas..., consta que, em tempos, a moléstia terá acabado com os coelhos, mas deve ser engano...)
Finalmente, dado não desprezível, a imprensa do Continente só chega a Porto Santo a desoras. Por exemplo, a revista VISÃO só chegará amanhã, 6ª feira, depois das 18 horas.

5.8.15

Apesar do tempo ser de férias...

Apesar do tempo ser de férias, voltei a ler um livro que, por razões académicas, já lera em julho de 1994: Le Réveil des Nationalismes Français, de Gilles Martinet.

Escrito com uma clareza assinalável, este ensaio aborda de forma pertinente a diferença entre o patriotismo e o nacionalismo, no âmbito da tradição francesa, e, sobretudo, em relação ao projeto europeu - federalista ou mosaico de pátrias...

Já decorreram 21 anos, no entanto, a maioria das ideias revela-se certeira, neste tempo de indecisão e, particularmente, de construção de uma Europa cada vez mais alemã...
Gilles Martinet enuncia os desafios, alerta para os perigos e, finalmente, mostra que o caminho pode ser de irremediável decadência se a Europa se deixar arrastar pelos nacionalismos identitários e outros...
Neste tempo de férias, os candidatos a deputados bem poderiam ler esta obra, porque "Si le patriotisme, est comme on le dit, l'amour des siens, le nationalisme se nourrit de la haine, du mépris ou encore de la peur des autres."

4.8.15

Do estado arenoso ao gasoso

Pela manhã, as nuvens ameaçam, mas o sol rapidamente põe cobro à ousadia.
Consta que pouco chove em Porto Santo. Talvez a culpa seja dos picos que não chegam aos 400 metros, se medidos a partir da linha de água. 
De facto, uma simples caminhada pela ilha põe a nu a aridez da terra, embora as  instalações turísticas pareçam dizer que o que há mais é água...
(...) 
A manhã começou e acabou na praia: uma longa caminhada - a parte que me faltava para calcorrear todo o areal; um banho para comprovar que a temperatura oceânica pode, em certos momentos, superar a da terra.

Na praia, não pude deixar de reparar no predomínio da cor laranja... e no ritual coletivo da elevação e do agachamento. Por momentos, ainda pensei que estivesse a avistar algum grupo de magrebinos...

3.8.15

Um dia em Porto Santo


Da multiplicidade de estímulos que carregam os sentidos e que facilmente podemos colocar, por exemplo, no Facebook, ou atirar para o arquivo digital, sobram-me, afinal, as imagens que, aqui, registo. 
São de outro tempo, mas ainda moram no imaginário popular... 
E com isto quero dizer que as reações necessitam de tempo, caso contrário não chegam a afectar a alma, nem a individual nem a colectiva...
Do tempo aqui vivido pouco sobrará, ao contrário do que terá acontecido com Cristóvão Colombo pois, segundo reza a lenda, foi em Porto Santo que aperfeiçoou a arte de marear... 

2.8.15

Pela atenção que dá à areia...

Curvado, o homem caminha, em equilíbrio precário. Será do peso da mochila ou dos sapatos?
Pela atenção que dá à areia, que vai calcando, tudo parece indicar que o seu único objetivo é não sair da linha que lhe foi traçada - parece que a não quer perder!
Para trás, vão ficando sulcos, e pontos que já não são seus. Talvez sejam vestígios de outros seres à espreita de uma oportunidade.
E esse é certamente o maior problema: há cada vez mais seres que ou nunca têm uma oportunidade ou, pelo contrário, desperdiçam todas as oportunidades de que dispõem.  

1.8.15

Em Porto Santo


497 anos depois de João Gonçalves Zarco e de Tristão Vaz Teixeira, cheguei a Porto Santo. Do que vi até ao momento, a paisagem é o reflexo da típica falta de ordenamento do génio português. 
Hoje, embora repetindo o percurso por caminhos diferentes, caminhei durante três horas e o que mais me chamou a atenção foi a estátua de Cristóvão Colombo. Pareceu-me um tanto efeminado. Vou ter de descobrir quem é que o imaginou e esculpiu... Será vingança?
Em Agosto, Porto Santo parece ser terra de muito ruído! Não faltam os aceleras...
E o negócio, pelo menos para o Pingo Doce, deve ser interessante. Às 15 horas, abarrotava...

31.7.15

O Adamastor e a formiga


Pedra disforme, observa o Tejo, mas não enxerga mais as naus. Cercado de arame farpado, como se ainda pudesse incomodar, o Adamastor já só avista a ponte que une e não separa... 
A verdade é que gosto mais das formigas que, indiferentes aos pés que as podem calcar, carregam tudo o que as possa alimentar quando a penúria chegar...
Por perto, as cigarras... até eu, que compreendo a ansiedade do Adamastor, pareço a cigarra popular. 
Na minha aldeia, havia formigas e cigarras, porém nunca encontrei o Adamastor dos Oceanos... apesar de não faltarem por lá uns tantos colossos...